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Observatório da Educação articula pós-graduação e educação básica para tratar de inclusão e diversidade
Reunidos em Brasília para o 4º Seminário do Programa Observatório da Educação (Obeduc) , que acontece nos dias 27 e 28 de novembro, coordenadores de cada uma das regiões do Brasil apontam o programa como catalisador de estudos e pesquisas em educação, assim como da articulação entre pós-graduação, licenciaturas e escolas de educação básica, fomentando temas ainda pouco explorados, como educação especial, indígena e do campo.
Um dos casos positivos é o trabalho que vem sendo desenvolvido na Universidade de São Paulo (USP), cujo o foco é a educação especial. "Desenvolvemos tecnologia e conhecimento na universidade e aplicamos essa tecnologia/recursos na educação para melhoria da qualidade, do rendimento das crianças. Graças ao apoio do Observatório da Educação, publicamos 60 livros, desenvolvemos 40 softwares, publicamos 20 teses e dissertações, os livros foram distribuídos a 70 mil crianças surdas de todos os municípios do Brasil. Se tinha uma escolha com dois surdos, ali foi distribuído nosso dicionário de libras, que pesa 7 kg", enfatiza o coordenador Fernando Capovilla.
Em São Paulo, o Obeduc entrou como reforço e passou a financiar o projeto premiado e reconhecido em outros países. "Começamos em 2001, ganhamos o Prêmio Jabuti, elogiado internacionalmente como o melhor dicionário de língua de sinais – libras. Fomos expandindo, já temos oito edições posteriores. Estamos com 16 mil sinais de todo o Brasil. Graças ao Observatório da Educação nós avaliamos o impacto do novo acordo ortográfico sobre a alfabetização das crianças especiais e percebemos que ele aumentou a dificuldade de leitura e escrita do português e estamos descobrindo como sanar a dificuldade das crianças. Só temos a agradecer ao programa", enfatiza o coordenador.
Segundo o coordenador, o programa possibilita articular os esforços de educadores, do pessoal da educação superior nos níveis de graduação, mestrado e doutorado. "Os professores são bons e idealistas, querem ensinar seus alunos. Eles amam suas crianças e querem ensinar, então usam muito os materiais produzidos. Antigamente não tinha tanto recurso para o ensino especial e hoje esse material já pode ser encontrado. Poder ajudar essas pessoas é maravilhoso e o Obeduc nos permite ajudar essas pessoas", conclui.
Fortalecimento da pós-graduação
O que se tem observado é que o Obeduc tem atuado no fortalecimento das linhas de pesquisa de programas de pós-graduação das instituições que está presente. Um exemplo, é o trabalho em educação escolar indígena realizado pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), como afirma a coordenadora Ana Lúcia Vulfe Notzold.
"Em 2009, começamos com o projeto Observatório da Educação Escolar Indígena e hoje conseguimos criar uma linha pesquisa no programa de pós-graduação em história, em história indígena. Dos nossos alunos da época – seis alunos de iniciação científica que eram do Observatório – cinco passaram para a seleção do mestrado e vão defender a dissertação já em fevereiro, alunos formados durante o Observatório. Temos também uma doutoranda que deve defender ano que vem e já passou no concurso de uma universidade federal como professora", conta.
Situação semelhante aconteceu na Universidade de Brasília (UnB), onde o Obeduc atua com pesquisas em educação no campo, explica a coordenadora Monica Castagna Molina. "O programa traz diversos benefícios, como o fortalecimento do processo de produção do conhecimento na área na qual estamos atuando e teve um impacto relevante nas várias universidades que atuam no nosso projeto. Graças ao programa, agora na UnB temos linhas de mestrado em doutorado em Educação no Campo, assim como nas outras universidades que estão no nosso Observatório, já que é um projeto em rede. O Observatório ajudou a fortalecer linhas de pesquisa nessa área. No nosso primeiro projeto tivemos 11 dissertações e sete teses produzidas durante os quatro anos com esse tema da educação superior e educação no campo. Trata-se de um grande apoio, pois consolida áreas que ainda não têm tanto reconhecimento, tanta legitimidade na pesquisa", afirma.
Na Universidade Federal do Pará (UFPA) o foco do Observatório da Educação são as comunidades ribeirinhas e segundo a coordenadora Isabel Cristina Rodrigues de Lucena o programa promove uma inter-relação entre professores da educação básica, mestrandos, doutorando e alunos de iniciação científica.
"Os estudantes de graduação fazem conosco um trabalho tanto da iniciação científica como primeiro elemento, mas também trabalhos de extensão como substituir os professores da educação básica das ilhas que atendemos quando esses professores estão conosco na formação nas universidades. Os mestrandos e doutorandos desenvolvem pesquisa tanto nesse aspecto da formação do professor de escolas ribeirinhas quanto na formação inicial desses que estão substituindo os professores por lá. Tem uma rede interligada", explica.
De acordo com Isabel, o grupo formado na UFPA, tem expectativas de continuidade dos estudos e desenvolvimento de novos projetos. "Cada participante do Obeduc assume um papel ligado à expectativa. O licenciando não é professor, mas será, então assume o lugar do docente para que esse possa fazer uma qualificação. Mas o estudante não assume de qualquer jeito. Ele também passa pelo trabalho de formação na universidade, com trabalhos que estão envolvidos. Além disso, a vivência no projeto desperta interesse de se desenvolver ainda mais, fazer um mestrado, um doutorado".
Impacto nas comunidades
Além de promover impactos positivos nos programas de pós-graduação que atua, as experiências do Observatório da Educação também tem refletido positivamente nas comunidades em que as pesquisas são realizadas. "Temos sentido um impacto na escola indígena: trabalhamos muito com a formação do professor indígena, com a parte de produção de material didático específico, inclusive bilíngue. Percebemos que esse material é o principal suporte que eles utilizam em sala de aula, como apoio. Com o Obeduc que começamos neste ano, mapeamos junto aos indígenas as necessidades nas escolas. Estamos com nove escolas em uma terra indígena com 15 aldeias – três de educação fundamental, uma de ensino médio e as outras são multiseriadas. Percebemos principalmente a falta de material didático, especialmente para a alfabetização", ressalta Ana Lúcia, coordenadora da UFSC.
Para a professora, a inciativa de Santa Catarina expande a influência positiva em rede. "Percebemos, além de todo o movimento na aldeia, a melhoria da autoestima das crianças e dos professores indígenas. Toda a comunidade, de certa maneira, é atingida diante dessa visibilidade que está sendo dada para a educação escolar indígena. Desenvolvemos também subprojetos dentro do projeto. Percebemos que um projeto cria uma rede de subprojetos, que esperamos que traga muitos benefícios", afirma.
Comprometimento
Todos coordenadores concordam que uma das grandes forças do Observatório da Educação é a integração e comprometimento que o programa promove entre todos os atores envolvidos, de lideranças indígenas a coordenadores de pós-graduação.
O programa na Universidade Federal de Alagoas (UFAL) trouxe um diálogo em fluxo permanente e contínuo entre a universidade e a educação básica, afirma a coordenadora Marinaide Lima de Queiroz Freitas. "Não é que antes não existisse, mas havia uma distância, era um diálogo fragmentado. Agora, o diálogo entre professor da universidade, professor da educação básica e estudante se tornou colaborativo. O envolvimento de todos – professores da educação básica, graduandos, mestrandos – quebra relações de poder que a universidade pode ter. Todos fazem parte de um grupo colaborativo e a gente percebe que as experiências e conhecimentos são diferentes e não desiguais em questão de qualidade. Esse é um cuidado muito grande que nós da universidade temos que ter: saber escutar, saber ouvir", revela.
Para Monica Castagna Molina, da UnB, trata-se de uma integração histórica. "Um dos fatores que tem sido muito importante é a possibilidade de desencadear uma ação sinérgica de envolver diferentes níveis da educação com uma mesma intenção, em uma mesma direção. Isso, sem dúvida, potencializa o atendimento do objetivo que cada uma das pesquisas se propõe. É uma coisa histórica na relação da educação superior com a educação básica, que era só ir lá e coletar dados e não ficar nada de concreto e positivo para a educação básica. O observatório vem numa outra lógica de pesquisa: possibilita uma ruptura nessa perspectiva, que é de fato vincular a educação superior com a educação básica, fazendo também no processo de pesquisa da educação superior a qualificação dos docentes que atuam na educação básica. Essa é a grande qualidade do programa e assim tem desencadeado uma estratégia de qualificação dos docentes na rede", afirma.
Instituído em 2006, o programa Observatório da Educação é fruto de parceria entre a Capes e o Inep.
(Natália Morato e Pedro Matos)
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