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Pesquisa mostra impactos do fogo no Cerrado
Letícia Gomes é formada em Ciências Biológicas pela Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat), mestre em Ecologia e Conservação pela mesma instituição e doutora em Ecologia pela Universidade de Brasília (UnB). Bolsista da CAPES em ambas as pós-graduações, ela coordena uma pesquisa que quantifica os impactos das queimadas no bioma Cerrado.
Fale sobre a sua pesquisa.
Minha pesquisa é sobre ecologia de ecossistemas, com ênfase em modelagem de processos ambientais relacionados às queimadas em ecossistemas savânicos e florestais do Cerrado. De forma geral, busca compreender como o fogo afeta os processos terrestres, aquáticos e atmosféricos, bem como estes processos podem ser previstos para o futuro.
Já há algum resultado?
Minha pesquisa demonstra que as savanas do bioma Cerrado, mesmo estando mais adaptadas ao fogo em relação às florestas, ainda assim têm sido impactadas por incêndios. Isso acontece porque, nas ultimas décadas, incêndios antrópicos têm ocorrido em uma maior frequência, e esse menor intervalo entre incêndios impede que a vegetação cresça e retorne ao seu tamanho inicial. Nós quantificamos que, em média, as árvores que rebrotam após o fogo, podem demorar até 12 anos para alcançar o seu tamanho inicial. Porém, cerca de metade das áreas de savanas no Cerrado queimam a cada quatro anos, impedindo o seu crescimento. Por outro lado, o aumento na frequência de queimadas facilita o estabelecimento de gramíneas, que deixam o ambiente ainda mais inflamável e vulnerável a incêndios recorrentes. O crescimento das árvores é de grande importância para os processos climáticos, pois ao crescer as plantas absorvem gás carbônico, amenizando o seu acumulo na atmosfera, fato que reduz a sua contribuição para os processos geradores do efeito estufa. Calculando o balanço entre as emissões de gases por fogo e absorções pelo crescimento da vegetação em todo o bioma Cerrado, nós quantificamos que a vegetação savânica do Cerrado tem absorvido apenas 63% do gás carbônico liberado por incêndios nos últimos 30 anos, sendo ainda mais problemático os outros gases que são liberados pelo fogo, como o metano e o óxido nitroso, que não retornam para a vegetação porque são gases que não participam dos processos de fotossíntese.
De que forma a sua pesquisa pode contribuir para a sociedade?
O fogo tem impacto direto sobre a sociedade. A fumaça gerada pelo fogo provoca poluição atmosférica, alterando a qualidade do ar e causando danos à saúde das pessoas. Essa fumaça também provoca alterações climáticas, devido a liberação de gases, como gás carbônico, dióxido de carbono, metano e óxido nitroso, que são os principais causadores do efeito estufa. Assim, minha pesquisa busca quantificar os danos provocados por esses incêndios sobre os ecossistemas de Cerrado, visando auxiliar medidas de políticas públicas para o controle de queimadas no bioma. Por exemplo, as informações geradas pela minha pesquisa sobre fatores de combustão e emissão de gases por fogo foram incluídas no inventário nacional de emissões pelo Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG), que visa discutir e propor metas de emissões para o Brasil.
Qual o destaque da sua pesquisa?
As informações geradas durante o meu mestrado e doutorado são inéditas e valiosas, uma vez que elas ainda têm contribuído para a elaboração de modelos climáticos de previsão do comportamento do fogo e seus impactos futuros. Atualmente, temos desenvolvido três modelos para prever quando e onde o fogo tem maior risco de acontecer ao longo de todo o bioma Cerrado, por onde o fogo pode se espalhar considerando diferentes vegetações e variáveis climáticas em uma determinada paisagem e como será o regime de fogo no futuro caso sejam mantidas as atuais políticas públicas de prevenção e controle de incêndios. Ainda há muito o que ser pesquisado na área de ecologia do fogo, e eu espero poder contribuir ainda mais no avanço do conhecimento nos próximos anos.
Qual é a importância da bolsa da CAPES na sua trajetória?
Uma pesquisa de qualidade requer tempo e dedicação. Assim, ter uma bolsa CAPES no mestrado ou no doutorado dando apoio financeiro, nos permite dedicação exclusiva a essa pesquisa. No meu caso, sem o apoio da bolsa CAPES para morar em Brasília, uma capital com alto custo de vida, e realizar a minha pesquisa em um dos programas de pós-graduação mais relevantes do Brasil, com certeza, não teria sido possível.
Legenda das imagens:
Imagens 1 e 3
:
Estudos quantificam danos gerados pelas queimadas
(Foto: Arquivo pessoal)
Banner e imagem 2
:
Letícia Gomes, doutora em Ecologia pela Universidade de Brasília (UnB)
(Foto: Arquivo pessoal)
A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) é um órgão vinculado ao Ministério da Educação (MEC).
(Brasília – Redação CGCOM/CAPES)
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