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Pesquisa analisa presença das mulheres na zoologia
Thamires Luana Cordeiro é bióloga pela Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), mestre em Educação em Ciências na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e doutoranda em Educação em Ciências pela mesma instituição onde, com bolsa da CAPES, desenvolve um estudo sobre mulheres na Zoologia e as contribuições feministas para o ensino de ciências.
O que a sua pesquisa identificou acerca da disparidade de gênero na Zoologia?
Identificamos lacunas de pesquisas sobre mulheres na ciência em linhas gerais, bem como sobre mulheres no campo de estudo da Zoologia. À vista disso, foi identificado que as questões culturais influenciam no medo adquirido por meninas e mulheres associados a locais e animais pertencentes à biodiversidade e isso pode influenciar em diferentes aspectos da vida das mulheres, inclusive na escolha profissional.
Por isso, no que diz respeito às mulheres cientistas na Zoologia, pesquisas bibliográficas revelaram que a Zoologia ainda vive uma disparidade entre mulheres e homens. Além disso, um número expressivo de mulheres que iniciam seus estudos acaba desistindo no meio do caminho. Aquelas que seguem sofrem as consequências da falta de reconhecimento, considerando que não são convidadas para ministrar palestras, compor bancas de pós-graduação, e são menos convidadas para compor projetos.
Na Zoologia, é comum que pesquisadoras e pesquisadores realizem estudos em áreas florestais, matas e rios para coletar seus animais de estudo, e é comum que as mulheres sofram com o assédio nessas ocasiões, que vão desde o assédio moral, colocando em questionamento a sua capacidade de trabalho, até situações constrangedoras de assédio sexual. Desse modo, defendo a inclusão da História da Ciência no Ensino de Ciências, pois um ensino conceitual e conteudista acaba reforçando a imagem androcêntrica da ciência. Assim, a imagem da ciência é masculina. Por essa razão, é necessário abordar o campo de estudo sobre mulheres na ciência na educação básica com o objetivo de divulgar, fomentar e valorizar o papel das mulheres nas produções científicas. O objetivo da minha pesquisa de doutorado é investigar e apresentar as contribuições de mulheres cientistas na área de biodiversidade animal como uma dimensão epistemológica feminista para o Ensino de Ciências.
O que vale destacar de mais relevante no seu trabalho?
O número de mulheres orientadoras nos programas de pós-graduação em Biodiversidade Animal de universidades federais, localizadas no estado do Rio Grande do Sul, é de 30,51%, enquanto o de homens orientadores é de 69,49%.
Culturalmente as mulheres são educadas desde a infância para as atividades domésticas, para a maternidade, heteronormatividade e para reproduzir comportamentos e emoções atribuídos ao gênero feminino. Desse modo, as mulheres são mais suscetíveis a sentir medo, principalmente de locais como matas e florestas, e de animais como sapos, aranhas, lagartixas e insetos. A evidência pode estar associada à baixa representação de mulheres na Zoologia, uma vez que elas precisam realizar atividades de campo em meio a matas e rios para coletar os materiais biológicos de estudo.
A questão do medo acerca de matas e florestas, além de refletir a educação da mulher para ficar em casa, pode estar associada aos inúmeros casos de abuso e estupro em locais isolados. Além disso, os meninos, desde a infância, são mais livres para brincar e explorar os elementos da natureza, ou seja, muitos jogam bola em campos de futebol e acompanham adultos em atividades como a pesca, enquanto as meninas ficam reclusas ao lar, entretidas com brincadeiras como casinha, cozinha e boneca.
De que forma a sua pesquisa pode contribuir para a sociedade?
Espero, por meio da minha pesquisa, defender a inclusão da História da Ciência no Ensino de Ciências. Acredito que esse é o primeiro passo, uma vez que um ensino conceitual e conteudista impossibilita o ensino e aprendizagem da produção do conhecimento científico. Basta uma análise da História da Ciência para identificarmos casos de machismo, racismo e LGBTfobia em diferentes espaços e tempos. Assim, precisamos divulgar e valorizar o papel das mulheres na ciência desde o ensino básico, a fim de criar caminhos para a superação de uma imagem androcêntrica, racista e heteronormativa da ciência, bem como fomentar a participação das mulheres e meninas na ciência brasileira.
Espero também que a minha pesquisa inspire outros estudos sobre mulheres na ciência, bem como a criação de políticas de igualdade entre mulheres e homens na ciência brasileira, pois ainda vivenciamos o fenômeno do teto de vidro: somos iguais em números (em algumas áreas do conhecimento), contudo, somos minoria em cargos de chefia, liderança e representatividade.
De que forma a bolsa da CAPES contribui para sua formação?
Sou bolsista CAPES desde os meus primeiros anos de graduação até o doutorado. Além disso, fui contemplada com uma bolsa do Programa de Doutorado-Sanduíche no Exterior (PDSE), onde vou desenvolver parte da minha pesquisa na Universidade de Aveiro, em Portugal, o que, para mim, é a realização de um sonho. Posso dizer que as bolsas CAPES abriram portas na minha vida pessoal e acadêmica. Com essas bolsas, pude e posso investir na minha formação como pesquisadora, desenvolvendo pesquisas com mais tempo e qualidade, participando de eventos nacionais e internacionais, frequentando cursos, além de poder investir na compra de livros e materiais de estudo.
A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) é um órgão vinculado ao Ministério da Educação (MEC).
(Brasília – Redação CGCOM/CAPES)
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