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Pesquisa mostra efeito dos palhaços-médicos em crianças hospitalizadas
Tese de doutorado de Luís Carlos Lopes-Júnior, ex-bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), mostra como as intervenções dos palhaços-doutores, conhecidos como clowns , influenciam na saúde de pacientes pediátricos com câncer. O trabalho, desenvolvido no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem em Saúde Pública da Universidade de São Paulo, deu origem a outros artigos que já repercutiram pelo mundo.
Qual o seu foco de estudo?
Meus interesses de pesquisa concentram-se na identificação, avaliação e manejo dos agrupamentos de sintomas em oncologia – particularmente a fadiga relacionada ao câncer, o estresse psicológico, a ansiedade, a depressão e a dor –, bem como os seus mecanismos biológicos, como resultado do câncer e seu tratamento, por meio da avaliação de biomarcadores neuroimunoendócrinos. Desenvolvo projetos de pesquisa com cooperação estrangeira envolvendo pesquisadores do Canadá, dos Estados Unidos, da Alemanha e de Portugal.
Fale sobre o seu projeto.
O objetivo geral da minha tese foi avaliar a efetividade da intervenção da arte de teatro
clown
(palhaços-doutores) sobre os níveis de estresse psicológico e de fadiga em pacientes pediátricos oncológicos submetidos à quimioterapia. Isso foi feito pela avaliação de biomarcadores relacionados à inflamação, dosados a partir da saliva desses pacientes. Observamos que, em comparação com as medições de antes da intervenção dos
clowns
, o estresse psicológico total e os níveis de fadiga melhoraram, sendo essa diferença estatisticamente significante. O cortisol salivar – um hormônio de estresse crônico – mostrou uma diminuição significativa após a ação dos
clowns
nos momentos de coleta. Do mesmo modo, as citocinas pró-inflamatórias, que estão associadas ao sintoma fadiga, diminuíram após a intervenção.
Meu doutorado, defendido e aprovado em 2017 na Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (EERP/USP), foi apresentado em inglês e intitula-se: “ Neuroimmunoendocrine trajectories and the response to stress and fatigue in pediatric cancer patients under chemotherapy submitted to clown intervention ”. A tese foi orientada pela professora doutora Regina Aparecida Garcia de Lima e co-orientada pela professora Gabriela Silva Bisson. No Canadá, na University of Alberta , tive como supervisora professora Karin Olson. Na equipe também contamos com a colaboração direta de uma bióloga doutora em Imunologia que supervisionou e me auxiliou nos experimentos realizados no Laboratório de Genômica e Imunobiologia (LGBio-USP).
Fale sobre os trabalhos provenientes da sua pesquisa.
Os artigos originais da tese foram publicados nos periódicos
Integrative Cancer Therapies
e na
Cancer Nursing
. Cinco produtos derivaram da minha tese, entre eles o artigo de revisão sistemática
publicado no The BMJ
, do Reino Unido, uma das mais influentes e conceituadas publicações sobre medicina no mundo. Esse teve por objetivo avaliar estudos clínicos que testaram a efetividade da intervenção dos
clowns
para uma variedade de sintomas de pacientes pediátricos hospitalizados com doenças agudas e crônicas. Verificamos que a presença dos
clowns
durante procedimentos médicos, indução de anestesia na sala pré-operatória, e sob condições crônicas, é uma estratégia benéfica, auxiliando na melhoria do bem-estar psicológico desses pacientes, em comparação com aqueles que recebem apenas os cuidados-padrão da clínica.
Essa publicação está com grande repercussão mundial - Altmetric e já foram publicadas 18 reportagens pela imprensa internacional do Reino Unido, Estados Unidos, Austrália, França e Alemanha, Itália, Portugal, Canadá, além do Brasil.
O trabalho já está finalizado? Se não, quais são os próximos passos?
Sim. O trabalho está finalizado. Nossos resultados apoiam a investigação contínua de intervenções não farmacológicas bem como a identificação dos mecanismos moleculares subjacentes aos sintomas oncológicos que ocorrem em decorrência do câncer infanto-juvenil e seu tratamento. Um próximo passo é a manutenção e consolidação de parcerias internacionais, de modo a potencializar os resultados de pesquisas translacionais e multicêntricas.
Como você acredita que seu trabalho pode contribuir para a melhoria da vida das pessoas?
Os resultados desta nossa investigação podem subsidiar reflexões dos profissionais de saúde, particularmente de especialistas em oncologia, sobre o uso de Terapias Complementares como adjuvante ao tratamento convencional em oncopediatria. Isso pode contribuir com a sua utilização baseada em evidências e a desmistificação dessas práticas, promovendo, sobretudo, uma melhor qualidade de vida a essa população tão singular.
Qual a importância da bolsa CAPES para o desenvolvimento do seu projeto?
Durante meu doutoramento recebi duas modalidades de bolsas da CAPES: uma bolsa regular de doutorado e outra do
Programa de Doutorado-Sanduíche no Exterior
(PDSE). Esta última recebida durante o período realizado na
University of Alberta
, no Canadá. Sem dúvida, a CAPES foi extremamente importante para selar a internacionalização na minha formação acadêmica, abrindo canais de colaboração em pesquisas e publicações científicas com instituições norte-americanas. Reitero aqui a importância da CAPES na formação de pesquisadores brasileiros de excelência e comprometidos com a ciência e com a nossa sociedade.
Legenda das imagens:
Imagem 1:
O trabalho do pesquisador originou outros estudos, que repercutiram no Brasil e no exterior
(Foto: Arquivo pessoal)
Imagem 2:
O estudo foi concluído em 2017 e mostrou a eficácia da intervenção dos clowns
(Foto: Arquivo pessoal)
Imagem 3:
Luís Carlos realizou parte do seu doutorado em renomada universidade canadense, com bolsa PDSE (Foto: Arquivo pessoal)
A CAPES é um órgão vinculado ao Ministério da Educação (MEC).
(Brasília – Redação CCS/CAPES)
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