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Soluções para mobilidade urbana são foco de estudos da pós-graduação
O tráfego das pessoas é uma questão significativa para quem vive em grandes cidades. Congestionamentos, falta de vagas, poluição, atropelamentos são alguns dos temas evocados quando se pensa mobilidade urbana. O segundo dia do seminário A pós-graduação e o desafio das metrópoles promovido pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) na quinta-feira, 10, tratou desse tema em uma mesa-redonda sobre circulação e mobilidade no espaço metropolitano. Ao final, os palestrantes deixaram claro a necessidade de uma abordagem multidisciplinar do tema.
A professora Maria Leonora Maia, da Universidade Federal de Pernambuco, explicou como nos últimos dez anos ocorreu uma “explosão da mobilidade” nas grandes cidades brasileiras: se viaja mais, para cada vez mais longe e de maneira individual. Os poucos investimentos em transportes nao-motorizados e públicos podem levar, para a especialista, a uma “imobilidade” das metrópoles.
“Os congestionamentos são cada vez mais frequentes. Promovemos um estilo de vida dependente do automóvel. Em algumas cidades, chega-se a ter dois habitantes por veículo. Um aumento do número de automóveis maior que o próprio aumento da população”, explica a professora.
Segundo Maia, a mobilidade se comporta de forma distinta para diferentes classes sociais, quanto mais alta maior o índice do uso do transporte privado. “A carência de transporte público reforça a exclusão da população pobre e incentiva as viagens de automóveis de quem o possui, trocando viagens curtas a pé e de bicicleta por locomoções de carro”, afirmou.
Quarta dimensão
Para o professor de engenharia da Universidade de Brasília (UnB), André Assis, uma das soluções para a questão da mobilidade está na quarta dimensão das cidades: o espaço subterrâneo, que traz uma série de desafios tecnológicos. O palestrante trouxe exemplos de estações multimodais japonesas com trens subterrâneos e superfície ajardinada, sistema integrado de preços e que deixam a superfície apenas para atividades consideradas mais nobres como moradia e lazer.
“Os centros das grandes cidades foram destruídos para criar espaços de armazenamento. Não faz sentindo um edifício-garagem na área mais nobre e viva de uma metrópole. Temos que revitalizar isso, recuperar o centro”, afirmou Assis. Segundo o professor, o espaço subterrâneo possibilita isso, se aliar conhecimento de projeto com tecnologia apropriada para os planejamentos urbanos.
Os serviços de utilidades públicas e transportes devem ser predominantemente subterrâneos, de acordo com o professor da UnB, assim como os transportes de massa e vias expressas. O palestrante mostrou exemplos de praças na França e vias nos Estados Unidos, em que boa parte do viadutos foram transformados em parques. Apresentou, ainda, diferentes métodos construtivos e as nova técnicas tuneleiras que constróem de maneira 100% subterrânea.
Multidisciplinaridade
Outro ponto destacado por André Assis foram os múltiplos estudos que envolvem a análise da mobilidade urbana. “Envolvemos aspectos geológicos, de engenharia, arquitetônicos, jurídicos e econômicos. No caso de túneis, por exemplo, há de se pensar a questão ambiental do deslocamento do material escavado e dos lençóis freáticos, a questão da volorização imobiliária e do comércio local, assim como estudos de psicologia, com cuidados com iluminação”, afirmou.
A professora Maria Leonora Maia também apontou que os estudos sigam essa interdisciplinaridade. De acordo com a professora da UFPE, falar de mobilidade e circulação é tratar de consumo do espaço que dá acesso as atividades distribuídas no território. “Por isso é importante trabalharmos de de maneira multidiciplinar, pois o transporte é de pessoas e assim envolve questões ambientais, sociais, econômicas”, concluiu.
A relatora da mesa, professora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), destacou a necessidade das diversas áreas do meio acadêmico se unirem para resolver esse problema. “A tônica geral é que precisamos ser mais criativos. Precisamos de soluções que dêem um salto nas proposições e pensamentos. Isso a universidade e os pesquisadores fazem muito bem, temos o ambiente propício para isso. As cidades precisam ser reformuladas e a universidade precisa ser mais proativa”, concluiu.
Planejamento Urbano
Os debates continuaram com a última mesa de apresentação do seminário, sobre Ordenamento do Território Metropolitano: Tecnologias, Urbanismo e Habitação. A professora da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM), Nadia Somekh, apresentou estratégias para se pensar o projeto urbano como convergência de diversos fatores como mobilidade, segurança, habitação. Ela apresentou o conceito de “cidade criativa” com exemplo de antigas fábricas na Europa transformadas em espaços para pequeno e micro empresas e de “cidade compacta”, com utilização mais racional de recursos naturais e diminuição de desperdícios.
O professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Gilberto Corso Pereira, apresentou novas tecnologias, que estão sendo desenvolvidas no laboratório de Arquitetura da UFBA, e mostrou exemplos de projetos recentes desenvolvidos lá. Iniciativas de apoio à prefeitura de Salvador, que utilizam tecnologias de geoprocessamento, como GPS, cartografia digital, modelo digital de terreno para gerar informação com funções estatísticas e gráficas e promover projetos de habitação de interesse social.
Seminário
O seminário A pós-graduação e o desafio das metrópoles teve como objetivo discutir o papel e as ações da pós-graduação brasileira para a melhoria da qualidade de vida nas metrópoles. O evento abordou cinco temas desenvolvidos por pesquisadores da pós-graduação brasileira com atuação direta nas áreas de segurança; engenharia urbana (saneamento e problemas ambientais); mobilidade e transportes; gestão metropolitana; e ordenamento do território (habitação e urbanismo), moderados pelos coordenadores de áreas da Capes envolvidas com as pesquisas apresentadas.
Veja o que já foi publicado sobre o seminário:
Representantes de cursos de PG debatem segurança nas grandes cidades
Capes, CNPq e cursos pós-graduação se articulam em busca de soluções aos desafios das metrópoles
Seminário discute problemas das grandes cidades