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Pesquisadora estuda permanência de estudantes negros cotistas na UFMT
Larissa Pinheiro é graduada em Pedagogia pela Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT). Pela mesma instituição, no programa de pós-graduação, ela realizou o mestrado em educação, pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Relações Raciais e Educação. Em sua pesquisa, ela analisou a permanência de estudantes negros cotistas na UFMT.
Fale da sua trajetória acadêmica, da graduação ao doutorado.
Eu entrei na Universidade Federal de Mato Grosso em 2017, no curso de Pedagogia, pelo Sistema de Seleção Unificada. Durante o período acadêmico, tive muito interesse pelo ato de pesquisar. Desse modo, desde 2018 ingressei em um grupo de estudo e pesquisa sobre acesso e permanência na educação superior, aperfeiçoando minhas pesquisas e meu interesse pela formação continuada, sendo bolsista da CAPES, CNPQ e FAPEMAT. Dessa forma, sempre estive alinhada a ato de pesquisar e quando me formei em 2021, optei por realizar o processo seletivo de ingresso em um programa de pós-graduação. Realizei todas as fases e conseguiu ingressar no programa de pós-graduação em educação (PPGE/UFMT) no ano de 2022, fazendo parte da linha de pesquisa de Movimentos Sociais, Política e Educação Popular, pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Relações Raciais e Educação (NEPRE/UFMT).
Sobre o que é a sua pesquisa? Explique de forma mais detalhada o conteúdo do trabalho.
Eu pesquiso as políticas de ações afirmativas na pós-graduação stricto sensu, com foco na permanência das/os estudantes cotistas da UFMT. Evidencio, na minha dissertação, o percurso de implementação das políticas de ações afirmativas na pós-graduação stricto sensu da UFMT e seu processo de institucionalização, em atendimento à Portaria Normativa n. 13, de 11 de maio de 2016. Evidenciamos também a existência (ou não) de políticas institucionais que auxiliam a/o estudante negra/o a permanecerem na pós-graduação da UFMT. Ainda, analiso e destaco os fatores interferentes na permanência da/o estudante negra/o cotista, refletindo sobre as políticas de ações afirmativas na pós-graduação stricto sensu da UFMT e os mecanismos de enfrentamento ao racismo em suas interseccionalidades.
Quais são os principais desafios identificados como fatores de influência sobre a permanência dos estudantes negros cotistas na UFMT?
Em nossa pesquisa sobre a permanência das/os estudantes negras/os cotistas da UFMT, analisamos os dados segundo três aspectos que promovem ou não a permanência dessa/e estudante: os aspectos pedagógicos, culturais e socioeconômicos. Dentre esses aspectos, constatamos que a maioria das/os estudantes apresentou uma relação conflituosa diante dos aspectos pedagógicos, seja sua relação com as/os docentes da pós-graduação, com as/os orientadoras/os, com as/os colegas de turma e/ou com o currículo que é disposto em cada programa. No aspecto cultural, observamos que as principais dificuldades estão relacionadas às opressões estruturais que a/o estudante negra/o enfrenta no cotidiano, através do tratamento dado pela universidade e pelos programas de pós-graduação, em relação ao racismo individual, institucional, pelo gênero e classe social. Por fim, no aspecto socioeconômico, evidenciamos na pesquisa que as principais dificuldades ligadas a esse aspecto estão relacionadas à demanda reprimida de bolsas de incentivo a pesquisa, políticas institucionais e outras ações que envolvem o suporte material ao/à estudante, pilar essencial para a manutenção da vida da/o estudante na pós-graduação.
O que você destacaria de mais relevante na sua pesquisa?
As entrevistas concedidas pelas/os estudantes negras/os da pós-graduação stricto sensu da UFMT, que evidenciam o sistema violento da nossa sociedade, que perpetua a exclusão com base na raça, no gênero e na classe social. Todavia, mesmo tendo que enfrentar essas estruturas engendradas das desigualdades raciais em suas interseccionalidades, as/os estudantes apresentam, enquanto estratégias de permanência, as relações positivas entre docentes/discentes, a participação nos coletivos estudantis, movimentos sociais, grupos de pesquisa e a bolsa de fomento à pesquisa.
De que forma a sua pesquisa pode contribuir para a sociedade?
Desde quando decidi pesquisar esse tema, o tenho como importante para a contribuição social da população negra. Afinal, nossas pesquisas precisam chegar até a população negra, que sonha em realizar uma pós-graduação stricto sensu. Tenho por certo que a minha pesquisa contribuirá com a ampliação do olhar da sociedade, pois ela evidencia as possibilidades de ingresso ao mestrado e/ou doutorado na UFMT através das políticas de ações afirmativas; também mostra os cursos disponíveis e o mais importante: as estratégias usadas pelas/os estudantes negras/os de mestrado e doutorado para permanecer no curso. Não romantizamos esse ingresso e/ou permanência, pois o contexto social capitalista de supremacia branca masculina cisheteropatriarcal procuram interditar a existência da população negra na pós-graduação. Todavia, as estratégias de permanência de estudantes negras/os cotistas na pós-graduação são pertinentes para a contribuição epistemológica da população negra, e as políticas de ações afirmativas servem como afirmação de direito, um mecanismo reparatório de suma importância para compreender de que maneira as/os pós-graduandas/os estão permanecendo nesses espaços. Vislumbramos também uma contribuição significativa para os programas de pós-graduação stricto sensu da UFMT, de modo que repensem maneiras e ações para fomentar a permanência da/o estudante em seus programas, pois não basta a/o estudante ingressar nos programas, é preciso permanecer e concluir com qualidade esse nível de ensino.
De que forma a bolsa da CAPES contribui para sua formação?
A bolsa da categoria demanda social, fornecida pela CAPES, contribuiu de maneira significativa para a minha permanência no programa de pós-graduação em Educação da UFMT. Sem ela, com certeza eu não teria concluído minha pesquisa. A bolsa me possibilitou, no aspecto socioeconômico, uma permanência mais segura e no aspecto pedagógico, fomentou materiais para a realização da pesquisa. Portanto, é muito significativo obter esse direito, pois uma bolsa de investimento em educação pode mudar todo o destino de uma pesquisa.
A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) é um órgão vinculado ao Ministério da Educação (MEC).
(Brasília – Redação CGCOM/CAPES)
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