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Projeto promove formação em Timor-Leste e recebe prêmios nacionais
O projeto da Universidade de Brasília (UnB) "Cooperação para pesquisa e formação em ciências sociais em Timor-Leste" tem trabalhado para fortalecer a pesquisa na área de ciências sociais por meio da cooperação entre instituições e pesquisadores brasileiros e leste-timorenses e tem recebido reconhecimento nacional pelo trabalho desenvolvido.
Entre os resultados, três produções acadêmicas realizadas no âmbito do projeto foram premiadas recentemente. O filme "Pás ho Dame” recebeu em agosto o Prêmio Pierre Verger 2016, promovido pela Associação Brasileira de Antropologia, na categoria melhor filme etnográfico para o professor Daniel S. Simião. O artigo "O periódico Seara no Timor Português: práticas de mediação e integração institucional pela imprensa católica", de autoria de Alexandre Jorge M. Fernandes recebeu o Prêmio Heloísa Alberto Torres 2016, também oferecido pela Associação Brasileira de Antropologia em agosto. Já em maio, Andreza F. Carvalho recebeu o IV Prêmio Martin Novion de Melhor Dissertação de Graduação à monografia intitulada "Transformações do tais e transformações pelo tais. Entre tecidos tradicionais, mulheres leste-timorenses e conversas com Ofélia".
O projeto recebe recursos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) por meio do Programa de mobilidade acadêmica CAPES/AULP , que incentiva a mobilidade docente e discente internacional entre os países e as instituições participantes da Associação de Universidades de Língua Portuguesa (AULP), com o objetivo de contribuir para a inclusão tecnológica e científica dos países africanos e asiáticos de língua oficial portuguesa.
A coordenadora do projeto, professora Kelly Silva, do Departamento de Antropologia da UnB, destaca a importância do reconhecimento das produções realizadas frente aos significativos desafios enfrentados pelo trabalho “Os prêmios recebidos por professores e alunos envolvidos no projeto tem sido fundamentais para manter o nosso entusiasmo e dedicação na continuidade de nossas pesquisas e formação de novos recursos humanos, as quais demandam investimentos altos. Dadas as características do conhecimento antropológico, professores e alunos que vão a Timor-Leste são obrigadas a aprender ao menos uma das línguas vernáculas daquele país - o que leva tempo. Temos também que angariar recursos para viagens e estadias do outro lado do mundo e investir na formação teórica a respeito de fatos e populações os quais não têm ocupado, tradicionalmente, a agenda de formação de antropólogos no Brasil”, ressalta.
Além disso, Kelly acredita que os prêmios são um sinal da relevância dos estudos antropológicos sobre o Timor. “A premiação de trabalhos realizados por nós e nossos alunos tem indicado que a construção de conhecimentos a respeito de Timor-Leste tem trabalhado para expansão dos horizontes cognitivos das ciências sociais e humanas no Brasil. De fato, temos muito o que aprender ao estudar e analisar as controvérsias que se impõem na negociação da vida social em Timor-Leste. Ela nos fala de fenômenos particulares e universais, a um só tempo”, define.
Cooperação
A professora destaca o caráter de cooperação entre Timor e Brasil presente no projeto. “Temos como objetivo fomentar iniciativas de pesquisa conjunta em torno do tema dos 'usos e costumes' e mecanismos de tradução cultural e institucional, a partir de perspectivas antropológicas, sociológicas e comparativas envolvendo pesquisadores dos dois países e contemplando fenômenos congêneres na Indonésia e Melanésia. Assim, pretendemos viabilizar atividades de formação para pesquisa voltadas a estudantes e jovens pesquisadores leste-timorenses, seja por meio de participação em pesquisa em curso, seja por meio de formação teórica por meio do engajamento em cursos oferecidos pela Universidade de Brasília”, explica.
Kelly Silva se dedica aos estudos no país há mais de uma década e acredita que a cooperação pode promover também um olhar reflexivo sobre o Brasil. “Ao longo dos últimos 15 anos de trabalho em Timor-Leste, alunos e professores envolvidos nas pesquisas que realizamos têm procurado disponibilizar análises que indicam a complexidade das negociações sociais e políticas que estruturam a construção do Estado nacional em Timor-Leste. Claro que esta não é uma característica singular deste fenômeno em Timor. Muitos dos fenômenos presentes em Timor-Leste estão também aqui no Brasil e, portando, nos ajudam a pensar criticamente sobre nossa própria sociedade. O inverso também é verdade. Olhar para fenômenos que ocorrem no interior das fronteiras leste-timorenses a partir do Brasil permite a construção de perspectivas e problematizações particulares.”
A formação de estudantes brasileiros mais conscientes das relações políticas em outros continentes também pode ser um passo importante para a cooperação internacional brasileira, acredita a pesquisadora. “Parte das dinâmicas sociais que ocorrem por lá é produto dos processos históricos particulares às regiões em que Timor-Leste se insere - Sudeste Asiático e Oceania. Assim, os vários livros, filmes, artigos e exposições fotográficas pelos quais divulgamos os resultados de nossas pesquisas trabalham para ampliar os horizontes cognitivos e políticos da sociedade e de seu Estado que, dessa forma, pode atuar de modo mais competente e responsável na construção de ações para cooperação internacional com Timor-Leste e alhures.”
A professora afirma que tem visto essa transformação na sala de aula. “Por exemplo, ao longo dos últimos 10 anos já pude, junto com o professor Daniel Simião, formar um certo número de alunos bastante melhor informado sobre a histórica e as dinâmicas políticas do Sudeste Asiático e da Oceania, assim como a respeito das práticas coloniais portuguesas. Isso pode ter um impacto interessante na dinamização da agenda de pesquisa em Ciências Sociais no Brasil, fazendo-nos menos provincianos”, conclui.
Saiba mais sobre o Pró Mobilidade Internacional Capes e Associação das Universidades de Língua Portuguesa - AULP .
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(Pedro Arcanjo)
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