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Professor diz que modelo urbano da década de 50 é ainda vigente
O professor da Universidade Técnica de Lisboa, Carlos Correia da Fonseca, um dos expositores estrangeiros do Seminário Internacional A Metropolização Brasileira e os Desafios da gestão Urbana: O Papel da Pós-graduação , argumentou, na manhã de terça-feira, 8, que desde 1950 as sociedades vivem sob o modelo urbano da "cidade do automóvel", com um maior número de viagens, maiores distâncias, baixa densidade populacional e vazios urbanos. Para Fonseca esse paradigma deve ser modificado. "Devemos repensar a cidade que é feita para os automóveis e transformá-las em cidades pensadas para os cidadãos", explicou.
O Painel III - Habitação, Mobilidade e Acessibilidade Urbana” contou com especialistas que articularam sobre a necessidade de interação do conhecimento com políticas públicas e a necessidade de transformação do espaço urbano brasileiro. O debate foi mediado pelo jornalista Julio Moreno, da TV Cultura.
Na apresentação "Dos problemas às Soluções", Carlos Fonseca, também economista de transportes, defendeu que os portadores de automóveis devem pagar pelos custos totais de que são responsáveis e que não costumam ser contabilizados. Entre esses custos estão poluição, congestionamento, mortalidade e emissão de gases. "Os engarrafamentos, por exemplo, são extremamente caros do ponto de vista econômico. Os congestionamentos consomem, em média, por 1% do PIB de cada país", afirmou.
De acordo com o professor português, os custos poderiam ser pagos por meio de sistemas como pedágios e estacionamentos e reinvestidos em políticas de incentivo a transportes coletivos e não-motorizados. "Não queremos acabar com o automóvel, um avanço civilizatório muito importante, mas sim promover seu melhor uso", concluiu.
Qualidade de vida
Nádia Somekh, da Universidade Presbiteriana Mackenzie, fez uma apresentação com os desafios da pesquisa sobre a questão da metrópole contemporânea, mobilidade e habitação. De acordo com Somekh o próprio conceito contemporâneo de metrópole está em questão. "No Brasil, possuímos 38 regiões metropolitanas que pedem essa chancela para disputar recursos, mas não para resolver as questões próprias da organização metropolitana", afirmou.
Para a professora do Mackenzie, a área necessita de mais teorização, legislação e internacionalização."Precisamos da articulação de grandes planos para as cidades, projetos urbanos e ações. Além da questão ambiental, que deve perpassar todos os temas", afirmou. De acordo com Samekh o Brasil, assim como a China, tem seguido os padrões de emissão gases poluentes e de consumo dos Estados Unidos, o que seria insustentável. "Países europeus tem uma tradição de planejamento urbano e busca de qualidade de vida aos cidadãos. No Brasil, ainda estamos confundindo empreendimentos imobiliários com construção de cidades", disse.
Política Urbana
Os desafios da abordagem sobre o tema também estiveram presentes na apresentação do professor da Universidade de São Paulo (USP), Renato Anelli. A exposição iniciou com um panorama histórico do planejamento urbano no Brasil até chegar às conquistas mais recentes como o Ministério das Cidades, as conferências das cidades e a Lei de Mobilidade Urbana. De acordo com o professor, apesar de muito a melhorar existem exemplos bem sucedidos da agenda de mobilidade urbana a partir da segunda metade dos anos 2000, como o combate ao transporte informal, integração por meio de
smart cards
e corredores exclusivos para ônibus.
Para Anelli, a universidade deve pautar a política urbana, pensar mobilidade e meio ambiente e abordar os temas com transversalidade. "A pós-graduação foi criada para estimular o crescimento e, quando esse crescimento acontece, transformá-lo em desenvolvimento social. Estamos nesse momento e esse é um desafio para todos nós", afirmou.
Áreas do conhecimento
Arlindo Philippi Jr, coordenador da área de ciências ambientais da Capes, também destacou a importância do caráter multidisciplinar e da transversalidade do encontro. "Convidamos seis diferentes áreas que avaliam o Sistema Nacional de Pós-Graduação para interagir e pensar coletivamente os desafios da metropolização brasileira, que não cabem somente em uma disciplina. Por isso, nossas abordagens e proposições também devem ser interdisciplinares", afirmou o professor da USP e membro do comitê organizador do seminário.
O coordenador da área de arquitetura, urbanismo e design da Capes, Ricardo Triska, destacou a posição estratégica que tais áreas do conhecimento possuem para pensar questões de mobilidade e acessibilidade urbana. "Devemos integrar o esforço no enfrentamento de problemas e desafios da metropolização brasileira. E faremos isso com propostas de alternativas de processos e materiais, ações positivas e interação com as políticas públicas", afirmou.
O
Seminário Internacional A Metropolização Brasileira e os Desafios da gestão Urbana: O Papel da Pós-graduação
, promovido pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) é composto por seis painéis e discute, até o dia 9 de maio, os problemas e as fragilidades das metrópoles brasileiras, destacando os temas que nortearão as ações da Capes na indução da pós-graduação brasileira.
Acesse o site do seminário e confira a transmissão ao vivo do encontro.
Pedro Matos
Confira o que já foi publicado sobre o assunto:
Papel da pós-graduação é produzir recursos humanos com visão da gestão associada ao planejamento
Propostas contribuirão para dar continuidade à política de indução da Capes