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Pesquisa investiga a relação de mulheres latino-americanas com a música
Yndira Gabriela Fleitas Villarroel é uma artista venezuelana naturalizada brasileira. Graduada em Relações Industriais pela Universidad Católica Andrés Bello (UCAB), na Venezuela, Yndira teve seu diploma revalidado em Administração na Universidade Federal de Rondônia (UFRO). No Brasil, obteve a licenciatura em Música no Centro Universitário Claretiano e pós-graduação em Inteligência Socioemocional na Educação pelo Instituto Signativo (FAIPE). Como bolsista da CAPES, realizou o mestrado em Poéticas Contemporâneas pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), onde pesquisou a relação de gênero de mulheres latino-americanas na música.
Sobre o que é a sua pesquisa?
Esta pesquisa nasceu pelas minhas vivências na trajetória como artista imigrante, percebendo que havia algo a mais relacionado ao gênero que represento e que, talvez, se somasse com outros aspectos, para que acontecessem situações negativas dentro e fora da área da música de concerto. Sendo assim, decidi adentrar na investigação formal e acadêmica para desvendar o que há de intrínseco nas relações das mulheres que se encontram na área musical, especialmente as vindas de países colonizados.
Atualmente, graças aos processos migratórios presentes na sociedade brasileira – e para efeitos desta pesquisa, na sociedade cuiabana, portoalegrense e soteropolitana – existem inúmeras questões culturais que podem ser vislumbradas. Uma das formas por meio da qual podemos compreender melhor a realidade, percursos e percalços das(os) imigrantes, é a das suas narrativas, e da análise das relações dessas mulheres com suas próprias produções artísticas.
Nesta pesquisa, debruçamo-nos sobre as narrativas de quatro artistas imigrantes, por meio da técnica de coleta de informação de entrevista temática, e a análise deu-se através da escuta consciente da oralidade e das transcrições das narrativas, organizadas em tópicos da vida destas mulheres. Este estudo está focado na mulher artista-música imigrante. O intuito é analisar as histórias de vida, contadas por meio da narração oral e narrativas de si, de quatro músicas imigrantes no Brasil (dentre as quais me incluo), com especial atenção a: a) formação técnica e musical; b) processos migratórios; c) aspectos e práticas culturais; d) socialização; e) atividades artísticas; f) mulher artista imigrante e sua (trans)formação no país receptor. Ao pesquisar mulheres, e sendo realizada por uma mulher, o estudo evidencia relações de gênero e origem articuladas ao nosso lugar de fala.
Que aspecto considera mais relevante em sua pesquisa?
Além da importância social e cultural para a comunidade imigrante e artista, esta pesquisa apontou que as interseccionalidades de gênero presentes nas histórias de vida, narradas de forma oral, precisam incorporar questões relacionadas à formação, à migração, à procedência, à classe (relacionado com o poder aquisitivo individual e familiar de cada uma) e à etnia. Foi evidenciado como a mulher música imigrante latino-americana precisa estar em constante formação e demonstrando a capacidade nas frentes em que se encontrar.
E qual seria uma saída no âmbito musical? Talvez a desclassificação de algumas práticas tradicionais e, com isto, uma possível diminuição do poder da figura masculina, onde podem surgir novas práticas, inclusive retomando a tradição de nossos ancestrais.
No sentido geral, da sociedade, é difícil, mas não impossível mudar a cultura patriarcal dos países da América Latina. Por isso, as lutas femininas. Então, devemos nos auxiliar no caminho a ser trilhado, criando e sustentando pontes femininas atuantes em todas as frentes. Foi por meio das narrativas que memórias, sentimentos, desejos e conquistas foram conhecidos, analisados e interconectados para criar este conjunto interseccional: migração-procedência-etnia-classe-formação, o ápice desta pesquisa.
De que forma a sua pesquisa pode contribuir para a sociedade?
A maior contribuição que esta pesquisa oferece para a sociedade brasileira e imigrante é reconhecer a valia da mulher, da mulher artista, da mulher artista imigrante, da mulher artista imigrante latino-americana. Além de ressaltar academicamente, através da pesquisa científica, a representatividade da mulher, que tem sofrido desde os primórdios a exclusão, a violação e a diminuição em seus afazeres cotidianos, sejam laborais ou pessoais, impedindo-a de se colocar nos espaços onde os homens imperam e, junto com isto, evidenciando que há diferença: no tratamento entre mulheres e homens dentro do cenário da música de concerto, no Brasil e nos países das artistas entrevistadas, e no que é permitido ou não para a mulher artista imigrante, muito mais quando a procedência delas é um país latino.
Outra contribuição desta pesquisa é a escuta consciente dessas quatro vozes que somam à cultura local, profissional e pessoalmente, com sua arte e sua cultura, mostrando como através das relações se dá, de forma natural, a retroalimentação artística, além da mistura social que só o convívio diário oferece.
Ademais, esta pesquisa me permitiu continuar trabalhando junto com e para a comunidade imigrante, desdobrando-se em outros projetos socioeducativos e culturais como é o MultiCulturas (mostra de músicas etnoculturais de artistas brasileiros e imigrantes), que aconteceu em 2023 e que foi fruto direto das leituras, da experiência e da vivência durante este percurso migratório, e muito mais nestes últimos anos de formação na UFMT.
De que forma a CAPES contribuiu para a sua formação?
Ter contado com o auxílio da bolsa social Capes me permitiu ter uma maior segurança financeira em razão da pesquisa, sendo essencial para a continuidade dos estudos acadêmicos e das necessidades que o curso exige, como investimento em livros, impressões, taxas de congressos e/ou encontros, assistência a eventos, assim como no desenvolvimento da parte fundamental da pesquisa – a coleta de dados – que se deu de forma presencial no mês de abril de 2023, viajando de Cuiabá para Salvador, seguido de Salvador para Porto Alegre e, finalmente, o retorno de Porto Alegre para Cuiabá.
Eu, como mulher imigrante e artista, dependo diretamente dos trabalhos informais com um fluxo variável, o que limita, em muitas vezes, o poder aquisitivo, investimentos em estudos e participação em atividades de formação. É por isto que ter contado com a bolsa social CAPES durante o desenvolvimento da pesquisa me deu segurança financeira e auxiliou nas empreitadas que planejei para cada fase da investigação.
A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) é um órgão vinculado ao Ministério da Educação (MEC).
(Brasília – Redação CGCOM/CAPES)
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