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Revestimento biotecnológico protege e conserva frutas
Nutricionista graduada, mestre e doutora em Nutrição pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Kataryne Árabe Rimá de Oliveira ganhou notoriedade como uma das inventoras de um revestimento biotecnológico que serve para proteger e conservar frutas, feito à base de quitosana e de óleos essenciais de hortelã-pimenta ( Mentha spp.). Além de promover o controle de fungos de maneira ecológica, o novo material surge como uma alternativa sustentável diante dos fungicidas sintéticos, amplamente utilizados na produção rural. A pesquisadora ajudou a criar o revestimento durante seu trabalho de doutorado, juntamente com as pesquisadoras Priscila Oliveira e Lúcia Berger e os professores da UFPB Evandro Souza, Ingrid Guerra e José Maria Barbosa Filho, respectivamente dos departamentos de Nutrição, Gastronomia e Ciências Farmacêuticas. Atualmente, Kataryne cursa pós-doutorado no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Nutrição, também na Universidade Federal da Paraíba.
De onde nasceu a ideia de criar um revestimento natural para proteger frutas?
Frutos caracterizam-se como alimentos suscetíveis à ação de diferentes agentes de deterioração e infecção, além de serem acometidos por alterações fisiológicas que influenciam no processo de amadurecimento e apodrecimento, especialmente na fase pós-colheita, o que causa expressivas perdas para o setor da fruticultura. Nesse contexto, os revestimentos surgem como tecnologia alternativa para proteção das frutas contra os fatores externos, com consequente extensão da vida de prateleira, visando à manutenção dos parâmetros de qualidade durante o período de transporte e comercialização.
Qual a vantagem deste novo material em relação aos produtos já existentes?
A aplicação de fungicidas sintéticos ainda é uma medida de controle importante, contudo o seu uso expressivo tem sido relacionado com impactos negativos sobre a saúde humana e o meio ambiente, por causa da aguda toxicidade e do longo período de degradação, o que tem gerado preocupação na comunidade científica e nos consumidores. Por serem produzidos com substâncias naturais, além de impactarem positivamente nas características de qualidade físico-químicas e sensoriais, os revestimentos biotecnológicos podem também apresentar potencial antimicrobiano de amplo espectro. Tais revestimentos influenciaram na proteção dos frutos contra doenças pós-colheita, o que os caracteriza como alternativa biológica e viável frente ao uso dos fungicidas sintéticos.
De onde surgiu a ideia de se usar a quitosana e a hortelã como base do novo revestimento?
Os revestimentos podem ser elaborados com diferentes constituintes, dentre eles substâncias com propriedades antimicrobianas, buscando, não só a proteção física, mas também a capacidade de controlar o desenvolvimento de doenças que alteram a qualidade das frutas. Desses, a quitosana se destaca como substância biodegradável que, além da atividade antimicrobiana, também é capaz de formar gel, o que possibilita seu uso como revestimento. Esse polímero também pode ser incorporado em outras substâncias fungicidas, visando melhorar sua efetividade, com redução das doses aplicadas. Nesse caso, pode-se enfatizar o óleo essencial de hortelã, que apresenta comprovada eficácia no controle de micro-organismos patogênicos e deteriorantes de importância para diversas espécies frutíferas, sendo facilmente encontrado em hortas das regiões.
Como a nova tecnologia foi criada?
Os resultados que demonstraram a efetividade dos revestimentos para melhoria da qualidade pós-colheita das frutas são provenientes de trabalhos desenvolvidos em projetos de tese dos Programas de Pós-graduação em Ciências da Nutrição da UFPB e do Programa de Pós-graduação em Nutrição da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), sob orientação do professor Evandro Leite de Souza. Tais trabalhos, incluindo o meu, foram realizados entre os anos de 2012 e 2018 junto ao Laboratório de Microbiologia e Bioquímica dos Alimentos (LMBA), ao Departamento de Nutrição e ao Centro de Ciências da Saúde, da UFPB, tendo sido obtidos resultados satisfatórios que geraram publicações de alto impacto.
O uso do revestimento é apenas para frutas ou ele pode ser usado par outros alimentos?
Os revestimentos comestíveis naturais podem ser aplicados em diferentes produtos alimentícios, tais como carnes processadas e queijos. Contudo, a ênfase desse produto foi a aplicação em frutas climatéricas como, por exemplo, a manga, a uva, a banana, o mamão e a goiaba, que se caracterizam por continuarem o processo de amadurecimento mesmo depois de serem colhidas.
Ele também aumenta a durabilidade dos alimentos?
Um dos principais objetivos da tecnologia desenvolvida é desacelerar o processo de amadurecimento e senescência das frutas, o que reflete diretamente no prolongamento da vida do alimento na prateleira. Isso se torna uma característica de grande importância, pois a maior parte do mercado consumidor desses produtos fica distante dos locais de produção.
Este material pode ser considerado um produto ecológico?
Sim! Todos os materiais utilizados para a formulação dos revestimentos são caracterizados como substâncias naturais, não tóxicas, biodegradáveis e possuem o status de “Geralmente Reconhecido como Seguro” (GRSA) pela
Food and Drug Adminstration
(FDA/EUA), sendo um importante aspecto também aplicado ao mercado nacional.
O revestimento já foi patenteado?
Sim.
A patente foi depositada no dia 10 de novembro de 2016, publicada em 29 de maio de 2018 e concedida em 05 de outubro de 2021, tendo prazo de validade de 20 anos, a partir de 10 de novembro de 2016. Esse é um fator muito importante, pois mostra que a tecnologia possui relevância comercial e industrial, além de comprovação científica.
Você está atualmente em pós-doutorado na UFPB. O seu trabalho dá sequência a essa inovação ou segue abre uma nova linha de pesquisa?
Permaneci no trabalho de pesquisa com revestimentos comestíveis para frutas, mas os constituintes foram modificados, visando o desenvolvimento de uma tecnologia de biocontrole de doenças pós-colheita, com o uso de bactérias ácido-láticas com potencial probiótico.
Qual a contribuição da CAPES para sua trajetória acadêmica?
Todo o percurso para o desenvolvimento de uma pesquisa precisa de incentivos e investimentos financeiros, incluindo a concessão de bolsas de estudos que possibilitam a permanência do discente no meio acadêmico. Além disso, o reconhecimento dos esforços mediante premiações também é valoroso para o empenho de buscar a melhor qualificação.
Legenda das imagens:
Banner:
Frutas revestidas durante o estudo
(Foto: Arquivo pessoal)
Imagem 1:
Sequência de fotos mostra processo de preparação da fruta para aplicação da película por meio das etapas de imersão, tempo de ação, retirada e revestimento
(Foto: Arquivo pessoal)
Imagem 2:
Kataryne Oliveira ajudou a criar o revestimento durante seu traballho de Doutorado na UFPB
(Foto: Arquivo pessoal)
A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) é um órgão vinculado ao Ministério da Educação (MEC).
(Brasília – Redação CCS/CAPES)
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