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Pesquisador aponta necessidade de visão nacional em pesquisas sobre violência urbana
A falta de contato entre as pesquisas e os pesquisadores sociais brasileiros da área de violência urbana foi apontada pelo professor da Universidade de São Paulo (USP), Sergio Adorno, como um dos principais entraves à construção de uma percepção unificada sobre os estudos da área. "A Capes [Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior] podia investir em programas de formação de pesquisa na área de segurança, por meio de redes que envolvam intercâmbios e circulação de pesquisadores nacionais. Ao mesmo tempo que é importante conhecer as realidades locais e regionais, precisamos construir uma visão nacional da segurança brasileira", explicou Adorno.
A afirmação foi feita nesta quarta-feira, 9, no painel
Violência Urbana e Inclusão Social
, parte da programação do seminário internacional
Metropolização Brasileira e os Desafios da Gestão Urbana: o Papel da Pós-Graduação
, realizado no edifício-sede da Capes, no período de 7 a 9 de maio. Para o presidente da mesa, Jacob Carlos Lima, a discussão permeou as mudanças na área. "Organizamos a mesa com pesquisadores de diferentes gerações de modo a transmitir o dinamismo da área nos últimos anos", disse Jacob.
César Barreira, da Universidade Federal do Ceará (UFC), ressaltou a importância da discussão do tema em núcleos de estudo nas universidades. "A pesquisa acerca da violência na academia mantém viva e ativa a discussão e favorece a adoção de soluções coletivas em detrimento das individuais (muros, grades, condomínios fechados etc)", afirmou. Barreira apontou ainda a interdisciplinaridade como elemento essencial aos estudos na área.
Políticas públicas
Em sua apresentação, José Luis Ratton apresentou a necessidade de reconstrução do conceito de segurança pública no país. "No senso comum o conceito de segurança pública está altamente associado a uma forma de exercício coercitivo da atividade policial, quando, na verdade, este deveria alcançar dimensões preventivas e ainda outras abordagens da ação coercitiva do estado", explicou.
Ratton priorizou ainda o desafio à construção de políticas públicas para a área. "Não temos institucionalizado no Brasil ainda um campo de políticas públicas de segurança como temos para saúde e educação. Precisamos assumir essa estatura. Daí a importância da discussão que temos hoje", completou.
Para Adorno, no entanto, para alcançar os resultados esperados, a ação do estado deve ser específica e orientada a cada situação. "As políticas de segurança não podem ser generalizadas. Elas devem levar em conta a diversidade e serem focalizadas. Precisamos de estudos etnográficos que possam descrever a vida dos bairros: como é a arquitetura, a mobilidade urbana, a redes de serviços públicos, sociabilidade e, sobretudo, o modo como se dão os vínculos entre os cidadãos e os governantes", disse.
Educação, valores e violência
Segundo Adorno, a relação entre cidade e violência deve ser pensada além da atuação governamental por meio políticas públicas tradicionais. A questão de valores deve ser repassada aos cidadãos, de acordo com sua história e costumes. "A educação não pode ser só a transmissão de conhecimento, ela tem que transmitir valores: cooperação, dignidade perante o outro, respeito às diferenças", explicou.
O pesquisador continuou sua exposição afirmando que somente com essa consciência será possível entender que a segurança vai além da repressão aos crimes. "Hoje a segurança é pensada de forma que envolva qualidade de vida e enriquecimento da vida em sociedade. Se você não tem o mínimo de contato entre as classes será difícil construir uma cidade diferente", esclareceu.
Dimensões da violência
No painel, foram discutidos ainda a segurança privada, a violência na mídia, a formação de massa crítica na área, a governança, a segregação espacial, a cultura do medo e a quebra de estereótipos como facetas do tema. Participaram como relatores do debate Renato Sérgio de Lima, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, e Gabriel Feltran, da Universidade Federal de São Carlos, e como mediador Bruno Paes Manso, do Estado de São Paulo.
O Seminário Internacional A Metropolização Brasileira e os Desafios da gestão Urbana: O Papel da Pós-graduação , promovido pela Capes é composto por seis painéis e discutiu os problemas e as fragilidades das metrópoles brasileiras, destacando os temas que nortearão as ações da Capes na indução da pós-graduação brasileira.
Gisele Novais
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