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PRÊMIO CAPES DE TESE
Pesquisa incentiva estratégias sociais de prevenção do suicídio
O trabalho de Viviane dos Santos Bezerra venceu a edição de 2024 do Prêmio CAPES de Tese na área de Psicologia. Doutora pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB), em João Pessoa, a pesquisa estuda e apresenta estratégias de prevenção do suicídio em nível comunitário. A psicóloga investigou a possibilidade de estimular a sociedade a se engajar em ações preventivas, tornando o problema de interesse não apenas dos profissionais de saúde. A tese tem como título O papel moderador da autoeficácia e do conhecimento sobre o suicídio na relação entre empatia e disposição para ajudar pessoas em risco.
Fale da sua trajetória acadêmica, da graduação ao doutorado.
Iniciei a graduação em Psicologia em 2014, na Universidade Federal de Campina Grande, na Paraíba. Durante a graduação, a Psicologia só começou a fazer sentido para mim a partir do momento que tive contato com os programas de iniciação científica. Desde então, meu desejo sempre foi seguir na carreira acadêmica, enquanto docente e pesquisadora. Por isso, assim que conclui a graduação, segui direto para o mestrado em Psicologia Social, na Universidade Federal da Paraíba, em João Pessoa, onde também fiz o doutorado.
Sobre o que é a sua pesquisa? Explique o conteúdo da sua tese.
Pesquiso sobre o comportamento suicida desde 2017, até então, são sete anos me aprofundando e tendo contato rotineiramente com a temática. Comecei a me interessar pelo comportamento suicida devido ao incômodo que sentia ao ver e ouvir como as pessoas que morrem por suicídio são vistas na sociedade – “fracas”, “doentes”, “egoístas”, “sem Deus”. Imaginar como esse tipo de comentário acentuava o sofrimento de sujeitos em risco e daqueles que perderam alguém para o suicídio, me fez enxergar a importância de que essa temática fosse debatida na sociedade de forma mais ampla. Minha pesquisa versa sobre estratégias de prevenção do suicídio em nível comunitário. Ou seja, investiguei como poderíamos estimular membros da sociedade geral a se engajarem em ações de prevenção, uma vez que se parte do pressuposto que, sendo um grave problema de saúde pública, o suicídio não deve interessar apenas à profissionais de saúde ou aqueles que incorreram em tentativas de suicídio ou já perderam alguém em decorrência dele.
O que vale destacar de mais relevante na sua pesquisa?
Acredito que a nossa tese possui dois pontos significativamente relevantes, o primeiro deles referente a aspectos instrumentais e metodológicos. Sabe-se que o uso de instrumentos de pesquisa adequados, válidos e fidedignos são cruciais para obter resultados confiáveis em nossos estudos. Infelizmente, no âmbito da suicidologia, especificamente no cenário nacional, há uma grande escassez de instrumentos com propriedades psicométricas adequadas para investigar fenômenos relativos ao comportamento suicida e a sua prevenção. Nesse sentido, na tese dedicamos um tempo considerável para validar e construir instrumentos de pesquisa que apresentassem evidências de validade e fidedignidade, tornando, assim, os resultados obtidos em nossos estudos mais confiáveis.
O segundo ponto, e possivelmente esta é a contribuição mais relevante da nossa investigação, é que os achados da tese nos auxiliam a repensar estratégias para prevenção do suicídio em nível comunitário. Na literatura é possível observar estratégias de prevenção do suicídio sendo implementadas em diversos contextos, seja na saúde, na educação ou na assistência social. O ponto problemático é que, infelizmente, muitas dessas estratégias não possuem uma base empírica ou mesmo teórica sólida que justifiquem o seu uso. Os nossos resultados, por sua vez, forneceram evidências empíricas de quais variáveis seriam relevantes trabalhar para engajar a comunidade em ações de prevenção do suicídio e tornar as pessoas mais dispostas a intervir em uma situação de risco.
De que forma a sua pesquisa pode contribuir para a sociedade?
Se comprovada a efetividade de um programa baseado no desenvolvimento das variáveis investigadas na tese, isso poderia subsidiar a construção de políticas públicas para a prevenção do suicídio. Pensemos, por exemplo, no contexto da educação. É comum que os profissionais da educação se deparem com alunos em risco de suicídio no ambiente escolar. A maioria desses profissionais, não possui o conhecimento mínimo para realizar o suporte adequado e os encaminhamentos necessários. Quando nos deparamos com esse contexto, vemos a pertinência de intervenções que busquem sensibilizar os profissionais para o tema, aumentar a confiança destes em sua capacidade para intervir e fornecer informações suficientes para que possam saber como agir nessa situação, realizando o que chamamos de primeiros cuidados psicológicos. Não se trata de atuar como um psicólogo, mas de fazer o acolhimento adequado e encaminhar para as fontes de ajuda seguras e confiáveis.
Qual a importância para você de sua tese ter sido escolhida a melhor na área?
Quando observamos as estatísticas mais recentes sobre o comportamento suicida e vemos que no mundo houve uma diminuição dos índices de suicídio, e que o Brasil foi na direção oposta, aumentando suas taxas, percebemos o quanto é relevante que uma tese que versa sobre esse fenômeno receba destaque no cenário nacional. Eu fico extremamente animada com a possibilidade de que outras pessoas conheçam o meu trabalho e que isso possa ocasionar em mais gente interessada pelo tema e engajada na construção de ações para a prevenção do suicídio.
Recebeu algum tipo de bolsa e de que forma o benefício contribui para sua formação?
No mestrado fui bolsista CNPq e no Doutorado recebi bolsa Fapesq-PB durante um ano. As bolsas foram fundamentais para que eu chegasse até aqui. Venho de uma família de mãe solo, com minha mãe trabalhando de empregada doméstica, então ficar sem renda nunca foi uma possibilidade para mim. Desse modo, não teria sido possível cogitar fazer uma pós-graduação se não houvesse a bolsa.
A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) é um órgão vinculado ao Ministério da Educação (MEC).
(Brasília – Redação CGCOM/CAPES)
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