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Science publica estudos sobre óleo nas praias brasileiras
Biólogo e mestre em Ciências Marinhas Tropicais pela Universidade Federal do Ceará (UFC), doutor em Geociências pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), com pós-doutorado na Universitat Autònoma de Barcelona, Marcelo Soares é um dos autores de dois estudos sobre o impacto do derramamento de óleo nas praias brasileiras. Apoiados pela CAPES, os artigos foram publicados na última sexta-feira, 10, na revista científica norte-americana, Science .
Fale um pouco sobre o seu trabalho.
Ele representa os primeiros trabalhos científicos sobre o derrame de óleo na costa brasileira sob os aspectos social, econômico, ecológico e político. Com isso, publicamos dois trabalhos na
Science
, que é uma das maiores revistas científicas do planeta. No
primeiro trabalho
nós descobrimos que este derrame é o mais extenso (mais de 3 mil km) e severo desastre ambiental já ocorrido, na história da humanidade, nos oceanos tropicais. Já ocorreram outros grandes impactos causados por óleo, porém em regiões temperadas de países desenvolvidos ou com menor extensão geográfica e alta frequência, como na Nigéria. Além disso, no nosso caso, foram diversos ecossistemas tropicais afetados, como bancos de rodólitos, bancos de gramas marinhas, manguezais, estuários, praias e recifes de corais. Detectamos também que o óleo já atingiu mais de 40 unidades de conservação. Todos estes ecossistemas têm um capital natural com grande oferta de bens e serviços ambientais à nossa sociedade, como geração de alimento, captura de carbono, regulação do clima, manutenção da biodiversidade e controle de poluição.
O segundo trabalho na Science foi liderado pelo Prof. Paulo Horta, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), e participei de uma equipe de pesquisadores do Brasil e Exterior chamando atenção para os impactos do óleo nos bancos de rodólitos. Estes ecossistemas marinhos são compostos principalmente por algas calcárias, sendo abundantes na costa brasileira e com uma área aproximada de 229 mil km². Tratam-se de ambientes que, apesar de importantes pela diversidade biológica e presença de espécies de valor econômico, seguem sem proteção adequada. É necessário olhar com atenção especial para estes ambientes no fundo do mar.
O que motivou a sua pesquisa?
Os impactos sociais, ecológicos e econômicos decorrentes dos derrames vão durar por décadas. É falso achar que retirando o óleo da praia está tudo limpo e sem impactos na saúde pública, na economia e na biodiversidade. Nossas pesquisas publicadas na Science foram para chamar a atenção, no Brasil e no exterior, das ONGs, empresas, dos governos e da sociedade sobre esta situação. É fundamental alocar recursos para pesquisa e direcionar políticas públicas para esta situação. A ciência deve ser a base das políticas públicas.
Qual a importância do seu trabalho para a realidade brasileira?
O trabalho é importante porque vamos precisar de articulação nacional e internacional, participação democrática, apoio às comunidades atingidas, como os pescadores, e muita pesquisa científica de qualidade para entender os impactos deste derrame de óleo no Brasil, bem como para promover ações de reparação de danos, monitoramento e recuperação dos ecossistemas impactados. Além disso, nós temos alto risco de novos derrames deste tipo na costa brasileira nos próximos anos. Isto decorre do fato de termos muitos naufrágios antigos, como os ocorridos na Segunda Guerra Mundial, do aumento do fluxo de embarcações no Atlântico Sul levando óleo e a exploração de petróleo em águas profundas. Estas três situações criam riscos e o trabalho ajuda a fazer uma análise crítica para enfrentar novos e prováveis derrames. O trabalho é importante para alertar sobre a importância de se estar preparado para uma emergência deste porte.
O que ela traz de novo?
Ela traz uma discussão sobre esta situação inédita que vivemos em 2019 e ainda estamos vivendo em 2020, já que continua chegando óleo em várias regiões do Brasil. Além disso, este óleo se fragmentou e possui vários componentes invisíveis a olho nu e com alto potencial de impacto econômico, ecológico e para a saúde pública nas próximas décadas.
Qual a importância do apoio da CAPES?
A CAPES tem um apoio imprescindível. Ela tem financiado ações de internacionalização nos últimos anos, como a Escola de Altos Estudos, professores visitantes do e no exterior e, atualmente, o
CAPES-PRINT
, que é fundamental para melhoria da qualidade da nossa produção científica, intercâmbio de pesquisadores e formação dos nossos alunos. Muitos dos autores estrangeiros da Itália, Espanha, Portugal, Alemanha e Inglaterra nestes nossos artigos na Science são parte do projeto CAPES-PRINT. A produção científica brasileira vem das universidades públicas e é de qualidade, como estes nossos artigos na Science demonstram claramente. Gostaria de deixar claro que a CAPES não tem gasto, e sim investido. O recurso que ganhamos da CAPES para estas parcerias nós trazemos de volta com a aprovação de projetos com a Europa que trazem recursos de maior vulto para o Brasil. Eu mesmo sou professor da UFC e irei pela CAPES como professor visitante na Europa em 2020 visando ampliar as parcerias e buscar recursos para pesquisa. Nós teremos várias oportunidades de financiamento internacional pela década dos Oceanos que vai de 2021 a 2030. Além disso, estes financiamentos da CAPES ajudam a colocar o Brasil no lugar que ele merece: na elite da ciência mundial, o que gera vantagem competitiva e melhoria das políticas públicas.
Quais são os próximos passos?
Nós temos uma rede de pesquisas com outros cientistas brasileiros e do exterior e pretendemos monitorar os ambientes impactados bem como a situação das comunidades atingidas. Espero contar com a destinação de recursos financeiros nacionais e internacionais para a pesquisa para que possamos entender melhor estes impactos e dar as respostas que a sociedade quer. Além disso, sob a coordenação do Prof. Rivelino Martins Cavalcante, do Instituto de Ciências do Mar (LABOMAR) da UFC, em parceria com o Instituto de Oceanografia norte-americano, Woods Hole, estamos finalizando novos artigos sobre a origem do óleo e isto vai ajudar a identificar um culpado.
(Brasília – Redação CCS/CAPES)
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