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Processos educacionais são discutidos durante seminário do Prodocência
Os processos educacionais e a criação de novas políticas para este setor foram os assuntos abordados durante a palestra proferida pela pesquisadora colaboradora da Fundação Carlos Chagas Bernardete Gatti. A apresentação foi feita durante a abertura do 1º Seminário Nacional do Programa de Consolidação das Licenciaturas (Prodocência), que acontece nos dias 6 e 7 de outubro no edifício-sede da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), em Brasília. "É um prazer falar com pessoas que estão interessadas em mudar a formação de professores neste país. Atualmente, esta formação se mostra extremamente inadequada, pois ela reproduz um modelo inicialmente instaurado no fim do século XIX e começo do século XX e não sofreu ainda nenhuma mudança estrutural relevante."
Durante seu discurso, Bernardete ressaltou a importância de se discutir as políticas para docência fazendo relação com as perspectivas educacionais. "Não adianta pensar em soluções pragmáticas sem pensar na finalidade. A finalidade deve ser o marco referencial para pensar a formação de professores. O que eu quero da educação básica? O que a nação quer da educação básica? Enquanto não soubermos a resposta para essas perguntas, não vamos conseguir evoluir no setor." Além disso, Gatti se posicionou dizendo que a avaliação da educação não deve ser encarada como uma competição, pois essa competitividade trabalha em desserviço do ensino. "A educação não deve ser vista como competição, mas como promoção humana. Ela é desenvolvimento, alavanca. Portanto, a avaliação deve servir pra alavancar não pra competir. Não podemos perder a noção das finalidades."
Mudanças
Continuando a apresentação, a pesquisadora explicou que, para conseguir fazer uma boa educação básica, o professor precisa compreender a realidade das populações de crianças e jovens que estão demandando uma formação para o seu desenvolvimento e isso não é conseguido durante sua formação nas universidades. "O homem não se desenvolve como os bichos que tem as ações mais ou menos programadas. Temos um chamado 'DNA aberto', 'cérebro aberto', que precisa ser preenchido pelas relações educacionais, seja na família, seja no contexto societário, mas a escola tem um papel fundamental, pois é o único instrumento que temos para passar para essas gerações os conhecimentos básicos que nós consolidamos em todas as áreas e que servirão para nossas vidas."
Bernadete explicou que a situação que o professor enfrenta para exercer uma prática contextualizada, com as especificidades do momento a uma cultura local, a um alunado diverso não é fácil. "A maioria dos licenciandos sai da universidade sem ter ideia do que vai enfrentar no dia-a-dia das escolas."
Estrutura curricular
Durante da explanação, também foi abordada a importância de uma mudança na estrutura curricular dos cursos de licenciatura. De acordo com Gatti, as disciplinas de formação específica não conversam com as disciplinas de formação pedagógica, por isso o aluno não consegue sentir a relação do ele sabe com o que ele poderá fazer na escola – não há ligação do conhecimento disciplinar com o que é demandado na educação básica, a didática, as práticas de ensino. "Isso precisamos renovar. Precisamos de um espaço híbrido e nos perguntar: o que das disciplinas especificas será utilizado? Como motivar os alunos?"
Segundo a pesquisadora, outro espaço híbrido que deve ser revisto são os estágios, pois, em geral, não há controle sobre eles e não existem professores suficientes para fazer a supervisão, como existe em outros países. Bernadete lembrou que o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (Pibid) está resultando em um efeito interessante, pois os bolsistas são acompanhados. "Esse projeto tem um potencial muito grande de mudar essa relação da academia com as escolas, mas é preciso que resultados como o deste projeto sejam expandidos para todo o Brasil."
Encontro
Durante a abertura, a diretora de Educação Básica Presencial da Capes, Carmen de Castro Neves, abordou o desafio da fundação em trabalhar o conjunto de programas voltado à educação básica. Citou os eventos já realizados como os do Plano Nacional de Formação dos Professores da Educação Básica (
Parfor
), que reuniu 278 representantes, do
Pibid
, com 199 representantes, e, até esta sexta-feira, 7, o do Prodocência. Nos dias 8 e 9 de novembro, ainda acontecerá o evento para discutir o Observatório da Educação.
A diretora também apresentou os programas da diretoria e transmitiu a mensagem do presidente da Capes, Jorge Almeida Guimarães, que tratou do entusiasmo da fundação em relação a sua nova missão. "A expansão da pós-graduação no Brasil precisa ser pensada a partir da universalização e da qualidade da educação como um todo, começando na educação infantil e chegando até a pós-graduação."
O diretor de Educação a Distância da Capes, João Carlos Teatini, completou dizendo que a vinda da educação básica para a Capes foi um movimento de colocar toda a respeitabilidade que a Capes, junto com as universidades brasileiras, conseguiu com o ensino superior. "Nós vamos fazer questão de, em todos os locais que tiver algum programa de educação básica fomentado pela Capes, explicitar a marca da fundação, porque isso significa trazer para a educação básica do Brasil todo o arcabouço que a Capes construiu."
Finalizou salientando que a próxima pauta a ser discutida pelo Conselho Técnico-Científico da Educação Básica é como o envolvimento com a formação de professores pode contar na avaliação dos cursos de pós-graduação do Brasil. "Se isso não acontece, as nossas universidades vão continuar no comodismo de apenas produzir papers. É preciso mostrar que vale a pena trabalhar com a formação de professores no Brasil."
Também foi apresentado, no encontro, o coordenador geral de Desenvolvimento de Conteúdo Curricular e Modelos Experimentais da Diretoria de Educação Básica Presencial (DEB), Hélder Eterno da Silveira.