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Pesquisa estuda fatores de mortalidade materna na pandemia
Thayane Santos Siqueira é graduada em Enfermagem, mestra em Biologia Parasitária e, atualmente, doutoranda em Ciência da Saúde pela Universidade Federal de Sergipe (UFS), instituição onde construiu toda a sua trajetória acadêmica. Durante a pandemia de COVID-19 os dados de mortalidade materna tiveram um aumento abrupto. Ela, então, resolveu buscar respostas para o problema.
Por que escolheu essa área de pesquisa?
Durante a pandemia, alguns dados chamaram minha atenção: em maio de 2020, havia 256 casos de gestantes e puérperas com COVID-19 e 36 mortes maternas confirmadas. Um número alto, se comparado aos países desenvolvidos. Mas, em junho de 2021, o número saltou: já eram mais de 13 mil casos e cerca de 1.369 de mortes maternas. Começamos fazer alguns questionamentos: será que a distribuição de casos e mortes era igualitária no Brasil? Será que determinantes sociais de saúde e recursos de assistência interferiam nas mortes? Será que havia fatores atrelados à região? Quais as gestantes tinham desfechos menos favoráveis, as mais expostas ao SARS-CoV-2 ou aquelas não expostas? Então, fomos atrás de respostas.
Que tipos de pesquisas foram feitas?
Com a orientação do professor Victor Santana Santos, publicamos dois artigos com base em estudos ecológicos, trabalhando com dados secundários disponibilizados pelo Ministério da Saúde, retirados do banco de dados sobre Síndrome Respiratória Aguda Grave. Um dos artigos, publicado na
The Lancet Regional Health Américas
teve o objetivo de identificar aglomerados espaciais de alto risco para os casos de mortes maternas e sua relação com determinantes sociais da saúde. Nele, descobrimos que o Brasil teve uma distribuição de casos e mortes heterogênea com lugares de alto risco em regiões interioranas e com alto grau de vulnerabilidade social. Municípios que não tinham recursos relacionados à saúde disponíveis, com carência com relação à questão socioeconômica, foram os que mais sofreram. Fizemos isso com dados de março de 2020 a junho de 2021, e agora queremos analisar tanto dados pós-vacinação em gestantes, quanto o aparecimento de outras variantes. Com isso, queremos saber se após a vacina os casos de mortes maternas em áreas de risco diminuíram ou aumentaram.
O segundo estudo foi publicado no Jornal of Travel Medicine avaliando outra perspectiva com abrangência nacional. Por ele, percebemos que mulheres de etnias tiveram mais chances de morrer se comparado a mulheres brancas. Além disso, tinham mais chances de ir a óbito aquelas com comorbidades, que estavam no pós-parto ou internadas em UTI fazendo uso da ventilação mecânica invasiva, ou residentes nas regiões Norte e Nordeste.
Agora, estamos finalizando um terceiro estudo retrospectivo de coorte com avaliação e revisão de prontuários de março de 2020 a junho de 2023 na maternidade Nossa Senhora de Lurdes, em Sergipe. Foi usado um instrumento usado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), adaptado para a realidade local de Sergipe. Para cada grávida ou puérpera que testou positivo, a gente analisa quatro prontuários de mulheres que não foram positivadas, para fazer uma comparação. Nele, se investiga os fatores de risco atrelados à mortalidade materna, para verificar quais mulheres teriam desfechos menos favoráveis: as expostas ou não expostas ao vírus.
Por que o seu trabalho é importante para sociedade?
Esses estudos são importantes, pois eles trazem um olhar diferenciado sobre a saúde materna infantil, principalmente de gestante e puérperas. Olhamos não só para fatores individuais: as gestantes do Brasil trazem características diferentes das de outros países, com a presença de comorbidades como obesidade, pré-eclâmpsia, hipertensão, que, por si só, não explicam a alta mortalidade materna brasileira. Então, temos que ter um olhar diferenciado para as áreas de vulnerabilidade social, para áreas mais carentes com relação aos recursos financeiros, recursos relacionados à assistência à saúde. Assim, quando surgirem outras emergências de saúde pública, ou outros problemas o governo poderá ter um olhar diferenciado para essas áreas.
Legenda da imagem:
Banner e imagem dentro da matéria:
Victor Santana Santos, orientador, e Thayane Santos Siqueira, bolsista CAPES (Foto: Alana Santos Oliveira)
A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) é um órgão vinculado ao Ministério da Educação (MEC).
(Brasília – Redação CGCOM/CAPES)
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