Notícias
BOLSISTA EM DESTAQUE
Pesquisador realiza evento inovador no Brasil sobre arte e tecnologia
Francisco de Paula Barreto é apaixonado por arte e tecnologia. Ex-bolsista da CAPES no doutorado, na Universidade de Brasília (UnB), ele dedica-se ao estudo da arte digital, interatividade e interação humano/computador sob a perspectiva artística. Barreto também é criador do Festival Internacional de Mídias Imersivas e Fulldome.
Fale da sua trajetória acadêmica. Quais as áreas de estudo e os projetos que desenvolveu?
Tanto o TCC, quanto o mestrado e o doutorado foram na área do uso de inteligência artificial para as artes. Na graduação, fiz bacharelado em Ciências da Computação com o objetivo de aplicar a computação nas artes. Trabalhei como DJ produzindo festas de música eletrônica, na época da graduação, usava um software para criar música e entendi que dava para aplicar o que aprendia em ciência da computação para desenvolver softwares para artistas. No mestrado, conheci Suzete Venturelli, professora titular da Universidade de Brasília (UnB), que coordenou o Mídia Lab/UnB, um dos laboratórios mais reconhecidos nacionalmente na área de arte e tecnologia. Ela é, inclusive, uma das curadoras do Festival Internacional de Mídias Imersivas e Fulldome, que aconteceu recentemente.
No doutorado, também na UnB, tive bolsa da CAPES e sempre trabalhei com arte digital, interatividade, interação humano/computador sob a perspectiva artística, mais especificamente através do uso da inteligência artificial para gerar resultados criativos. Quando terminei o doutorado, fui aprovado como professor adjunto da Universidade Federal da Bahia (UFBA), onde, atualmente, coordeno o Laboratório de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação em Interatividade, Computação e Novas Interfaces (ICON).
Também fiz pós-doutorado na Universidade Federal de Goiás (UFG) no Media Lab. Lá, minha pesquisa foi especificamente sobre inteligência artificial generativa para criar imagens, vídeos e sons a partir da interação com o usuário.
Como surgiu a ideia do Festival?
Surgiu de uma paixão pessoal pela ideia de imersão, ou seja, por estar imerso, envolto em algo que faz perder a noção do tempo e do espaço, e pela memória viva que eu tinha do Planetário de Brasília, quando morava na cidade. O Planetário de Brasília é um prédio lindo, maravilhoso.
Minha referência também vem de um movimento das artes para a criação de espaços imersivos, que começou nos anos 80 com a CAVE, uma projeção que se fazia num quarto quadrado, em todas as paredes, inclusive no teto e no chão. Depois, com a realidade virtual e a realidade aumentada, o movimento internacional de fulldome em planetários, para a projeção de filmes que não estão ligados à astronomia ou à física, começou a ganhar corpo. Esses espaços começam a ser equipados com projetores digitais, o que permitiu o uso de outros tipos de IA. Foi então que surgiu a ideia de fazer o primeiro Festival Internacional sobre o tema em 2017. O de 2024 já é a terceira edição.
Em 2024, o Immersphere – Festival Internacional de Mídias Imersivas e Fulldome foi realizado no Planetário de Brasília, no Distrito Federal, com uma mostra competitiva, filmes de 10 países, obras interativas, oficinas e painéis para repensar o uso da tecnologia. As obras da mostra também foram projetadas no Planetário do UFBA.
Qual é o potencial do Brasil em termos de inovação em arte e tecnologia?
É muito grande. Temos um dos maiores mercados de games da América Latina, e essa indústria está muito ligada à questão da imersão, de certa forma. Então, o desenvolvimento de realidade virtual, realidade aumentada, óculos de realidade virtual, isso tudo tem uma interseção muito forte com a área de games. Do ponto de vista artístico, temos aqui alguns polos de arte e tecnologia muito importantes em universidades como em São Paulo, no Rio de Janeiro, em Brasília e em Goiânia. Suponho que o motivo é porque muitas dessas obras dialogam com questões e com tecnologias que estão no limiar do que está sendo descoberto.
Realizamos três edições do Festival de Mídias Imersivas, e é possível perceber que o número de obras feitas no Brasil tem aumentado ao longo dos últimos anos. Então, a gente tem um potencial enorme, até pela criatividade do nosso povo, pelo acesso à tecnologia e pelas universidades públicas e gratuitas.
Você foi bolsista CAPES em qual curso? Foi importante para você?
Fui bolsista da CAPES no Programa de Pós-Graduação em Arte Visuais da UnB, na área de arte e tecnologia. A bolsa foi fundamental, pois eu não teria condições de fazer o doutorado com a atenção e o esmero que fiz. Na época, me permitiu ter mais tempo livre para me dedicar à pesquisa. Bolsas são fundamentais, se a gente quiser formar cientistas, pesquisadores, senso crítico e pessoas que tenham capacidade de entender, pensar e agir sobre o mundo.
Quais os planos para o futuro, em termos acadêmicos?
Nesse momento, estou em afastamento, porque estou morando em Nova York. Decidi voltar para o mercado um pouco. Estava me sentindo desatualizado e precisava me atualizar em relação às ferramentas que estão surgindo, sobretudo no campo da inteligência artificial. Hoje, colaboro com uma empresa chamada Flora, que é uma plataforma em que os artistas podem manipular modelos de IA para gerar vídeo, texto e som de uma maneira absolutamente facilitada. Ao invés de ter que saber programar, eles podem utilizar um sistema baseado em nós, em que cada nó é um modelo de IA. A partir da ligação de um nó com o outro, você pode montar fluxos de transformação de conteúdo, por exemplo, texto para imagem, imagem para vídeo, sem a necessidade de saber programar.
Essa experiência está sendo fundamental, porque, quando eu voltar para a universidade, os meus alunos e o meu instituto vão se beneficiar, pois esse conhecimento que a gente adquire é necessariamente transmitido dentro do espaço acadêmico, então, para mim, tem sido um momento de aprendizado e de atualização.
A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) é um órgão vinculado ao Ministério da Educação (MEC).
(Brasília – Redação CGCOM/CAPES)
A reprodução das notícias é autorizada desde que contenha a assinatura CGCOM/CAPES