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Pesquisadores desenvolvem software para identificar avaliações falsas na web
Na era da informação digital, quando há uma infinidade de usuários online e quantidade proporcional de empresas que comercializam seus serviços e produtos online (e-commerce), segurança é um quesito fundamental. Entretanto, é muito comum que ocorram fraudes nos sistemas de supervisão online. Por exemplo: empresas que utilizam recomendações feitas pelos clientes em seus sites estão sujeitas a ação de falsos usuários, que podem avaliar um determinado produto de forma a beneficiar ou prejudicar a compra por novos consumidores.
Na intenção de preencher essa lacuna, pesquisadores brasileiros desenvolveram um software que detecta difamação ou promoção ilegítima na recomendação online. O estudo intitulado ORFEL: Efficient detection of defamation or illegitimate promotion in online recommendation foi publicado pelo volume 379 da revista científica Information Sciences. O título está disponível* em texto completo para os usuários do Portal de Periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).
“Diante do crescimento e da popularização do aspecto colaborativo da internet, também chamada de ‘Web 2.0’, na qual os próprios usuários são os principais responsáveis pelo conteúdo apresentado pelos sites, surge uma necessidade natural de se preocupar com a credibilidade dos conteúdos”, explica Gabriel Gimenes, autor do trabalho. “Dessa forma surgiu o interesse em desenvolver o ORFEL, para auxiliar na detecção das interações fraudulentas e contribuir para uma maior credibilidade nesse tipo de comunidade online”, ressalta.
Segundo o pesquisador, em especial no contexto do comércio eletrônico há uma grande preocupação com a credibilidade das recomendações, pois avaliações fraudulentas têm um grande potencial problemático, tanto do ponto de vista do comprador, como das empresas responsáveis pelo produto e pela plataforma de venda. “Vale ressaltar que, embora existam outras iniciativas similares, nossa ideia foi desenvolver um software com uma tecnologia que permita o uso por empresas e pessoas que não necessariamente possuem ampla infraestrutura, como um cluster computacional ou supercomputadores”, avalia Gimenes.
Embora o sistema tenha como objetivo auxiliar usuários finais e vendedores, o uso da ferramenta é de responsabilidade dos comerciantes, ou seja, da empresa que controla a plataforma de vendas online. “O responsável pela loja virtual vai usar o sistema para localizar potenciais avaliações maliciosas e, após a detecção de ameaças, removê-las e adotar as medidas cabíveis em relação aos usuários mal-intencionados”, detalha.
O ORFEL busca por padrões comportamentais nas avaliações online. Quando encontra uma amostra considerada suspeita, o aplicativo retorna a uma lista de usuários envolvidos nos padrões. “O comportamento fraudulento não acontece individualmente. É preciso um grande número de usuários, fazendo um grande número de comentários por um período de tempo relativamente grande – um mês, pelo menos”, disse José Fernando Rodrigues Júnior, pesquisador também envolvido no trabalho, em entrevista ao Jornal da EPTV .
“Foi aí que conseguimos detectar um padrão de comportamento. Mesmo que [os fraudadores] tentem disfarçar ao longo do tempo, mudar o nome de usuário ou o tipo de comentário, conseguimos identificar que aquela conduta está ocorrendo de maneira sistemática, a fim de promover ou difamar algum produto", complementa Rodrigues.
De acordo com Gimenes, o princípio de funcionamento do ORFEL pode ser adaptado para quaisquer contextos nos quais seja possível caracterizar uma interação entre usuários e algum tipo de bem. “Um exemplo é o Facebook. Apesar de não envolver o comércio virtual, existe um determinado valor em se obter mais curtidas na página e esses ‘likes’ podem ter uma origem maliciosa, assim como as avaliações. Nesse sentido, o ORFEL pode ajudar a detectar quais usuários promovem uma determinada página de maneira ilegítima”, pontua o cientista.
Gimenes, que foi bolsista da CAPES durante o mestrado e o doutorado, afirma que utiliza o Portal de Periódicos para construção de pesquisas e o considera uma ferramenta de estudo atrativa. “A possibilidade de ler o abstract dos artigos sem clicar nos links é importante, pois permite pesquisa mais rápida e eficiente, de forma que se torna mais fácil decidir se aquele é um trabalho que interessa ou não”, conta. Ele conclui dizendo que o apoio que recebeu da CAPES foi essencial para sua manutenção na academia e para o sucesso dos projetos de pesquisa que participou.
Em conjunto com Gabriel Gimenes e José Fernando Rodrigues, o pesquisador Robson Cordeiro também assina o artigo científico publicado pelo periódico Information Sciences . O título envolve resultados de pesquisas originais, inovadoras e criativas, de forma a atender leitores que assumem interesse comum na Ciência da Informação, mas com origens diversas em campos como engenharia, matemática, estatística, física, biologia celular, biologia molecular, ciência da gestão, ciência cognitiva, neurobiologia, ciências comportamentais e bioquímica.
Os artigos publicados enfatizam uma cobertura equilibrada de teoria e prática. A revista científica pode ser acessada por meio da opção Buscar periódico do Portal.
Software ORFEL
O ORFEL é um software de código aberto e está
disponível online
. Para utilizá-lo, basta que o interessado siga os passos descritos na seção de instalação do site. “Vale ressaltar que, como o sistema é disponibilizado de maneira gratuita e possui código aberto, colaborações são bem-vindas. Tanto empresas como outros pesquisadores interessados podem obter o código e fazer melhorias ou adaptações de acordo com suas necessidades”, considera Gabriel Gimenes.
Portal de Periódicos
O
Portal de Periódicos da CAPES
é uma biblioteca virtual que reúne e disponibiliza a instituições de ensino e pesquisa no Brasil o melhor da produção científica internacional. Ele conta com um acervo de mais de 38 mil títulos com texto completo, 134 bases referenciais, 11 bases dedicadas exclusivamente a patentes, além de livros, enciclopédias e obras de referência, normas técnicas, estatísticas e conteúdo audiovisual.
O Portal foi criado tendo em vista o déficit de acesso das bibliotecas brasileiras à informação científica internacional, dentro da perspectiva de que seria demasiadamente caro atualizar esse acervo com a compra de periódicos impressos para cada uma das universidades do sistema superior de ensino federal. Foi desenvolvido ainda com o objetivo de reduzir os desnivelamentos regionais no acesso a essa informação no Brasil. Ele é considerado um modelo de consórcio de bibliotecas único no mundo, pois é inteiramente financiado pelo governo brasileiro. É também a iniciativa do gênero com a maior capilaridade no planeta, cobrindo todo o território nacional.
Acesse o Portal de Periódicos da CAPES .
*Verifique o conteúdo do Portal de Periódicos disponível para sua instituição
(Com informações do Portal de Periódicos da CAPES)