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Pesquisa com apoio da CAPES descobre maior bioma marinho do Brasil
A equipe de pesquisadores do projeto International Ocean Discovery Program (IODP) / Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), descobriu que o novo bioma recifal marinho amazônico tem área de pelo menos 50 mil Km2, o que o torna o maior sistema recifal do Brasil. O primeiro estudo sobre o novo bioma, publicado em abril de 2016, estimava a área em aproximadamente 9500 Km2, ou seja, pelo menos cinco vezes menor.
“Inicialmente havíamos estimado a área deste novo bioma em aproximadamente 9000 Km2. Em janeiro e fevereiro de 2017, observamos novas estruturas recifais pela primeira vez por meio de mergulhos com submarino a profundidades de até 200 m. Com isto, verificamos que o novo bioma se estende para muito além dos 9000 Km2, provavelmente 35 mil Km2, podendo chegar a 100 mil Km2 “, explica Fabiano Thompson, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Thompson compõe a equipe de pesquisadores juntamente com os professores Eduardo Siegle, da Universidade de São Paulo (USP); Ronaldo Francini, da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e Nils Asp, da Universidade Federal do Pará (UFPA). Também contribuíram para o projeto os professores Carlos Rezende, da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF) e Alberto Figueiredo, da Universidade Federal Fluminense (UFF).
Novo Bioma
Outra novidade é a própria arquitetura do bioma. O uso inédito de submarinos na região da margem equatorial na foz do Amazonas permitiu determinar a estrutura deste novo bioma em outra escala. “A visualização dos recifes por meio de mergulhos com submarino permitiu determinar em uma escala espacial muito mais refinada que em estudos anteriores (envolvendo geofísica, e sedimentologia), pois foi possível visualizar estruturas físicas (de centímetros a metros) que parecem desempenhar papel fundamental para a manutenção e desenvolvimento da biodiversidade neste imenso novo bioma. Vastas áreas consideradas outrora homogêneas por análises de sísmica e de sedimentologia são muito mais ricas em estruturas tridimensionais e biodiversidade do que se imaginava. Demonstrando, portanto, a relevância deste tipo de imageamento e análise in situ do fundo marinho”, ressalta o pesquisador.
A expedição deste ano foi realizada em parceria com a Organização não Governamental (ONG) ambiental internacional Greenpeace. “A parceria com o Greenpeace foi fundamental para as descobertas científicas e para o desenvolvimento do conhecimento na região. Além de possuir meios flutuantes e equipe de bordo altamente competente, o Greenpeace traz a tona a problemática da produção de energia limpa/renovável no contexto global”, acrescenta Thompson.
O professor da UFRJ destaca a importância desse projeto de cooperação que envolve laboratórios de diferentes instituições. “Estamos unindo forças de laboratórios de diferentes regiões geográficas da nossa nação, visando a ampliação do conhecimento da região menos conhecida do nosso país, da margem equatorial. Os laboratórios têm se qualificado para o desenvolvimento de pesquisas e a formação de recursos humanos de forma multidisciplinar e integrada”, enfatiza.
Para Thompson, o estudo tem relevância para a realidade brasileira, ao mesmo tempo que nos coloca frente a um paradoxo. “A margem equatorial brasileira (e da Amazônia) é a região mais cobiçada por grandes nações desenvolvidas e, ao mesmo tempo, a região menos conhecida da nossa nação. Nosso entendimento das riquezas e potenciais da margem equatorial é muito reduzido, nos colocando em uma posição desfavorável frente aos desafios globais”.
Desafios, que de acordo com o professor da UFRJ, são compatíveis com as dimensões dos biomas estudados. “Se considerarmos que na realidade, estamos em frente ao maior mega-bioma do planeta, estamos falando da maior floresta do mundo (Amazônia), do maior complexo de mangues do mundo (nas costas do Pará e Amapá) e o maior sistema recifal do Brasil, não há dúvidas que este estudo alerta para o tamanho do desafio. Conhecemos menos de 1% da margem equatorial brasileira. Pretendemos continuar as pesquisas científicas com o apoio da CAPES”, conclui.
IODP
O
International Ocean Discovery Program (IODP)
é um programa internacional de pesquisas marinhas, que visa investigar a história e a estrutura da Terra, a partir do registro em sedimentos e rochas do fundo do mar, e monitorar ambientes de sub-superfície. O programa reúne parte significativa da comunidade científica atuante nas ciências do mar em águas profundas de diversos países.
Para alcançar seus objetivos, usa avançada tecnologia em perfuração oceânica como instrumento essencial para novas descobertas, permitindo a disseminação de dados e amostras a partir de arquivos globais, particularmente para os países membros do programa.
O sistema de perfuração é apoiado por um parque analítico a bordo do Navio de Pesquisa JOIDES Resolution , composto por equipamentos de última geração voltados a pesquisa geofísica, geoquímica, microbiológica e paleoclimática. Além da infraestrutura a bordo, o IODP conta com apoio de numerosas instituições de pesquisa e formação de recursos humanos nos diferentes países que atualmente compõem o Programa.
Desde 2013, o Brasil, por meio de financiamento viabilizado pela Capes, é membro do consórcio JOIDES
Resolution
e colabora com o Programa IODP.
Atualmente, a participação do Brasil prevê uma vaga em cada expedição no Navio de Pesquisa do JOIDES
Resolution
(até 2 vagas podem ser disponibilizadas dependendo da demanda); utilização por parte de brasileiros de amostras previamente coletadas de programas anteriores como o
Deep Sea Drilling Project
(DSDP) e do
Ocean Drilling Program
(ODP) e atualmente coletadas pelo Programa IODP, por meio da preparação da “
Sample Request
” com suporte do Comitê Cientifico do Programa no Brasil; um membro no “
Facility Board
” do Navio de Pesquisa JOIDES
Resolution
; um representante brasileiro no “
Scientific Evaluation Panel
” (SEP) do IODP; e um representante brasileiro no Subgrupo “
Site Survey
” do SEP/IODP.
(Pedro Arcanjo)