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Pesquisadora propõe modelo de custo para tratamento de AVC
Ana Paula Etges, engenheira de produção, concluiu sua formação na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) com colaborações das Universidades de Stanford e Harvard (ambas nos EUA). No Congresso Mundial de AVC, ela apresentou a aplicação do método de custeio baseado em atividades de tempo, o chamado Time-Driven Activity-Based Costing (TDABC) para a linha de cuidado da doença. O TDABC é reconhecido como padrão-ouro para medição de custos em saúde.
Por que você escolheu esta área de gestão de riscos?
Eu passei a me interessar por esta área dentro dos meus estudos de doutorado. O tema da minha tese foi a gestão de riscos corporativos e governança corporativa em saúde. O modelo de gestão de riscos corporativos permite que riscos assistenciais, financeiros e operacionais, por exemplo, sejam geridos para garantir a sustentabilidade e a conformidade das organizações. Podemos falar em riscos como o universo que vai desde a segurança da informação, administração, custeio, fluxo financeiro etc. Na gestão de riscos, estes fatores passam a ser tratados e geridos de forma integrada e sistêmica para que a organização do hospital seja mais saudável e mais orientada a valor. A meta é conseguir de uma forma proativa, mitigar riscos que venham a destruir valor e potencializar aqueles que possam favorecer a melhor entrega dos serviços de saúde.
O que você quer dizer quando fala em ‘gestão de riscos voltada a valor’?
Esta pergunta é bastante importante, considerando que o valor em saúde tem sido o grande foco das nossas pesquisas. Entendemos valor como a relação entre os resultados de saúde gerados e entregues para cada investimento feito para permitir a entrega destes serviços. Quando se busca maximizar valor em saúde, o foco está em converter o investimento aportado no sistema de saúde em uma população mais saudável. E isso precisa ser feito de forma transparente, centrada nas reais necessidades dos pacientes e em conformidade com leis e regulações.
A aplicação deste novo método tem a ver com os contínuos aumentos nas despesas de saúde?
Todo esforço de gerir a saúde por valor começa pela intenção de que se quer usar melhor o recurso disponível. Há sim uma nova realidade global e que vem se mostrando mais intensa de 2010 para a frente. O que buscamos, ao final de tudo, é que o recurso disponível seja convertido em melhores resultados na saúde populacional.
Qual o modelo usado hoje no sistema de saúde brasileiro?
Hoje nós temos um modelo de remuneração majoritariamente que paga por volume, pela realização do procedimento, pela realização de uma consulta ou de um exame, mas que não avalia o resultado gerado e nem o ciclo completo de cuidado. Então, quando falamos em migrar para um modelo de renumeração baseado em valor, o que é uma tendência no mundo, passamos a remunerar considerando o resultado que todo o ciclo de cuidado entregue aos pacientes está gerando na perspectiva do próprio paciente sobre o seu estado de saúde. Alcançar esse patamar requer avanços em capacidade tecnológica de rastreamento e gestão de recursos em saúde.
Como surgiu esta sua ideia de apresentar o modelo do
TDABC
para tratamento de Acidentes Vasculares Cerebrais (AVC)?
O
Time-Driven Activity-Based Costing
é reconhecido como padrão-ouro para medição de custos por possibilitar uma melhor gestão estratégica de custos e processos de saúde. Ao apresentar este modelo, como uma estimativa de custo ajustado ao risco, o estudo elucida como é possível dimensionar estratégias inovadoras de reembolso para a linha de cuidado do AVC no Brasil e, assim, melhor utilizar os recursos de saúde.
Como foi desenvolvida sua pesquisa na prática?
O meu estudo avaliou dados de 822 pacientes hospitalizados para o tratamento do AVC isquêmico em três centros brasileiros e propôs um modelo de estimativa de custos que abrange o nível de risco clínico, a terapia utilizada no tratamento e o desfecho dos pacientes (
Rankin
). Os dados de custo foram obtidos aplicando metodologia do
time-driven activity based-costing
e os dados clínicos seguiram os instrumentos preconizados pelo consórcio internacional de desfechos.
Entre os produtos gerados no estudo, está a construção de uma ferramenta digital que permite a análise em tempo real dos resultados de saúde e de custos dos pacientes submetidos. Uma ferramenta como essa é inédita no mundo e facilita o processo de gestão multidisciplinar entre clínicos e executivos da saúde. A ferramenta está disponível no endereço http://webavc.prologica.pt/
Os resultados científicos, que ainda estão em processo de publicação, serão utilizados em análises econômicas futuras e, também, para direcionar políticas de gestão e remuneração da linha de cuidado no sistema de saúde brasileiro.
Este método pode ser aplicado para outras doenças?
Sim. Em outra vertente, no Instituto de Avaliação de Tecnologia em Saúde (IATS), o estudo tem gerado a multiplicação das metodologias aplicadas para outras condições clínicas, como por exemplo, a insuficiência cardíaca, a COVID-19 e doenças raras. Avaliar melhores práticas de remuneração de serviços ambulatoriais de pacientes crônicos e, por outro lado, de uso de tecnologias de alto valor, para tratamento de pacientes graves, tem sido foco de inúmeras pesquisas feitas por alunos de mestrado e doutorado.
Seu trabalho irá para outros países?
A continuidade dessa linha de pesquisa também possui potencial de internacionalização. Colaborações com grupos norte-americanos, principalmente da
Harvard Business School
e da Universidade de Stanford, e europeus se estabeleceram nos projetos vigentes, tanto para o desenvolvimento científico quanto para a formação de pessoas e há múltiplas oportunidades e interesse de avanços em colaboração.
Especificamente para a linha de cuidado do AVC, a ampliação do estudo para outros países da América Latina e África já foi submetida ao comitê de pesquisa da World Stoke Organization e os resultados são previstos para serem publicados ao longo dos anos de 2023 e 2024. Além disso, a colaboração dos pesquisadores do Instituto de Avaliação de Tecnologia em Saúde (IATS) nessa iniciativa tem sido fundamental por representar a equipe que tem coordenado todas as avaliações de custos e econômicas dos projetos, além de organizar a estrutura de coleta de dados necessária para a construção das avaliações futuras.
Qual a contribuição da CAPES para a sua trajetória acadêmica?
Para mim, a contribuição da CAPES foi essencial. Tive a felicidade de ser bolsista no mestrado e, agora, no pós-doc. Para a gente conseguir fazer tudo o que tem sido feito, nestas várias frentes de pesquisa, foi sempre muito importante o fomento da CAPES. Ela é uma Agência fundamental para que possamos desenvolver pesquisa no Brasil e estabelecer todas estas trocas e colaborações internacionais.
Legenda das imagens:
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Imagem ilustrativa
(Foto: iStock/PETERS.MEDIA)
Imagem 1:
Ana Paula Beck da Silva Etges é professora e foi bolsista da CAPES
(Foto: Arquivo pessoal)
Imagem 2:
Pesquisadora desenvolveu modelo que busca remunerar serviços de saúde por valor
(Foto: Arquivo pessoal)
A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) é um órgão vinculado ao Ministério da Educação (MEC).
(Brasília – Redação CCS/CAPES)
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