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BOLSISTA EM DESTAQUE
Pesquisa com proteínas ajuda a combater doenças infecciosas
Graduado em Ciências Biológicas, Walter Beys da Silva é mestre e doutor em Biologia Celular e Molecular pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), onde também concluiu um dos dois estágios pós-doutorais e, atualmente, é professor. O segundo pós-doutorado foi realizado no instituto Scripps Research, nos Estados Unidos. Bolsista da CAPES nas três etapas da pós-graduação, o pesquisador trabalha em descobertas relacionadas às infecções que, ultimamente, impactam a população brasileira e mundial. Os seus estudos trazem contribuições tecnológicas para enfrentar dois desafios estratégicos do País e do mundo: saúde e de produção de alimentos. Walter foi eleito, em 2021, membro afiliado da Academia Brasileira de Ciências (ABC).
Qual é o conteúdo e objetivo da sua pesquisa?
Trabalho com a caracterização molecular de infecções, principalmente com a utilização de proteômica, que é um método de analisar de forma global o conjunto de proteínas de uma célula ou mostra biológica, para identificar o papel dessas proteínas em diferentes fenômenos biológicos. Nessa linha de atuação, também pesquiso os aspectos moleculares do controle biológico de pragas com o uso de microrganismos. Entre os modelos de estudo que tenho atualmente, destaco a Zika e suas doenças associadas, a Covid-19, a busca de moléculas com potencial bioativo, como anti-hipertensivos e antivirais, e o controle biológico de pragas de interesse agropecuário e sanitário, como, por exemplo, o carrapato bovino, com o uso de fungos filamentosos.
Há resultados? É possível mensurá-los?
Sim, ao longo dos últimos anos, a pesquisa possibilitou ampliar a compreensão em relação à infecção do carrapato bovino com o uso do fungo biocontrolador Metarhizium anisopliae, o que permite racionalizar a busca por isolados mais eficientes e efetivos desse agente infeccioso, visando controle de pragas. Além disso, quanto aos vírus, melhorou o entendimento das alterações moleculares da infecção de Zika, identificando muitas proteínas cuja expressão gênica é impactada e ligada a potenciais desfechos neurológicos. Também, com os estudos proteômicos da infecção de Zika, mostro uma potencial hipótese molecular que explica o porquê da cepa que circulou durante a epidemia de 2014-2015 ter burlado as defesas do sistema imune, diferentemente de outras cepas circulantes no mundo. Em relação à Covid-19, logo no início da pandemia, a equipe de pesquisadores que coordeno utilizou as experiências no estudo das alterações moleculares de infecções. Conseguiu analisar dados disponibilizados por outros grupos e montar um banco público de informações para acelerar a pesquisa e entendimento da nova doença. Identificou, ainda, nos primeiros meses da pandemia, doenças e desfechos neurológicos que ainda não haviam sido descritos com potencial risco de se agravarem ou serem associados com a infecção por SARS-CoV-2. Outra importante descoberta foi o quadro molecular associado à infecção que poderia ser favorável ao aumento de riscos durante a gravidez, principalmente o risco de desenvolvimento de pré-eclâmpsia, a hipertensão gestacional.
De que forma a sua pesquisa pode contribuir para a sociedade?
Do ponto de vista social, essa pesquisa da Covid-19 se tornou referência na elaboração de leis para a proteção e prioridade das grávidas em relação a medidas públicas de saúde, na pandemia. Do ponto de vista tecnológico, um processo de pedido de patente de novas moléculas com potencial antiviral e anti-hipertensivo está em andamento. De maneira geral, as pesquisas sobre infecções já demonstraram um grande impacto social, porque viabilizaram, como já citada, a prioridade das grávidas na vacinação e outras medidas protetivas na pandemia. Sobre o Zika, a pesquisa possibilitou um entendimento diferencial do quadro infeccioso e de potenciais doenças relacionadas. Além disso, a equipe de pesquisa publicou um relato de caso clínico de uma criança exposta ao vírus durante a gestação, cuja mãe entrou em contato conosco, após acompanhar nossos resultados publicados. Nossos achados nestas epidemias virais tiveram grande repercussão na imprensa nacional, o que também permitiu um contato diferenciado com a sociedade e a emissão de alertas, por meio de entrevistas e reportagens, contribuindo com a luta contra movimentos anticiência e de desinformação. Também trabalhamos com o desenvolvimento de novas estratégias para o controle de pragas e para criação de moléculas com potencial anti-hipertensivo e antiviral, com interesse estratégico para o Brasil e a indústria farmacêutica.
Qual é a importância da bolsa da CAPES?
A bolsa da CAPES é fundamental na formação de profissionais diferenciados para atuação em áreas estratégicas no País, tanto de pesquisadores de excelência quanto de professores, em todos os níveis, para diferentes áreas e para atuação em desenvolvimento tecnológico. Com a bolsa da CAPES, pude realizar minha pós-graduação em centros de pesquisa de excelência no Brasil, e atuar como pesquisador num dos melhores laboratórios de proteômica do mundo, nos Estados Unidos. Essas experiências impactaram minha vida de forma significativa e hoje são diferenciais na minha carreira e na minha atuação, como pesquisador, professor e em atividades de extensão. Tenho certeza de que muitas histórias de vida como a minha portam o selo de excelência CAPES de forma indissociável da vida profissional e pessoal.
A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) é um órgão vinculado ao Ministério da Educação (MEC).
(Brasília – Redação CGCOM/CAPES)
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