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PRÊMIO CAPES DE TESE
Pesquisa analisa influência de intelectuais em projeto de Brasil
Doutora em História Econômica pela Universidade de São Paulo (USP), Fabiana Marchetti analisou as histórias de uma livraria e de uma editora fundadas em São Paulo. A partir disso, desenvolveu a pesquisa Livraria francesa e Difel: economia do livro, sociabilidade literária e pensamento universitário em São Paulo (1947-1982), com o objetivo de entender como determinados grupos intelectuais brasileiros atuaram na construção de um projeto de país para o Brasil no século XX. Pelo trabalho, venceu o Prêmio CAPES de Tese 2024, na área de História.
Sobre o que é a sua pesquisa?
Minha tese foi defendida no Programa de História Econômica da USP, na área de Economia da Cultura, e trata da história da Livraria Francesa e da editora Difusão Europeia do Livro (Difel).
As empresas-irmãs foram fundadas em São Paulo pelo francês Paul e Juliette Monteil, a primeira, em 1947, voltada à importação de livros franceses no Brasil; e a segunda no ano de 1951, dedicada à edição nacional, incialmente com um projeto de traduções de literatura e obras acadêmicas produzidos na França e, em seguida, desenvolvendo um catálogo de autores brasileiros, em que se destacou a coleção Corpo e Alam do Brasil, dirigida por Fernando Henrique Cardoso. Ambas as linhas editoriais visavam difundir livros acadêmicos de Ciências Humanas no Brasil e, especialmente, trabalhos de interpretação da realidade nacional, com temas relativos à indústria, questão racial, colonização, imigração, entre outros.
Diante desse objeto específico, a saber, a história de uma livraria e de uma editora, o trabalho discute de modo mais amplo como o mercado do livro contribuiu para a formação de redes de sociabilidade, a construção de projetos intelectuais e a difusão das pesquisas universitárias, que começam a ser produzidas de modo sistemático no período em questão, diante da consolidação de nossas primeiras universidades criadas nos anos 1930.
Entre o comércio e a produção de livros, estudantes e professores universitários se envolvem nas cadeias comercial e produtiva construídas em torno das referidas empresas. Eles atuam a partir de São Paulo, porém desenvolvem parcerias e redes que extrapolam este território ao longo dos anos, em uma realidade econômico-cultural que dialoga com a conjuntura política nacional no período, marcada pelos debates sobre o desenvolvimento do país.
A tese define, em síntese, um circuito de comunicação entre a universidade e sociedade através dos livros para compreender a intervenção de determinados grupos intelectuais brasileiros na elaboração, crítica e disputa de um projeto nacional para o Brasil em meados do século XX.
O que vale destacar de mais relevante na sua pesquisa?
Acredito que há duas dimensões a serem destacadas na pesquisa. A primeira é de ordem teórico-metodológica, em que trago a perspectiva econômica como eixo prioritário de uma narrativa histórica que discute aspectos da formação cultural e política do Brasil. O conceito “livro-mercadoria”, definido no campo da História do Livro por Lucien Febvre e Henri-Jean Martin, norteou as questões relativas ao meu objeto de estudo e permitiu a construção de uma interpretação totalizante sobre o período selecionado, destacando suas implicações para a formação social brasileira. Creio que a hierarquização da análise com base nessa concepção, sem descartar outras teorias e elaborações conceituais, criou um diferencial ao trabalho e pode chamar a atenção de futuros pesquisadores para o uso de um conceito fundador da área, hoje relativamente secundarizado por perspectivas em que predomina o viés “culturalista”.
A segunda é de ordem temática, no que diz respeito à escolha do livro como objeto legítimo para identificarmos processos econômico-sociais e relações humanas que contribuem para o desenvolvimento da História. Em minha concepção, há um desdobramento político a ser destacado nesta abordagem, na medida em que conseguimos identificar histórica e socialmente o potencial mobilizador e transformador do incentivo à educação, à cultura e à formação intelectual, especialmente em uma sociedade tão desigual como a brasileira.
Qual a importância para você de sua tese ter sido escolhida a melhor na área?
O reconhecimento do meu trabalho em nível nacional e as perspectivas abertas para o meu futuro profissional me motivam a, o quanto antes, tornar-me professora universitária e dar prosseguimento a outros projetos de pesquisa ao lado da carreira docente.
A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) é um órgão vinculado ao Ministério da Educação (MEC).
(Brasília – Redação CGCOM/CAPES)
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