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Pesquisador propõe uma Geografia Popular
Coordenador do Grupo de Pesquisa Milton Santos (GPMS) e pós-doutorado pela Universidade de Coimbra, em Portugal, o pesquisador desenvolveu um trabalho original sobre o pensamento de Milton Santos, o mais importante geógrafo do Brasil, e de Boaventura de Sousa Santos, um dos principais intelectuais portugueses. Como geógrafo, sua meta era estudar a dimensão da geografia desde a escala local até a global.
Qual era a proposta de sua pesquisa no pós-doutorado?
Inicialmente seria desenvolver uma compilação dos pensamentos de dois intelectuais, Milton Santos e Boaventura de Sousa Santos, para compreender a dinâmica geográfica universal, abordando a questão dos territórios na dimensão local e na escala global. No decorrer da pesquisa, acabei por propor a análise do território a partir do que passei a chamar de geografia popular.
Por que a escolha deste tema?
A minha formação em Geografia se deu num curso de licenciatura na cidade de Araguaína (TO). Depois cursei o mestrado em Geografia Física na Universidade Federal de Uberlândia e fiz doutorado na Universidade Federal de Sergipe, onde minha pesquisa foi sobre a área da Geografia Regional. No pós-doutorado, em Portugal, percebi que já estava preparado para me encaminhar por uma geografia mais intelectual. Daí surgiu a escolha por trabalhar com os pensamentos de Milton Santos e Boaventura de Sousa Santos em busca de oferecer uma colaboração intelectual para o estudo do território.
Como se desenvolveram os trabalhos?
Tive várias reuniões com o Professor Boaventura de Sousa Santos, que sempre me recebeu com carinho e respeito, para trocarmos ideias sobre minha proposta de pesquisa. O ativismo intelectual e produtivo de Boaventura de Sousa Santos me proporcionou uma vivência acadêmica que fez com que eu amadurecesse como pessoa, professor e como um protótipo de intelectual. Como não convivi com Milton Santos, me amparei na leitura dos seus livros e em vídeos disponíveis. Com Boaventura de Sousa Santos, além da convivência pessoal, tive que me debruçar nos seus livros, que até então não faziam parte das minhas leituras acadêmicas. Um ganho pessoal muito grande para mim.
Quais as descobertas feitas?
A descoberta maior foi que pude não apenas realizar análises sobre o pensamento dos dois intelectuais que nortearam minha pesquisa, mas também desenvolver a coragem de propor uma geografia popular, que é uma geografia em movimento, difícil de ser cartografada ou mapeada em tempo real, mesmo com toda tecnologia disponível.
Geralmente, sobretudo no Brasil, os estudos intelectuais são por vezes marginalizados. Filosofar, por exemplo, tem um significado pejorativo a depender da ideologia implantada por determinados governantes. Você só sabe filosofar! Essa expressão para muitos significa não fazer nada. Então a minha proposta de geografia popular talvez seja uma contribuição para a ciência geográfica. O que eu fiz foi pensar o território através dos movimentos das sociedades que ignoram os limites geográficos estabelecidos pelos mapas. Mas isso é imprevisível e, enquanto pesquisadores, não dominamos se ela será importante ou não. Talvez agora não e no futuro sim.
Você pode explicar o significado e a importância da geografia popular?
A geografia popular que proponho faz uma crítica aos mapas, que estão obsoletos e que não atendem mais as necessidades econômicas, ambientais e sociais de determinadas populações. É tanto que, seja numa crise política ou econômica, as pessoas ultrapassam os limites dos seus territórios em busca de uma vida melhor. Alguns mapas, originários de uma cartografia oficial, isto é, feita pelo Estado, estão servindo para confinar algumas populações, fazendo com que estas não participem do chamado banquete do desenvolvimento. Assim, temos os lugares opacos, onde moram os pobres, e os lugares luminosos, onde está o desenvolvimento. Mas há uma transgressão dessas cartografias, sobretudo, por parte dos pobres, em busca de lugares onde possam viver melhor. E é essa transgressão que chamo de geografia popular, uma nova abordagem, difícil de ser cartografada. Os pobres não nascem nas ruas das nossas cidades, eles vão para lá. As comunidades indígenas, os quilombolas e outras comunidades tradicionais estão saindo de seus territórios e ocupando o comércio, as escolas nas cidades. E tudo isso é um constrangimento para quem comanda a economia e a política porque não estão acostumados com a presença dessas pessoas no cotidiano das cidades.
Como a sociedade pode ter acesso aos resultados de seu trabalho?
Os resultados iniciais da pesquisa foram divulgados em congressos e seminários em algumas cidades de Portugal. Ao chegar ao Brasil, consegui publicar a pesquisa na forma de livro impresso por uma Editora de uma Universidade Federal. Todos os livros que recebi durante esta pesquisa doei para instituições de pesquisa, universidades, escolas. Outra forma de divulgação é através de palestras que faço gratuitamente em instituições de ensino públicas, levando o pensamento de Milton Santos e de Boaventura de Sousa Santos através de uma geografia popular.
Legenda das imagens:
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Imagem ilustrativa
(Foto: iStock)
Imagem dentro da matéria:
Pesquisa foi feita na Universidade de Coimbra, em Portugal
(Foto: Arquivo pessoal)
A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) é um órgão vinculado ao Ministério da Educação (MEC).
(Brasília – Redação CGCOM/CAPES)
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