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PRÊMIO CAPES DE TESE
Pesquisadora analisa a desinformação nas redes sociais
A proliferação de informações falsas é um desafio contemporâneo. Doutora em Ensino pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Gabriela Pivaro venceu o Prêmio CAPES de Tese 2024 na área ao se debruçar sobre o problema e estabelecer termos que explicam e descrevem a difusão da desinformação no ambiente on-line.
Sobre o que é a sua pesquisa?
É sobre a propagação de discursos de desinformação científica nas redes sociais. Entendemos que discursos de negação da ciência são, muitas vezes, estimulados por certos setores da sociedade alinhados a uma defesa do sistema neoliberal. Como mostra a história, desde a década de 1960 o conhecimento científico tem a sua credibilidade atacada, com uma estratégia bem definida, toda vez que confronta interesses da indústria. Somando a motivação política para alimentar movimentos negacionistas com o aumento massivo do uso das redes sociais que usam algoritmos para controlar os conteúdos expostos aos usuários criam-se comunidades ideológicas na qual discursos de desinformação encontram ambiente propício para se propagar sem resistência. Nesse contexto, analisamos discursos de usuários de uma comunidade ideológica on-line comumente associada a discursos de negação e desinformação para compreender de que forma a ciência é vista por esses usuários.
As características encontradas foram descritas e analisadas com foco em visões distorcidas sobre a natureza da ciência e sobre processos de construção do conhecimento científico, juntamente com referenciais de ensino e aprendizagem em ciências que mostram como há uma tendência a formular explicações para fenômenos vistos que não buscam pela generalização dos conceitos. Além disso, discorremos sobre como a própria estrutura das redes sociais influencia um tipo de estrutura cognitiva que facilita a crença em discursos de desinformação.
O que vale destacar de mais relevante na sua pesquisa?
Foram estabelecidos dois termos que explicam e descrevem parte da crença e propagação de desinformação nas redes. A hiperparticularização dos conceitos científicos, que é quando usuários utilizam termos científicos retirados de seus contextos originais. Recortes que servem a uma explicação particular, sem pensar nas consequências que a extrapolação de seus usos implica. E a efemeridade das mídias sociais, no qual o conteúdo aparece como interessante aos usuários apenas no momento em que é visto, sem haver um retorno de uma reflexão posterior capaz de relacionar conteúdos vistos. Esses dois fenômenos se alimentam mutuamente e influenciam um tipo de pensamento que foca apenas em uma explicação pontual e particular. As desinformações entram como essas explicações pontuais.
De que forma a sua pesquisa pode contribuir para a sociedade?
Entendemos que a proliferação massiva das desinformações é um problema social complexo. Não existe um único motivo para que as pessoas acreditem e propaguem desinformação. As estratégias de combate a esse problema perpassam diversos níveis: educacionais, sociais, políticos e individuais. Consideramos que o desenvolvimento de um letramento científico, político e midiático, para que indivíduos sejam capazes de realizar análises críticas das informações consumidas nas redes sociais, é uma importante barreira para frear a propagação de desinformação. Para que pensemos em estratégias e pontos importantes para combater esses discursos e desenvolver letramentos adequados, precisamos entender as características da desinformação científica e a influência das redes sociais nesses contextos. Os resultados da pesquisa apontam direções para isso.
Qual a importância para você de sua tese ter sido escolhida a melhor na área?
Acredito que esse prêmio é uma valorização e reconhecimento não só do meu trabalho, mas da importância do tema abordado. Claro que fiquei muito feliz com o resultado, é uma validação relevante para qualquer pesquisador. Mas mais do que isso, acho que a pesquisa mostra um posicionamento claro sobre como interesses políticos fomentam a propagação de desinformação, de forma a ser muito significativo que ela tenha sido premiada.
Foi bolsista da CAPES? Se sim, de que forma a bolsa contribui para sua formação?
Fui bolsista da CAPES durante o mestrado, o que com certeza me ajudou a ter tempo para aprofundar questões teóricas sobre teorias de ensino e aprendizagem em ciências para além da dissertação. Foram os referenciais encontrados durante o mestrado que mostraram caminhos para que eu desenvolvesse a pesquisa no doutorado.
A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) é um órgão vinculado ao Ministério da Educação (MEC).
(Brasília – Redação CGCOM/CAPES)
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