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Rede formada pelo PrInt faz avançar ciência marinha
Camila Domit formou-se em Ciências Biológicas na Universidade Estadual de Londrina (UEL), fez mestrado em Zoologia com bolsa CAPES na Universidade Federal do Paraná (UFPR) e, agora, compondo o Programa Institucional de Internacionalização ( CAPES-PrInt ) participa de redes internacionais de conservação da biodiversidade marinha. Atualmente, como coordenadora do Laboratório de Ecologia e Conservação da UFPR (LEC/UFPR), lidera o projeto “Paraná pela Década do Oceano” aprovado no edital MCTI/CNPq.
Como é esse trabalho?
O CAPES PrInt está ativo desde 2018. Em 2019, pela “Rede de internacionalização em biodiversidade e meio ambiente: ameaças e conservação da biodiversidade” (
Ribima
), participei de uma missão na Universidade Estadual da Flórida (
Florida State University
- FSU), abordando a conservação de tartarugas marinhas e avaliação de impactos cumulativos em animais marinhos. O objetivo era consolidar uma melhor compreensão e modelagem dos eventos associados às alterações na biodiversidade marinha, à conservação dos animais e dos seus
habitats
, à gestão e à sustentabilidade dos recursos naturais, avaliando desde o nível das respostas individuais adaptativas até os níveis ecossistêmicos e dos sistemas socioecológicos. Na FSU trabalhei com a Dra. Mariana Fuentes, com quem tive a oportunidade de desenvolver trabalhos em parceria nas Bahamas, na Austrália e, aqui, no Brasil. Aproveitei as múltiplas experiências desta pesquisadora e da equipe da FSU para elaborar trabalhos comparativos e de amplo espectro espacial para entendimento de parâmetros ecológicos de tartarugas marinhas e quando voltei, fortalecemos novas áreas de pesquisa ao laboratório na UFPR. Passamos a trabalhar com mais ênfase na avaliação de impactos cumulativos à megafauna marinha.
Ainda pelo PrInt, em 2022, participei de outra missão, em Portugal, dessa vez na Universidade de Lisboa (Faculdade de Ciências), assim como dialoguei sobre parcerias com o Instituto Universitário de Ciências Psicológicas, Sociais e da Vida (Ispa) e Universidade Nova de Lisboa, sendo todas as colaborações voltadas para a promoção de estudos na área de avaliação de risco ambiental, utilizando parâmetros químicos, físico-químicos, biológicos e sociais integrados em diferentes matrizes e compreendendo os efeitos potenciais na biota, nos serviços ecossistêmicos e nas populações humanas. Lá, pela Ribima e pela Rede de Monitoramento e Modelagem Ambiental ( REsMA ), promovemos novas discussões no âmbito da Década do Oceano, inciativa global coordenada pela Unesco para fortalecimento da ciência marinha em prol do desenvolvimento sustentável (Agenda 2030). A principal parceria foi com o renomado professor e cientista na pesquisa marinha Dr. Rui Rosa, um dos coordenadores da Rede Mare ( https://www.mare-centre.pt/pt/mare ). Em viagem ao Brasil, para participar de um workshop na UFPR, assumiu a coorientação de uma das mestrandas da equipe do LEC/UFPR, que trabalha com tubarões no oceano Atlântico, bem como compôs o comitê orientador de outros alunos da equipe.
As pesquisas no âmbito do CAPES-PrInt, além de trazerem forte avanço para a ciência, também apoiam as políticas públicas ambientais, incluindo respostas às ações prioritárias dos planos nacionais de espécies ameaçadas. Conseguimos avançar em diversas políticas de proteção e monitoramento da biodiversidade, tanto as nacionais como aquelas vindas de recomendações de convenções e tratados internacionais, contribuindo também com o desenvolvimento tecnológico, de abordagens metodológicas e analíticas, na divulgação cientifica e fortalecendo a tríade ciência-sociedade-governo.
Qual a relevância da sua pesquisa?
A pesquisa na área da ecologia tem sua relevância intrínseca por permitir conhecermos e caracterizarmos a nossa biodiversidade, mas é também uma importante ferramenta para conseguirmos ponderar os nossos desejos econômicos e aflições sociais com a nossa necessidade de alinhamento com a conservação do ambiente e os recursos naturais. O foco das pesquisas realizadas está nas espécies sentinelas marinhas, como tartarugas, golfinhos e elasmobrânquios. Eles têm a possibilidade de alertar sobre a qualidade e condição de saúde do ambiente. Por exemplo, eu trabalho com golfinhos que comem as mesmas espécies de peixes que os humanos. Quando monitoro níveis de contaminação, doenças emergentes, estresse e alterações imunológicas nestes animais, eu consigo trazer um olhar sistêmico e alertar a sociedade quanto às alterações e danos ambientais que nossas atividades têm causado. Em outro exemplo, analisando as tartarugas marinhas, vemos, aqui no Paraná, um dos maiores índices de ingestão de lixo do mundo. E quando a gente olha esses altos índices de ingestão de lixo que vem do continente (mais de 70% vêm do continente), isso soa um alerta sobre o que estamos fazendo com nossos resíduos e quanto temos e precisamos avançar em junto ao Plano Nacional de resíduos ou ao Plano Nacional de combate ao lixo do mar.
Além disso, nós fazemos pesquisa alinhada às demandas dos governos federal, estaduais e municipais, sempre fortalecendo o olhar no contexto de saúde única, no entendimento de que as alterações ambientais e nas populações da fauna marinha refletem diretamente na saúde humana e na qualidade dos ambientes a longo prazo. Os projetos e ações de comunicação realizadas trazem múltiplos alertas para sociedade, mas, também, construímos espaços para que, de forma participativa, possamos encontrar caminhos e soluções para os impactos no ambiente.
Para avançarmos rumo a caminhos melhores, precisamos de mais diálogo entre ciência e sociedade; precisamos aproximar o diálogo e somarmos força para superarmos os desafios da integração dos múltiplos interesses sociais-econômicos-ambientais. É aí que entra o nosso mais novo projeto: a Coalizão Paraná pela Década do Oceano que propõe esse olhar conjunto, integrador, mais sistêmico.
E se esses animais sumirem do planeta, o que muda para nós, humanos?
Se esses animais forem extintos, perdemos espécies, linhagens evolutivas, diversidade, perdemos várias vidas, mas também perdemos componentes muito importantes da nossa rede trófica, da nossa teia alimentar. Esses elementos podem ser substituídos por outros, mas a funcionalidade ecossistêmica desses animais não tem como substituir. A dinâmica ecológica em que esses animais estão inseridos não tem como ser substituída. Em termos sociais, econômicos e ambientais, na tríade da sustentabilidade, isso significa que a gente perde em termos de serviços ecossistêmicos, de produtividade pesqueira; perde-se em capacidade de regulagem climática, de ciclagem de nutrientes. Estas perdas são de curto e longo prazo e ainda são múltiplas e cumulativas, sendo estas significativas em termos de um ambiente que nos dê a condição de sobrevivência com qualidade – à nós humanos e a toda biodiversidade.
Qual a importância da CAPES na sua trajetória?
Além da oportunidade de realizar o mestrado na linha que sempre sonhei, trabalhando com a conservação marinha, eu, que sou de Londrina, cidade do interior pude ir ao campo, fazer coletas, conviver com quem já tinha experiência na área e me ajudaram nesta caminhada. A bolsa do mestrado foi fundamental para oportunizar tudo isso, foi minha base financeira para que conseguisse começar a construir a carreira dedicada à vida marinha que venho trilhando há mais de 20 anos. Mais atual, o CAPES Print foi essencial para a estruturação desta carreira, nessa fase mais madura profissional para garantir qualidade à ciência brasileira e contínuos avanços as nossas abordagens analíticas e no olhar das perguntas científicas mais urgentes.
Além disso, na minha equipe, os recursos providos pela CAPES permitiram a consolidação e oportunidades de vários dos meus alunos fazerem doutorado-sanduiche fora do Brasil, alinhavando as parcerias que eu comecei, mas que precisam ser alimentadas e fortalecidas por novos projetos. Tenho orgulho de ver os meninos e as meninas daqui deslanchado, fazendo pesquisa de qualidade, de alto nível e dialogando com pesquisadores do mundo todo. Acho que a CAPES tem esse papel de oportunizar esta evolução conjunta e contínua da ciência.
Legenda das imagens:
Banner e imagem 1:
Camila Domit é coordenadora do Laboratório de Ecologia e Conservação da UFPR (LEC/UFPR)
(Foto: Arquivo pessoal)
Imagem 2:
Equipe do Laboratório de Ecologia e Conservação da UFPR em atendimento a animal marinho
(Foto: Arquivo pessoal)
Imagem 3:
Camila Domit acompanha tartaruga marinha
(Foto: Arquivo pessoal)
A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) é um órgão vinculado ao Ministério da Educação (MEC).
(Brasília – Redação CGCOM/CAPES)
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