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PRÊMIO CAPES DE TESE
Obras literárias ajudam a entender a educação brasileira
Por que a educação no Brasil enfrenta dificuldades desde sempre, com problemas a partir da base? A tese de doutorado de Marco Antonio de Santana, vencedor do Prêmio CAPES de Tese na área de Educação, fez uma análise crítica de vestígios do passado a partir de duas obras do autor modernista Mário de Andrade (1893-1945), Amar, verbo intransitivo e Atrás da Catedral de Ruão, para analisar a sociedade que se formava e a pouca importância que se dava à educação.
De acordo com o autor, bolsista da CAPES no doutorado em Educação pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), a pesquisa “mostrou o desapreço de parte da elite paulistana pela educação, reduzida a um caráter ornamental. As mulheres, expostas como simples objeto nas tramas cotidianas, a velhice, apresentada como fase da insignificância, e as normas jurídicas como meio de conservar interdições”. Ao trabalhar com obras literárias que retratavam a sociedade da época, Santana classifica seu estudo como um convite à reflexão “sobre o que mais nos tem educado para a vida além dos mecanismos tradicionais escolares”.
A vontade de estudar o cenário de quase um século atrás a partir de livros nasceu em conversas com Raquel Discini de Campos, historiadora da Educação e orientadora do projeto. O romance e o conto foram pontos de partida, explica Santana, para compreender as representações das professoras que viviam em São Paulo à época, o que foi complementado com outras fontes bibliográficas para verificar se havia verossimilhança. “O que nos trouxe tranquilidade nas decisões é a compreensão de que a literatura é artefato da cultura, portanto passível de ser analisada pelos historiadores do presente a fim de compreender o passado educativo”, explica.
O estudo feito a partir disso mostra o conceito de educação de forma mais ampla do que somente na escola, “mas muito mais enraizada nas relações estruturais da sociedade”, afirma o autor. “A pesquisa nos ajuda a entender porque a educação brasileira se tornou o que é hoje, especialmente quando se demarca o espaço público e o privado, da mesma forma que contribui para compreender porque a profissão docente é entendida e tratada da forma como é”, completa. Ao voltar ao passado para explicar o presente, aliás, Santana criou um marco pessoal: defendeu tese em 2022, exatamente um século depois da Semana de Arte Moderna, da qual Mário de Andrade fez parte, em 1922.
Sobre o autor
Marco Antonio de Santana é mineiro de Belo Horizonte, graduado em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas), em Pedagogia pela Faculdade Alfa América e em História pelo Centro Universitário Leonardo da Vinci (Uniasselvi). Mestre em Direito pela PUC Minas e doutor em Educação pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), cumpriu esta última com bolsa da CAPES.
Prêmio CAPES de Tese
Considerado o Oscar da ciência brasileira, o Prêmio CAPES de Tese recebeu este ano a inscrição de 1.469 trabalhos, o maior número em 18 edições já realizadas. São reconhecidos os melhores trabalhos de doutorado defendidos em programas de pós-graduação brasileiros. Dentre os 49 premiados, três irão receber o Grande Prêmio CAPES de Tese, um de Humanidades, outro de Ciências da Vida e um de Ciências Exatas, Tecnológicas e Multidisciplinar. A solenidade de entrega ocorre em dezembro.
A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) é um órgão vinculado ao Ministério da Educação (MEC).
(Brasília – Redação CGCOM/CAPES)
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