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PRÊMIO CAPES DE TESE
Pesquisa revela desigualdade na atenção à saúde da mulher
A partir de um estudo etnográfico na cidade de Salvador (BA), a psicóloga Mariana Pitta Lima analisou diferentes tecnologias biomédicas utilizadas no atendimento às mulheres que interromperam a gestação ou tiveram perda espontânea da gravidez, além de abordar os cuidados reprodutivos de forma geral. A pesquisa, que constatou os efeitos nocivos das desigualdades raciais, econômicas, sociais e de gênero na atenção à saúde, foi a vencedora do Prêmio CAPES de Tese de 2023 na área de Saúde Coletiva.
“O enfoque do meu trabalho é em torno dos cuidados que acontecem em maternidades públicas, vinculadas ao Sistema Único de Saúde (SUS). Essas instituições sofrem de problemas estruturais, traduzidos, por exemplo, no termo superlotação”, argumenta Mariana. Segundo a pesquisadora, são problemas, como falta de equipamentos e medicamentos, que afetam as pacientes e os profissionais que atuam no atendimento.
Mariana conta que, no Brasil, parte dessas mulheres precisam procurar um hospital-maternidade e são internadas para tratar as complicações decorrentes do aborto, muitas vezes realizado de maneira insegura. A tese intitulada Tecnologias biomédicas e aborto em uma maternidade pública de Salvador: estudo etnográfico comparou experiências brasileiras com diferentes países, em instituições públicas e privadas, e identificou distintas formas de oferta de cuidados e acesso aos serviços.
“No Brasil, um país com fortes desigualdades sociais, econômicas, raciais, de gênero, e onde a prática do aborto é criminalizada, observamos distintos tipos de serviço que fazem parte do complexo sistema de saúde brasileiro”, ressalta a pesquisadora. “Esse retrato compõe uma situação de iniquidade e injustiça que são inaceitáveis”.
A pesquisa reforça a necessidade de adequação dos serviços as normas de atenção humanizada ao abortamento, e de investimento e fortalecimento do SUS para garantir um acesso e cuidado dignos e com respeito ao direito à saúde garantido na constituição brasileira. Para Mariana, receber o Prêmio CAPES de Tese é uma conquista para as pesquisas na área de gênero e saúde.
Sobre a autora
A trajetória acadêmica de Mariana Lima se deu na Universidade Federal da Bahia (UFBA). Na instituição, ela se graduou, em 2008, no curso de Psicologia e concluiu mestrado, em 2015, e doutorado, em 2022, na área de Saúde Coletiva. “Desde a graduação estive envolvida em diferentes projetos de pesquisa, com destaque na participação do trabalho ‘Complicações precoces da gravidez e Atenção Prestada na Rede SUS no Nordeste: Uma abordagem interdisciplinar e multicêntrica’, quando comecei a me envolver em pesquisas na área de gênero, saúde, reprodução e aborto”, afirma.
Com bolsa da CAPES, ela fez doutorado-sanduíche na École des Hautes Études, em Paris, na França. “Desde a defesa de doutorado, continuo envolvida em diferentes projetos de pesquisa”. Ela ressalta também a importância do Portal de Periódicos da CAPES. “Foi muito relevante para o acesso a referências e aprofundamento e qualidade do trabalho”, conclui.
Prêmio CAPES de Tese
Considerado o Oscar da ciência brasileira, o Prêmio CAPES de Tese recebeu este ano a inscrição de 1.469 trabalhos, o maior número em 18 edições já realizadas. São reconhecidos os melhores trabalhos de doutorado defendidos em programas de pós-graduação brasileiros. Dentre os 49 premiados, três irão receber o Grande Prêmio CAPES de Tese, um de Humanidades, outro de Ciências da Vida e um de Ciências Exatas, Tecnológicas e Multidisciplinar. A solenidade de entrega ocorre em dezembro.
A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) é um órgão vinculado ao Ministério da Educação (MEC).
(Brasília – Redação CGCOM/CAPES)
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