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Oceanógrafa estuda evolução de peixes de recifes no Atlântico
Thais Lemos Quintão é graduada em Oceanografia pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), mesma instituição em que hoje é doutoranda em Biologia Animal. A pesquisadora foi bolsista da CAPES no mestrado, também na Ufes, etapa na qual realizou estudo sobre a história evolutiva dos peixes do gênero Priolepis, no Atlântico. Ela constatou que barreiras biogeográficas e mudanças climáticas são fundamentais para a formação de espécies de recifes naquele oceano e encontrou indícios de que a cadeia Vitória-Trindade, cordilheira submersa na costa do Brasil com mais de mil quilômetros de extensão, pode facilitar a colonização das ilhas mesoatlânticas por espécies da costa brasileira.
Quando começou a trabalhar com peixes?
Trabalho com peixes desde 2014, na graduação. Sempre tive afinidade pela área de genética. Comecei a atuar no Laboratório de Ictiologia (Ictiolab) da Ufes, com sequenciamento genético para identificar, a partir de dados moleculares, um híbrido fruto da reprodução de duas garoupas de espécies diferentes. Fui orientada pelos professores Jean-Christophe Joyeux e Thiony Simon.
No mestrado, sabia que queria continuar a trabalhar com genética aplicada à ictiologia. Após um grande esforço de coleta dos pesquisadores Raphael Macieira e Thiony Simon, surgiu a oportunidade e o convite para analisar os dados do gênero Priolepis.
Explique seu trabalho de mestrado.
Havia dados sobre os Priolepis disponíveis no laboratório. Várias espécies haviam sido coletadas e seria uma oportunidade interessante para analisar a história evolutiva desses peixes usando marcadores moleculares e sequenciamento genético. A princípio, seria só sobre o
Priolepis dawsoni
, espécie encontrada no Brasil, mas incluímos
Priolepis hipolitti
e
Priolepis ascensionis
, presentes no Atlântico.
A origem do gênero Priolepis data de 28 milhões de anos, no Indo-Pacífico (região que compreende os Oceanos Índico e Pacífico). Por meio do sequenciamento genético, descobrimos que a história evolutiva desses peixes no Atlântico foi moldada pela formação de barreiras biogeográficas. O primeiro movimento se deu há 16 milhões de anos, com o surgimento do Mar Mediterrâneo, e, posteriormente, há 12 milhões de anos, com o início do desague do Amazonas no Oceano Atlântico, separando as populações do Caribe e Brasil.
E quais foram os principais achados?
A origem das espécies
P. hipolitti
,
P. dawsoni
e
P. ascensionis
é recente e está relacionada à separação de seus ancestrais por barreiras biogeográficas, sendo estas a Barreira do Amazonas e a Barreira Meso-Atlântica. A
hipolitti
foi a primeira a surgir, há cerca de 3,5 milhões de anos, e se encontra em uma região que vai da Carolina do Norte (EUA) até a Venezuela. Em seguida, veio a
dawsoni
, há 2,5 milhões de anos, e que vive principalmente no Brasil, mas tem sido encontrada no sul do Caribe. Por último, a
ascensionis
, presente nas ilhas mesoatlânticas britânicas Ascensão e Santa Helena, no meio do caminho entre a América do Sul e a África.
O principal achado é que encontramos indícios da importância da cadeia Vitória-Trindade para colonizar as ilhas mesoatlânticas. A cadeia pode ter servido como um trampolim para a chegada do Priolepis a essas ilhas. Isso mostra que ela tem um papel muito mais importante do que sabíamos para a formação da biodiversidade do Atlântico. Até então, não esperávamos que a cadeia pudesse influenciar na colonização de espécies mesoatlânticas, que estão distantes da costa brasileira.
Por que é importante estudar a evolução dessas espécies?
A associação de dados moleculares com informações geológicas e climáticas nos permite compreender como mudanças no meio-ambiente influenciam a diversidade, história evolutiva e origem de espécies marinhas. A principal questão de entendermos os padrões passados é facilitar uma previsão para o futuro. Compreender como as espécies se comportam em determinadas modificações do meio-ambiente é um passo para saber como será daqui para frente.
Isso é especialmente importante no cenário que vivenciamos hoje, com mudanças climáticas mais aceleradas. O aquecimento global também traz modificações ambientais, como o aumento do nível do mar, que comprovadamente pode alterar a distribuição de espécies e extinguir muitas populações. Estamos acelerando esse processo e desconhecemos as consequências.
Qual foi a importância da bolsa da CAPES para sua pesquisa?
Nunca tive a opção de fazer mestrado sem bolsa. Tenho filho e precisava de dinheiro para que ele pudesse frequentar uma creche. A bolsa pagou creche, além de alimentação e transporte, ou seja, viabilizou meus estudos. Continuo a ser bolsista no doutorado, mas desta vez pela Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo (Fapes).
Quais os próximos passos?
Tenho duas respostas para essa pergunta. Os passos que tenho dado no doutorado são outros. Nele, estudo a relação entre a ecologia trópica e a evolução de peixes criptobetônicos. Quero entender como a ecologia trópica influencia na evolução e na redução de tamanhos desses peixes.
Para avançar nos dados da minha pesquisa de mestrado, os próximos passos incluem reunir espécies na cadeia Vitória-Trindade e seus parentes nas ilhas mesoatlânticas, como Ascensão e Santa Helena. Falta saber quais espécies podemos usar como modelo para ver se esse padrão migratório se repete.
Legenda das imagens:
Imagem 1:
Pesquisador Raphael Macieira, da Ufes, recolhe espécimes de Priolepis dawsoni
(Foto: Arquivo pessoal
de Raphael Macieira)
Imagem 2:
Bolsista da CAPES no mestrado, Thais Quintão atua no Laboratório de Ictiologia da Ufes
(Foto: Arquivo pessoal
de Thais Quintão
)
Banner e imagem 3:
Thais Lemos Quintão segura um peixe de tamanho parecido aos do gênero Priolepis
(Foto: Arquivo pessoal
de Thais Quintão
)
A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) é um órgão vinculado ao Ministério da Educação (MEC).
(Brasília – Redação CCS/CAPES)
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