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PRÊMIO CAPES DE TESE
Pesquisa aponta impacto de guia alimentar do Ministério da Saúde
O trabalho de Kamila Tiemann Gabie venceu a edição de 2024 do Prêmio CAPES de Tese na área de Saúde Coletiva. Doutora pela Universidade de São Paulo (USP), a pesquisadora conseguiu em seus estudos apontar o resultado do Guia Alimentar para a População Brasileira, um documento do Ministério da Saúde que foi pioneiro por considerar uma abordagem ampliada de alimentação saudável, que leva em conta não apenas os aspectos nutricionais, mas também questões culturais, sociais, ambientais e políticas. A tese tem como título “Guia Alimentar para a População Brasileira: implementação e potencial impacto na qualidade da alimentação da população”.
Fale da sua trajetória acadêmica, da graduação ao doutorado.
Foi realizada integralmente em universidades públicas brasileiras. Ingressei em 2010 no curso de Nutrição da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre, no primeiro ano em que a nota do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) foi adotada como forma de ingresso nas universidades federais do País. Durante a graduação, tive a oportunidade de realizar iniciação cientifica atuando em projeto de pesquisa ligado à saúde coletiva. Em 2016, ingressei no mestrado em Nutrição em Saúde Pública na Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP). Na época, minha orientadora no mestrado e doutorado, Patricia Constante Jaime, estava iniciando um projeto de pesquisa inovador para o desenvolvimento de tecnologias para a implementação do Guia Alimentar para a População Brasileira, um documento do Ministério da Saúde que apresenta recomendações para uma alimentação saudável para a nossa população. No doutorado, tive a oportunidade de realizar estágio de 12 meses no exterior, na Universidade de Waterloo, no Canadá, período que foi fundamental para que eu construísse uma rede de colaborações internacionais e desenvolvesse minhas habilidades de comunicação oral e escrita em inglês. A vivência acadêmica contribuiu muito para a minha formação como cidadã e como pesquisadora e foram determinantes para o sucesso da minha trajetória. Destaco que isso só foi possível por conta da existência de universidades públicas de excelência no Brasil, da democratização do acesso a essas instituições e das oportunidades de bolsas às quais tive acesso, tanto de auxílio à permanência estudantil, quanto de iniciação científica e de pós-graduação (mestrado e doutorado).
Sobre o que é a sua pesquisa? Explique o conteúdo da sua tese.
A tese teve como objeto de estudo o Guia Alimentar para a População Brasileira, um documento que foi pioneiro por considerar uma abordagem ampliada de alimentação saudável, que leva em conta não apenas os aspectos nutricionais da alimentação, mas também questões culturais, sociais, ambientais e políticas. O documento foi o primeiro no mundo a ter recomendações totalmente baseadas no nível de processamento dos alimentos, expressas por meio de linguagem simples e não quantitativa, formato que posteriormente inspirou diversos outros países no mundo a elaborarem guias similares. A pesquisa de doutorado teve como objetivo central investigar o potencial desse instrumento de impactar a alimentação da população. Partimos de uma análise das ações realizadas pelo Ministério da Saúde para implementar e disseminar seu conteúdo, visando explorar o seu potencial alcance. À luz dos achados dessa investigação, buscou-se entender a relação da adesão às suas mensagens baseadas em práticas alimentares, tais como cozinhar em casa e planejar refeições, com a qualidade do consumo alimentar, bem como os fatores que influenciam a adesão a tais práticas.
O que vale destacar de mais relevante na sua pesquisa?
Uma das grandes inovações deste guia foi a adoção de um formato de mensagens totalmente qualitativo. Isso significa que ao invés de recomendar quantidades ou número de porções de determinado alimento ou grupo alimentar, o documento usa termos como “evite” ou “na maioria das vezes” e sugere práticas que visam facilitar o alcance de uma alimentação saudável. Rotinas de compra e preparo de alimentos, horários e locais de consumo de refeições, compartilhamento de tarefas domésticas e planejamento de refeições são alguns exemplos de práticas abordadas. Mostramos que pessoas que aderem mais a essas práticas de fato apresentam uma alimentação mais saudável, ou seja, consomem mais alimentos recomendados, como feijão, frutas, verduras e legumes, e menos aqueles desestimulados, em particular os ultraprocessados. Além disso, a tese também mostrou que pessoas que têm maior facilidade em identificar alimentos ultraprocessados como não saudáveis têm maior adesão a essas práticas. Os resultados dessa pesquisa respaldam a necessidade para que se invista não só em grandes ações de educação alimentar e nutricional, mas também em políticas públicas que facilitem a adoção de práticas alimentares saudáveis.
De que forma a sua pesquisa pode contribuir para a sociedade?
A pesquisa é relevante e pode contribuir para a sociedade pois dá visibilidade e respaldo por meio de evidências científicas para um documento tão importante quanto o Guia Alimentar para a População Brasileira. Dados de inquéritos nacionais de monitoramento do consumo alimentar da população brasileira mostram que o consumo de alimentos ultraprocessados vem crescendo na população, o que é preocupante, devido as consistentes evidências do impacto negativo do consumo desses alimentos à saúde. A tese reforça e valida a pertinência do Guia enquanto um poderoso recurso para frear esse aumento, não só por servir como instrumento de educação em saúde, mas também enquanto indutor de políticas públicas e orientador de práticas de profissionais da saúde, sobretudo daqueles que atuam no Sistema Único de Saúde (SUS).
Qual a importância para você de sua tese ter sido escolhida a melhor na área?
É muito gratificante e simbólico receber o reconhecimento desse trabalho no ano em que celebramos dez anos do Guia Alimentar para a População Brasileira, um documento que provocou uma mudança radical nas políticas públicas de alimentação e nutrição no Brasil e no cuidado em alimentação e nutrição no SUS. Sou a autora da tese, mas esse reconhecimento não seria possível sem a orientação da professora Patrícia Jaime e do trabalho coletivo do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição em Saúde Pública da USP.
A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) é um órgão vinculado ao Ministério da Educação (MEC).
(Brasília – Redação CGCOM/CAPES)
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