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Projeto cria código de cores tátil para deficientes visuais
Ao começar o doutorado no curso de Pós-graduação em Engenharia Mecânica da Universidade Federal do Paraná ( UFPR ), na área de Tecnologia Assistiva, Sandra Marchi, desenvolveu uma forma de deficientes visuais identificarem as cores. Seu trabalho transformou algo que é próprio da percepção visual em tátil. Assim surgiu o See Color .
Qual a importância do seu estudo?
A deficiência visual é a que atinge o maior número de pessoas no mundo. Quando a gente fala de deficiência visual, a gente primeiro lembra de uma pessoa cega ou com baixa visão. Entretanto, a maioria não sabe que a cada dez homens, um é daltônico. E eles são tão dependentes quando se trata de cor, quanto qualquer cego. Eles são cegos para cores. E assim, com estes códigos, eu consegui abraçar os cegos e, também, pessoas de visão, mas que não enxergam as cores: os daltônicos. Desenvolvi oito códigos de cores que englobam as cores primárias (vermelho, amarelo e azul), as cores secundárias (laranja, verde e violeta), além das cores neutras branco e preto. No entanto, existe uma variedade de tonalidades que a indústria utiliza. Para tornar esta escolha fácil pensei, então, no nosso dia a dia. Quando a gente abre o armário, o que nos importa é a cor principal da roupa e tonalidade de uma forma muito simples. Por exemplo: a peça é azul vivo, azul claro, bem clarinho ou escuro, ou ainda bem escuro? E assim se dá com qualquer objeto. Quando se trata de cor, essas são as principais informações que as pessoas precisam. Estamos falando de ‘acessibilidade da informação cor’, tão importante no nosso mundo, porque tudo é colorido e, mesmo que uma pessoa não enxergue cor, ela usa cor. Identificar as cores torna as pessoas independentes e capacitadas a fazerem suas próprias escolhas. Uma vez que uma pessoa com deficiência visual (seja cega, com baixa visão ou daltônica) não tem acessibilidade a esta importante informação, ela está excluída da sociedade e sempre dependente de terceiros.
Como foi o processo de estudo e produção desse código?
Eu me baseei em pesquisas anteriores, estudei os códigos desenvolvidos em outros países – eles levavam cerca de três dias para ensinar e a pessoa memorizar – mesmo assim, muitas vezes, ela não memorizava e tinham que ensinar novamente. Então, criei um método mais simples, com três elementos: o ponto, a linha e o relevo. Eu estudei Teoria da Cor e braille e uni ambos neste método. No alfabeto braille a letra “L” são três pontinhos. Um pontinho deixei intacto, dos outros dois puxei uma linha. Ficou igual ao ponteiro de um relógio. Logo descobri que a lógica do relógio é muito utilizada pelo cego: vi uma mãe colocando alimento no prato de um filho e explicando a disposição: “Filho, o feijão está aqui, 12 horas, 3 horas está o arroz, 6 horas está a carne, 9 horas a salada”. Pensei: “Nossa! Deu certo!”. Coloquei o ponteiro do relógio girando no círculo cromático. Colocando o vermelho no topo do círculo, o amarelo do lado direito e azul do lado esquerdo. Assim, as cores claras estão do lado direito, as escuras estão do lado esquerdo. Dentro dessa lógica, eu pensei assim: o código é igual ao ponteiro de um relógio, tem um eixo principal. Pois, se o tom da cor for claro, terá um ponto a mais para o lado direito, e se for bem claro, mais um ponto para o lado direito. Se for o escuro, o contrário: do lado do eixo principal terá um ponto do lado esquerdo, se bem escuro, mais um ponto para o lado esquerdo. Mas, se a cor do objeto for metálica? Um outro símbolo, um semicírculo ao redor do eixo do relógio. E se o objeto for incolor? Como por exemplo um aro de óculos, um pote, um verniz incolor. Para algo incolor apenas um ponto, o eixo do relógio sem o ponteiro (indicador da cor), e uma linha abaixo que acompanha cada código, que serve de localização espacial.
Onde isso se encaixa na Teoria da Cor?
Partindo do pressuposto da Teoria da Cor (cor pigmento) e da importância do estudo das cores primárias, secundárias e neutras, além de me fundamentar no Sistema de Munsell (onde as cores são dispostas de forma tridimensional) juntei as cores primárias e secundárias em triângulos táteis, e as neutras em uma linha tátil, com as cores nas extremidades. Na escala tridimensional de Munsell as tonalidades de cores seguem uma ordem decrescente de cima para baixo, iniciando com as tonalidades claras até chegar as mais escuras, que ficam abaixo. Daí a chegar numa analogia com o relógio foi um passo, onde coloquei as cores da direita para a esquerda, ficando as tonalidades claras nas horas do dia e as escuras nas horas da noite, o que facilitou em muito o entendimento rápido do método e o aprendizado da Teoria da Cor a quem mesmo nunca viu cor.
Qual a diferença e a ligação com o braille?
O braille é um alfabeto e o
See Color
um código. A gente fala que o braille é universal, só que o braille, por ser um alfabeto: cada país tem sua escrita, sua língua. No entanto, o
See Color
, por ser um código, é o mesmo em qualquer lugar do planeta. Então, se na língua portuguesa se fala e escreve “vermelho”, nos EUA “
red
”, no Japão é outro nome, na China é outro. Porém, o código do vermelho será igual em qualquer lugar do mundo. Assim, se você aprendeu o método
“See Color”,
você vai saber ler a cor, vai ter esse acesso a esta informação em qualquer lugar do mundo, pois se utiliza somente de dois elementos gráficos como o ponto e a linha, além de ter relevo. Então, este método é realmente inovador e é para ir para o mundo. É design universal de verdade.
Qual foi a importância da CAPES para essa pesquisa?
Eu devo à CAPES a possibilidade do desenvolvimento deste método. Eu recebi este apoio financeiro desde o começo do meu doutorado, em 2015, até finalizar, em 2019. E foi por causa deste apoio, que é importantíssimo para quem é pesquisador, que criei essa tecnologia que logo vai para o mundo. O nosso objetivo é que tudo que tenha cor traga esta tecnologia e venha com os códigos
“See Color”
.
Legenda das imagens:
Imagens 1, 3 e 4:
Imagens ilustrativas da pesquisa
(Foto: Arquivo pessoal)
Banner e imagem 2: Sandra Marchi, doutora em Tecnologia Assistiva, no curso de Pós-graduação em Engenharia Mecânica da Universidade Federal do Paraná (UFPR)
(Foto: Érica Cidade - CGCOM/CAPES)
A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) é um órgão vinculado ao Ministério da Educação (MEC).
(Brasília – Redação CGCOM/CAPES)
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