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Percepção da entoação é tema de artigo
Graduada em Letras pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Luma Miranda é mestre e doutora em língua portuguesa pela mesma instituição e estuda o papel do canal visual na percepção da entoação de afirmações e perguntas no português brasileiro, seu projeto de doutorado.
Fale um pouco sobre o seu trabalho.
Minha pesquisa está na área da fonética acústica que estuda como nós, seres humanos, produzimos e percebemos os sons da fala. Quando analisamos elementos da fala que estão relacionados a sílabas ou unidades maiores que esta, e não mais com sons isolados, estamos lidando com a prosódia. A acentuação das palavras e o ritmo da fala são exemplos desses elementos. Há também a entoação que pode ser definida como a organização da variação de tons altos e graves ao longo dos enunciados. O meu trabalho é sobre a produção e a percepção multimodal da entoação de tipos de enunciados, como a afirmação e a pergunta, no português brasileiro. Isso significa que eu analiso tanto o sinal acústico da entoação (melodia da fala) quanto as expressões faciais manifestadas pelos falantes quando produzem esses enunciados.
Como surgiu o interesse em trabalhar com o assunto?
Ainda na graduação, me interessei pelos estudos da área de fonética e comecei a trabalhar em uma iniciação científica com o professor João Antônio de Moraes, que tem um enfoque em pesquisas sobre a prosódia do português brasileiro. No início, trabalhei com gravações de áudio sobre a variação prosódica dos dialetos brasileiros, depois passei a pesquisar a percepção da entoação. Dei continuidade à pesquisa sobre esse tema no mestrado e no doutorado. A partir do segundo ano de doutorado, o doutor Albert Rilliard, professor visitante da UFRJ e pesquisador do
Laboratoire d'Informatique pour la Mécanique et les Sciences de l'Ingénieur
(LIMSI-CNRS), em Orsay, na França, tornou-se meu coorientador.
Qual o objetivo da pesquisa?
O objetivo da minha pesquisa é compreender o papel do canal visual na percepção da entoação de afirmações e perguntas no português brasileiro. Meu maior interesse é saber se tanto a entoação quanto os gestos faciais contribuem para a composição do significado de afirmações e perguntas e se os ouvintes se beneficiam da combinação entre as pistas acústicas e visuais no processo de compreensão desses enunciados.
Qual a importância deste trabalho para a realidade brasileira?
Este trabalho apresenta, pela primeira vez, resultados robustos sobre o funcionamento das diferentes percepções da entoação modal do português brasileiro, que é um tema ainda pouco explorado no Brasil.
E no âmbito internacional?
No âmbito internacional, os resultados ajudam a compreender como se dá a interação entre o canal auditivo e o canal visual na percepção multimodal da fala, que é uma área multidisciplinar, por exemplo, com a psicologia. No artigo publicado, os resultados mostram que o canal visual opera de maneira integrada com o canal auditivo, beneficiando a compreensão de enunciados em contextos de fala ambígua e com áudio degradado.
O que ele traz de diferente daquilo que já é visto na literatura?
A inovação do meu trabalho está na combinação entre a análise prosódica desses enunciados e a análise de diferentes modalidades de percepção, como a auditiva, a visual e a audiovisual. No meu trabalho, foi verificado que, apesar do canal auditivo ser mais informativo, o canal visual ajuda os ouvintes a entenderem se o interlocutor está dando uma resposta ou fazendo uma pergunta.
Qual a importância do apoio da CAPES?
O apoio da CAPES foi fundamental. Com a bolsa da CAPES-PDSE, eu fiz um intercâmbio na Universidade de Tilburg, na Holanda, durante quatro meses. A experiência foi muito enriquecedora do ponto de vista acadêmico e pessoal. Mais tarde, um artigo com os resultados da minha pesquisa foi publicado na revista internacional de alto impacto Language and Speech, firmando, assim, uma parceria entre meu grupo de pesquisa no Brasil e o do meu orientador, o professor doutor Marc Swerts, na Holanda.
Quais são os próximos passos?
Pretendo dar continuidade ao meu trabalho, comparando a percepção multimodal de perguntas e afirmações de falantes nativos do português brasileiro com falantes não-nativos do português.
(Brasília – Redação CCS/CAPES)
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