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OCEANOGRAFIA
Peixes de poças de marés travam luta acirrada pela sobrevivência
Pesquisa conduzida pelo biólogo brasileiro Ryan Andrades, da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), apontou que os peixes que habitam poças de marés no litoral brasileiro estão sob forte pressão ecológica, pela alta competição por alimento e espaço entre espécies. Publicado na revista internacional Frontiers in Marine Science , em junho, o trabalho mostrou que estes animais, comumente conhecidos como amborés e peixes-macaco, vivem em estado de grande vulnerabilidade e correm risco de ter suas populações reduzidas ou, pior, eliminadas.
“As poças de marés, localizadas nos recifes costeiros e insulares, são, a exemplo dos mangues, berçários de vida para a fauna marinha. Elas têm populações específicas, que nascem e vivem nestes locais durante todo seu ciclo de vida, e dependem do equilíbrio do ecossistema para sobreviver. Entretanto, nosso estudo mostrou que algumas espécies de peixes estão em situação de grande vulnerabilidade por causa da competição com outras espécies”, observa Ryan, ex-bolsista da CAPES no doutorado, e autor principal do artigo.
A investigação foi feita nas poças das ilhas oceânicas brasileiras de Fernando de Noronha (PE), Trindade (ES) e no Atol das Rocas (RN) assim como em praias da costa continental de Salinópolis, no Pará, Jericoacoara, no Ceará, e Anchieta, no Espírito Santo. A pesquisa estimou quais espécies de peixes estariam sobre forte pressão de competição intraespecífica (competição entre membros da mesma espécie) e quais traços ecológicos estariam relacionados a um potencial sucesso, ou insucesso, na competição interespecífica (competição entre diferentes espécies).
“Analisamos isótopos estáveis de carbono e nitrogênio, que são biomarcadores muito utilizados para estimativas de dieta e posição trófica na cadeia alimentar de organismos. Dessa forma, nós verificamos que peixes criptobentônicos, ou seja, aqueles peixinhos geralmente de tamanho inferior a 5 cm que vivem junto ao fundo sempre escondidos em fendas ou no sedimento, são potencialmente vulneráveis a competição com outras espécies. Isso se deve pelo pequeno nicho ecológico que estas espécies possuem, muito por causa de estarem restritos a territórios muito pequenos e consumirem uma baixa diversidade de recursos, quando comparado a peixes maiores”, destaca Ryan.
O cientista explica que a vulnerabilidade destes peixes, normalmente esquecidos pela ciência marinha, merece uma atenção total das autoridades e da comunidade científica. Os potenciais impactos causados por fatores como acidificação dos oceanos, derramamento de óleo ou elevação do nível do mar podem afetar diretamente os recifes rasos, com menos de três metros de profundidade: “As espécies que vivem nestes ambientes entre as marés serão provavelmente as mais afetadas, pois a maioria é residente destes recifes e não têm capacidade para se deslocar para áreas não afetadas”.
Com apoio da CAPES durante o doutorado oferecida pelo Programa Demanda Social, Ryan Andrades foi beneficiado também pelo PDSE para a realização de doutorado-sanduíche no Trinity College Dublin , na Irlanda. Atualmente, além de pesquisar peixes de poças de marés, Andrades, que já tem 33 artigos publicados em periódicos internacionais especializados em ecologia, biologia da conservação e poluição ambiental, estuda também o impacto da poluição por plástico em ambientes naturais e na fauna.
Programa de Demanda Social (DS)
O
Programa de Demanda Social
da CAPES apoia alunos de programas de pós-graduação
stricto sensu
, oferecidos por instituições de ensino superior (IES) públicas, por meio da concessão de bolsas de estudo nos níveis de mestrado e doutorado.
Programa de Doutorado-Sanduíche no Exterior (PDSE)
O
Programa
permite que alunos matriculados em cursos de doutorado no Brasil façam parte de seus estudos em instituição no exterior. Após a conclusão da bolsa, que dura entre quatro e seis meses, eles devem retornar ao País para a defesa da tese.
O artigo do pesquisador brasileiro, produzido com outros seis cientistas, está disponível em:
https://www.frontiersin.org/articles/10.3389/fmars.2021.659579/full
Legenda das imagens:
Banner: Poças de marés no litoral brasileiro (Foto: Arquivo pessoal)
Imagem 1:
Praia no Atol das Rocas
Praia no Atol das Rocas
(Foto:
Gabriel Ferreira)
Imagem 2:
Pesquisador Ryan Andrades fez pesquisa com Bolsa da CAPES
(Foto: Ryan Andrades)
Imagem 3:
Litoral de Abrolhos
(Foto:
Helder Guabiroba
)
Imagem 4:
Peixe Malacoctenus brunoi (Labrisomidae) na Ilha da Trindade
(Foto: Ryan Andrades)
A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) é um órgão vinculado ao Ministério da Educação (MEC).
(Brasília – Redação CCS/CAPES)
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