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Pesquisa busca abordagens inovadoras para o câncer
Doutorando no Laboratório de Biofísica e Sistemas Nanoestruturados, no Departamento de Fisiologia e Farmacologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Walison Nunes é bolsista da CAPES e desenvolveu uma abordagem inovadora para o tratamento do câncer, utilizando LNPs como vetores de entrega de mRNA para imunoterapia. Ele foi selecionado como jovem pesquisador para representar o Brasil na Brazil Conference, evento realizado por Harvard e MIT, nos Estados Unidos, em abril de 2025. No Dia Mundial de Conscientização do Autismo, Walison destaca a importância da diversidade na ciência e acredita que sua perspectiva como pessoa autista contribui para o avanço do conhecimento.
Sobre o que é a sua pesquisa? Explique de forma mais detalhada o conteúdo do trabalho.
O trabalho busca desenvolver novas imunoterapias, uma abordagem terapêutica inovadora que utiliza o próprio sistema imunológico do paciente para combater o câncer. O foco é o câncer colorretal, um dos tumores sólidos mais agressivos, que pode afetar o reto e o cólon. Esse tipo de câncer representa um grande desafio tanto para os pacientes quanto para o sistema de saúde, sendo uma das principais causas de morte por câncer no Brasil e no mundo. De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca) e o National Cancer Institute (NCI), a incidência desse tumor tem aumentado, reforçando a necessidade de novas estratégias terapêuticas mais eficazes. O modelo que desenvolvemos se baseia no uso de nanopartículas lipídicas ionizáveis (LNPs), um sistema avançado de entrega de material genético às células. Essas nanopartículas funcionam como "transportadoras" de informações essenciais para reprogramar as células do organismo, carregando moléculas de mRNA e pDNA. De forma simplificada, podemos comparar o mRNA a uma "receita" que instrui as células a produzirem substâncias específicas. Representa um avanço significativo na busca por tratamentos mais eficazes e personalizados contra o câncer, combinando tecnologias de ponta para potencializar a resposta do sistema imunológico e aumentar as chances de sucesso no combate à doença.
O que vale destacar de mais relevante na sua pesquisa?
É o desenvolvimento de uma abordagem inovadora para o tratamento do câncer utilizando LNPs como vetores de entrega de mRNA para imunoterapia. Essa estratégia se destaca não apenas pela sofisticação tecnológica, mas pelo seu potencial de revolucionar o tratamento de tumores sólidos, como o câncer colorretal, que continua sendo um dos tipos mais agressivos e desafiadores no cenário oncológico global. Ao combinar a precisão da nanotecnologia com a capacidade do sistema imunológico de reconhecer e combater células tumorais, a pesquisa propõe uma nova forma de terapia personalizada.
De que forma a sua pesquisa pode contribuir para a sociedade?
Minha pesquisa, assim como tantas outras desenvolvidas no Brasil, evidencia o papel fundamental da ciência para o avanço da saúde pública e da inovação tecnológica. O investimento contínuo na pesquisa científica não apenas impulsiona o desenvolvimento de novas terapias contra o câncer, mas também fortalece a formação de cientistas altamente qualificados, garantindo a evolução do conhecimento e a soberania tecnológica do país. O impacto da ciência brasileira vai além das nossas fronteiras. Pesquisas realizadas aqui têm potencial para influenciar a medicina global, atraindo investimentos, estabelecendo colaborações internacionais e contribuindo para a democratização do acesso a tratamentos inovadores. O fortalecimento da ciência é um compromisso com a sociedade, garantindo um futuro com mais saúde, conhecimento e oportunidades para todos.
Como a bolsa da CAPES contribuiu para sua formação?
Foi essencial para a minha formação acadêmica e científica. Durante o meu mestrado, fui bolsista CAPES, e sem esse financiamento, teria sido praticamente impossível dar continuidade aos meus estudos. Venho de uma realidade periférica, nascido e criado em um dos maiores aglomerados da América Latina, o Aglomerado da Serra, em Belo Horizonte. Para mim, a bolsa não era apenas um auxílio acadêmico, mas a única fonte de renda que me permitia seguir na pesquisa. Esse suporte financeiro garantiu não apenas meu deslocamento diário até a universidade, mas também minha alimentação e até mesmo o auxílio em casa, contribuindo para que eu pudesse me dedicar integralmente à ciência. O impacto desse investimento vai além do individual: permite que jovens pesquisadores de diferentes contextos sociais tenham acesso à pós-graduação e possam desenvolver estudos que beneficiam toda a sociedade.
Quais são os principais desafios que uma pessoa autista enfrenta ao atuar como pesquisador?
Receber o diagnóstico de autismo na fase adulta trouxe respostas para muitos aspectos da minha vida que, até então, pareciam desconectados. Desde a infância, sempre apresentei sinais característicos do espectro autista, como hipersensibilidade sensorial, desafios na interação social e comportamentos repetitivos. No ambiente acadêmico, essas características se manifestam de maneiras que podem tornar a jornada da pesquisa desafiadora, mas também única e poderosa.
Um dos maiores desafios está na exigência constante de interação social. Como pesquisadores, somos frequentemente colocados em situações que demandam apresentações em congressos, networking e discussões acadêmicas intensas. Para uma pessoa autista, essas interações podem ser exaustivas, pois envolvem a leitura de códigos sociais muitas vezes sutis e a necessidade de manter um ritmo de comunicação que nem sempre é natural para nós. Além disso, o ambiente acadêmico é extremamente competitivo e, em alguns momentos, a empatia parece ser deixada de lado, o que pode tornar a experiência ainda mais desgastante.
Outro ponto desafiador é a hipersensibilidade sensorial. Barulhos intensos, cheiros fortes e luzes fluorescentes são estímulos que podem ser incômodos e até mesmo dolorosos. No laboratório, por exemplo, equipamentos sonoros, odores químicos e a sobrecarga de informações podem tornar o dia a dia mais desgastante. A hiperatividade cerebral também tem um impacto significativo: o cérebro está sempre processando múltiplas informações ao mesmo tempo, analisando detalhes minuciosos e buscando padrões. Esse nível de atividade mental constante pode levar a uma exaustão profunda, tanto física quanto emocional.
Por outro lado, o autismo também me proporciona habilidades que considero verdadeiros superpoderes na pesquisa. Minha capacidade de hiperfocar em um problema me permite mergulhar profundamente em questões científicas e buscar respostas de forma persistente. A curiosidade intensa e a atenção minuciosa aos detalhes são características que impulsionam a qualidade do meu trabalho, garantindo um nível de dedicação que pode fazer a diferença em descobertas científicas. Além disso, minha forma única de enxergar o mundo me permite encontrar soluções inovadoras e criativas para problemas complexos.
Nos últimos anos, tenho conhecido outros jovens pesquisadores autistas que também enfrentam desafios semelhantes, mas que, assim como eu, estão deixando sua marca no meio acadêmico. O reconhecimento da neurodiversidade na ciência é essencial para tornar a pesquisa mais inclusiva e para valorizar diferentes formas de pensar. A ciência precisa de mentes diversas, e acredito que o autismo, quando compreendido e respeitado, pode ser um grande diferencial para o avanço do conhecimento.
A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) é um órgão vinculado ao Ministério da Educação (MEC).
(Brasília – Redação CGCOM/CAPES)
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