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Pesquisa mostra necessidade de políticas para conciliação entre trabalho e vida familiar
Kênia Cristina Lopes Abrão é mestre em Serviço Social pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO) e doutora na mesma área pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Foi bolsista da CAPES durante o doutorado e realizou parte do curso na Espanha. Atualmente é assistente social da Secretaria de Justiça e Cidadania do Distrito Federal nas áreas de Direitos Humanos, Família, Política Social, Juventude e Socioeducação. Sua pesquisa aborda as políticas de conciliação entre trabalho e vida familiar e os impasses originados do conflito no Brasil, na América Latina e na Europa.
Sobre o que é sua pesquisa?
Trata-se de uma discussão teórica e metodológica dos fundamentos que têm subsidiado a discussão sobre as políticas de conciliação entre trabalho e vida familiar e os impasses originados do conflito nos âmbitos europeu e latino-americano, particularmente no Brasil. Com a pluralidade de novos arranjos familiares, têm surgido várias tensões e desafios para as famílias e a esfera pública, reconhecendo que historicamente o cuidado é executado principalmente pelas mulheres. Elas não o veem necessariamente como uma escolha ou um projeto de vida, mas ele é introduzido naturalmente no âmbito familiar, mesmo nas situações em que a mulher trabalha fora de casa e, assim, assume uma jornada dupla ou tripla. Desse modo, realizei uma pesquisa para entender como o assunto está incluído na esfera pública e que respostas têm sido direcionadas às demandas do conflito entre trabalho e vida familiar.
O que a motivou na escolha do tema?
No Serviço Social, o debate sobre a família e sua relação com a política social não costuma ser abordada nos cursos de formação e ainda prevalece sua invisibilidade no campo da produção do conhecimento. Estas questões provocaram em mim o interesse em ingressar no mestrado e no doutorado para o aprofundamento desses elementos.
Como a tripla jornada das mulheres impacta o âmbito familiar?
Não há dúvidas de que o aumento do ingresso feminino no mercado de trabalho não significou o abandono das mulheres em relação ao trabalho familiar, pelo contrário. Embora o contexto atual apresente variedades nas formas de organização das famílias e as mulheres dividam com os homens o trabalho reprodutivo, ainda não ocorreu uma distribuição equilibrada. Somado a isso está a falta de reconhecimento da importância dos serviços públicos para a inserção feminina no mundo do trabalho. O que se tem observado é que as possibilidades de ruptura e criação de estratégias para modificar esse cenário são parcas, pois a maioria das políticas governamentais não reconhece o cuidado como um problema público e que deve ser, então, objeto de políticas.
Quais foram os resultados encontrados?
Constatou-se o reconhecimento da necessidade de equilíbrio entre trabalho e vida familiar como um problema coletivo que reivindica intervenção pública e está em andamento em poucos países, com ênfase naqueles do norte da Europa. Nessa região, a questão está nitidamente incluída no âmbito público, pois se verifica um grande esforço governamental para dirimir desigualdades de gênero, tanto no âmbito privado quanto no mercado de trabalho, além da oferta de serviços de qualidade para as crianças, possibilitando que os genitores dividam de maneira mais igualitária as demandas de trabalho das esferas privada e pública. Nos países do sul da Europa e na América Latina o cenário é bastante distinto: é notória a tendência à informalidade no trabalho e ao papel marginal das políticas assistenciais.
De que forma a sua pesquisa pode contribuir para a sociedade?
Minha pesquisa constatou que a conciliação entre trabalho e vida familiar é um problema coletivo que precisa de intervenção pública. Não há, no País, diagnósticos e propostas pertinentes às transformações que desencadeiam um processo de fragilização dos vínculos familiares. Desse modo, entendo que o resultado deste estudo pode contribuir na proposição de políticas específicas. Há razões fortes e visíveis para a crescente necessidade de políticas de conciliação, e as perspectivas demográficas e sociais indicam que esse cenário continuará.
Qual é a importância da bolsa da CAPES na sua trajetória?
A bolsa da CAPES foi fundamental para minha permanência no doutorado, pois ela custeou minha mudança para outro Estado e possibilitou a dedicação exclusiva ao estudo. Percebi a necessidade de aprofundar esse debate e considerei que um estágio doutoral em outro país seria fundamental. Aí, também tive a bolsa para o doutorado-sanduíche na Espanha e a escolha por este país ocorreu devido ao fato de a Universidad Autónoma de Barcelona ser reconhecida por estudos pioneiros na discussão sobre política familiar e conciliação trabalho e vida familiar. Esse apoio da CAPES contribuiu sobremaneira para a minha pesquisa, que posteriormente resultou em um livro que pode ser acessado aqui.
A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) é um órgão vinculado ao Ministério da Educação (MEC).
(Brasília – Redação CGCOM/CAPES)
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