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Método inovador identifica contaminação de petróleo em pescados
Ana Paula Zapelini de Melo é formada em Ciência e Tecnologia de Alimentos pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), e doutora em Ciência de Alimentos pela mesma instituição. Bolsista da CAPES no doutorado, ela trabalhou no desenvolvimento de um método analítico que mostra a contaminação de peixes por petróleo. Sua pesquisa teve apoio do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) e foi reconhecida internacionalmente pelo United States Department of Agriculture (USDA).
Fale sobre sua pesquisa.
Durante o meu doutorado atuei junto ao Ministério da Agricultura e Pecuária na investigação de um dos maiores desastres ambientais já registrados no mundo, em que o Brasil teve boa parte de seu litoral afetado. O evento causou a contaminação com petróleo de mais de 4 mil km de litoral, levando à interdição de praias e atividades pesqueiras. O nosso estudo foi responsável por desenvolver um método analítico oficial para a determinação de hidrocarbonetos policíclicos aromáticos, os HPA, que são os principais marcadores de contaminação petrogênica em alimentos.
O que foi desenvolvido?
Para dar apoio às decisões governamentais de enfrentamento ao derramamento de petróleo, foram desenvolvidos métodos de extração de alta eficiência e detecção por espectrometria de massas. Inicialmente, nosso estudo utilizou máquinas de café espresso adaptadas para extração de HPA em amostras de pescado. A máquina simula a extração por líquido pressurizado (PLE), foi usada em um momento de emergência sanitária. Naquela ocasião, precisávamos de um método rápido e de baixo custo, capaz de fornecer resultados metrológicos confiáveis. Os resultados iniciais fizeram parte do primeiro relatório oficial sobre a contaminação de pescado com HPA após o desastre. Mais tarde, o laboratório adquiriu um novo equipamento de extração dispersiva guiada energizada (EDGE). Um método avançado EDGE foi então desenvolvido para atender a esse propósito, proporcionando inovação química ao estudo. Isto permitiu uma extração ainda mais rápida e reprodutível de HPA de diversas matrizes biológicas, aumentando a frequência analítica necessária para o controle oficial de pescado.
Quais foram os resultados?
Com os métodos analíticos desenvolvidos, foi possível consolidar o primeiro programa oficial de monitoramento de HPA em pescado no Brasil. Desde 2019, foram analisadas mais de 400 amostras e, embora uma baixa taxa de não conformidade tenha sido identificada (menos de 1%), foram quantificados HPA em 23% das amostras de pescado. Com os dados do monitoramento foi possível avaliar o risco à saúde dos consumidores. Os resultados dessa avaliação indicaram baixa preocupação à saúde dos consumidores. No entanto, devido à natureza carcinogênica dos HPA, enfatizamos a importância de manter o monitoramento desses compostos, especialmente considerando os sucessivos reaparecimentos de fragmentos de petróleo no litoral do Brasil, mesmo quatro anos após o desastre inicial.
Em paralelo, nosso estudo também respaldou a investigação forense do desastre, conduzida pela Polícia Federal, com o objetivo de responsabilizar os envolvidos nos crimes ambientais. A determinação de HPA em aves, mamíferos e répteis desempenhou papel fundamental, contribuindo para o veredicto: um navio petroleiro de bandeira grega foi indiciado pelos crimes de poluição, descumprimento da política de proteção ambiental e danos às unidades de conservação.
De que forma a sua pesquisa contribuiu para a sociedade?
A pesquisa teve importantes implicações na orientação de decisões e políticas relacionadas à saúde pública e à qualidade do pescado. Os resultados obtidos forneceram informações essenciais às autoridades reguladoras de alimentos, auxiliando nas tomadas de decisão e protegendo a saúde dos consumidores. Além disso, a pesquisa também contribuiu para a sustentabilidade da economia pesqueira, o que é particularmente relevante em contextos de desastres ambientais. Nestas situações, onde a contaminação do pescado pode abalar a confiança dos consumidores e prejudicar a indústria pesqueira, que desempenha um papel vital na economia nacional, nossa pesquisa contribuiu para a proteção dos interesses econômicos do País.
A sua pesquisa já recebeu alguma premiação?
A pesquisa foi reconhecida e premiada em diversos contextos. Ela resultou na minha tese de doutorado e na publicação de artigos científicos em revistas internacionais de alto fator de impacto, como Food Analytical Methods, Food Research International e Microchemical Journal. O conhecimento adquirido durante a fundamentação teórica gerou contribuições em trabalhos apresentados em simpósios/conferências nacionais e internacionais. Além disso, recebeu reconhecimento de importantes órgãos internacionais, como o United States Department of Agriculture (USDA) e a International Spill Control Organization (ISCO). A pesquisa também recebeu menção honrosa no Simpósio Internacional da Associação Brasileira para a Proteção dos Alimentos (Abrapa) em 2023.
O que vale destacar da sua pesquisa?
É importante destacar o trabalho colaborativo e interdisciplinar da equipe envolvida. O comprometimento incansável da equipe composta pelo LFDA-RS, SLAV-SC e UFSC, em especial aos doutores Fabiano Barreto, Rodrigo Barcellos Hoff, Luciano Molognoni e Heitor Daguer, bem como a mestranda Thais de Oliveira, permitiu abordar a complexidade do problema de uma forma abrangente e inovadora. Nossa equipe não apenas desenvolveu métodos analíticos, mas também os aplicou com sucesso na avaliação da segurança do pescado após o desastre. Além disso, vale destacar que o estudo foi conduzido durante todo o período da pandemia, o que exigiu um esforço adicional para garantir a segurança e a continuidade das pesquisas. Isso demonstra a importância do esforço conjunto de pesquisadores e agências reguladoras no enfrentamento de um dos maiores desastres com petróleo já registrados no mundo.
Qual é a importância da bolsa da CAPES?
A bolsa da CAPES desempenha um papel de extrema importância no cenário da pesquisa e na formação de pesquisadores no Brasil. Ela representa não apenas um suporte financeiro essencial para os estudantes, como também é um investimento fundamental no futuro da ciência e da inovação no País. Com uma bolsa de estudos da CAPES pude me dedicar exclusivamente às atividades de pesquisa do doutorado. Isso foi imprescindível para aprofundar meus estudos, amadurecer profissional e cientificamente, realizar experimentos, coletar dados e contribuir para o avanço do conhecimento no campo da Ciência de Alimentos. Reitero aqui, portanto, o meu profundo agradecimento à CAPES por seu papel essencial na minha trajetória como pesquisadora.
A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) é um órgão vinculado ao Ministério da Educação (MEC).
(Brasília – Redação CGCOM/CAPES)
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