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Proteína do bicho-da-seda vira material para enxerto ósseo
Engenheira de Materiais formada pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), Daniela Vieira é mestre em Bioengenharia pela Universidade de São Paulo (USP), onde desenvolveu o enxerto ósseo feito a partir de uma proteína encontrada no casulo do bicho-da-seda.
Fale um pouco sobre o seu trabalho.
Desde a minha graduação trabalho na área de biomateriais. Comecei em 2010 com iniciação cientifica na área de materiais ósseos, depois fiz a minha tese de graduação na obtenção de nano celulose (macromolécula natural) de paineiras (árvore brasileira). A minha tese de mestrado foi a união das duas experiências, envolvendo o uso de macromoléculas naturais para o desenvolvimento de enxertos ósseos.
Como se deu seu interesse em trabalhar com o assunto?
Meu interesse vem das minhas experiências anteriores durante os projetos de iniciação cientifica. Porém, a ideia de melhorar a qualidade de vida das pessoas através da engenharia de materiais foi a maior motivação pessoal para atuar na área médica e de saúde.
Qual o objetivo da pesquisa?
O objetivo da pesquisa é desenvolver um enxerto ósseo, com as características químicas e físicas similares ao osso, criando um material sintético que seja um substituto ósseo excelente. Para que isso ocorra, utilizamos fibroína de seda (proteína que vem do casulo do bicho-da-seda) para conferir resistência mecânica para esses enxertos. Usamos um material natural, biocompatível, biodegradável e ao mesmo tempo forte.
Quais são os benefícios e as desvantagens do uso de um material sintético?
O material sintético ao invés do natural (osso humano, bovino ou de outros animais) possuí as seguintes vantagens: alta disponibilidade e diminuição da contaminação por material genético, além de evitar a morbidade associada com a coleta de ossos (quando a fonte é o mesmo corpo). Já as desvantagens são: dificuldade de apresentar exatamente as mesmas propriedades físicas como porosidade e resistência mecânica do osso humano que estará diretamente ligado à migração celular e à formação do novo tecido ósseo.
Qual a importância do seu trabalho para a realidade brasileira?
Muito importante! Estamos falando de uma tecnologia acessível em termos de disponibilidade de produtos e financeiros. A produção dos novos enxertos reduz em aproximadamente 25% o valor dos procedimentos padrões que utilizam altas temperaturas. Ademais, a produção de fibroína de seda no Brasil é alta e funcionaria como uma excelente fonte de matéria prima, movimentando não só o mercado médico, mas também a agricultura.
E no âmbito internacional?
A população mundial está crescendo em ritmo acelerado. Com isso, novas doenças e acidentes crescem em paralelo. Por isso há a necessidade de se desenvolver novos enxertos ósseos sintéticos e de baixo custo que estejam disponíveis para o uso imediato. Lembrando que enxertos naturais, vindo de outros ossos humanos ou de outras espécies, são uma fonte esgotável e de difícil acesso.
Qual a importância do apoio da CAPES?
Fundamental! Nós pesquisadores vivemos em função dos nossos projetos. São 24h por dia pensando, buscando, entendendo os problemas mundiais e trazendo soluções palpáveis para resolvê-los. O apoio da CAPES é essencial para que os pesquisadores continuem.
Quais são os próximos passos?
A caracterização do material foi completamente feita durante o mestrado. Já temos o material similar ao osso em termos estruturais e químicos. Sabemos que o material é biocompatível e capaz de formar apatita, uma pré-camada do novo osso a ser reconstruído. Agora os testes estão envolvendo a capacidade de proliferação e crescimento celular, e a formação do novo osso, utilizando testes
in vitro
e
in vivo
com células e animais, respectivamente.
(Brasília – Redação CCS/CAPES)
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