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Pesquisadores brasileiros publicam estudo sobre obesidade infantil
Um educador físico e uma fisioterapeuta, ambos com doutorado em Endocrinologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), e bolsistas da CAPES em diferentes momentos acadêmicos, desenvolveram um estudo que alerta para os riscos à saúde de crianças que ficam muitas horas em frente de telas. Felipe Cureau e Camila Schaan, trabalharam em um estudo que foi publicado no International Journal of Behavioral Nutrition and Physical Activity.
Fale um pouco sobre sua pesquisa.
Cureau: A pesquisa em questão faz parte do Estudo de Riscos Cardiovasculares em Adolescentes (ERICA). O ERICA teve dados coletados entre os anos de 2013 e 2014, envolvendo estudantes (12-17 anos) de todos o país, sendo pioneiro na identificação de alguns dos principais fatores de risco para doenças cardiovasculares nesse segmento. Este estudo teve como principais financiadores a CAPES, por meio de bolsas de pós-graduação, o Ministério da Saúde e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Ao todo, 75 mil adolescentes participaram do ERICA e 36 mil - apenas adolescentes que estudavam pela manhã - tiveram dados utilizados nesse estudo.
Schaan: Usando os dados do ERICA, investigamos duas questões:
1. Se o tempo em frente às telas - televisão, computador e videogame - estava associado à ocorrência de síndrome metabólica (definida pela presença simultânea de obesidade abdominal e pelo menos mais dois fatores de risco cardiovasculares: pressão alta, altas taxas de colesterol ou de açúcar no sangue).
2.
Posteriormente, investigamos o papel do consumo de petiscos (salgadinhos, pipoca, biscoitos, chocolate, balas etc.) na associação entre tempo de tela e síndrome metabólica.
Ao todo, 2,6% dos adolescentes apresentaram síndrome metabólica. Dos 36 mil, 20% disseram ficar seis ou mais horas em frente às telas e, destes, 90% relatou consumir petiscos com frequência nesses momentos.
Os resultados do estudo apontaram que passar maior tempo em frente às telas aumenta o risco de ter síndrome metabólica. No entanto, nós observamos que o risco de apresentar síndrome metabólica foi duas vezes maior entre os adolescentes que passavam seis ou mais horas por dia em frente às telas e relataram consumir petiscos com frequência nesses momentos.
O que motivou essa pesquisa?
Cureau: O que nos motivou foi o fato de que cada vez mais vivermos cercados por telas. Passarmos mais tempo na frente da televisão, do computador ou usando o celular. Isso gera um impacto na nossa saúde.
Schaan: As telas têm função importante para a educação, comunicação e lazer dos jovens, no entanto, elas colaboram para que estes estejam cada vez mais sedentários e tenham escolhas alimentares influenciadas pela mídia. Além disso, pesquisas apontam que o excesso de tempo em frente às telas e o consumo de alimentos não saudáveis e ultraprocessados está associado à obesidade na adolescência e menos atividade física nessa faixa etária.
Qual a importância do seu trabalho para a sociedade?
Schaan: Os resultados desse trabalho podem alertar pais, adolescentes e órgãos de saúde para a importância do uso consciente das telas, bem como para a necessidade de evitar o consumo de petiscos nesses momentos. De forma indireta, esse estudo também pode auxiliar na criação de políticas públicas que limitem propagandas de petiscos durante horários e programas com maior audiência do público jovem.
O que ela traz de novo?
Cureau: A principal novidade do nosso estudo foi demonstrar que esses comportamentos aumentam o risco de síndrome metabólica em adolescentes, o que pode estar associado com o desenvolvimento precoce de doenças cardiovasculares e diabetes do tipo 2.
Como pretendem aplicar o seu conhecimento num futuro próximo?
Schaan: Ajudando a reforçar, com base científica, que adolescentes devem ser incentivados a manter um estilo de vida saudável, praticar atividades físicas e se alimentar bem para evitar problemas de saúde, antes identificados apenas em adultos, mas que são cada vez mais vistos em pessoas mais jovens. Além disso, auxiliar futuros estudos na busca por alternativas para prevenção da obesidade na adolescência e do desenvolvimento precoce de doenças cardiovasculares.
(Brasília – Redação CCS/CAPES)
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