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Matemática da UnB conquista seu 3º prêmio internacional
Jaqueline Godoy Mesquita, professora e pesquisadora brasileira da Universidade de Brasília (UnB), está se tornando referência mundial na ciência da matemática. Recentemente ela recebeu mais um importante prêmio, desta vez concedido pelo governo italiano, e foi a única cientista agraciada das Américas do Sul e Central e Caribe. Antes já havia recebido o prêmio internacional Bernd- Aulbach prize for students em Novacella , Itália, oferecido pela International Society of Difference Equations , e o Prêmio Para Mulheres na Ciência, na categoria Matemática, da L’Oréal , em parceria com a Unesco Brasil e a Academia Brasileira de Ciências (ABC).
Além destas premiações, Jaqueline Godoy é Embaixadora do Committee for Women in Mathematics da União Internacional de Matemática (IMU), e, desde meados de 2021, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Matemática (SBM). Também participa do Comitê Executivo dos Jovens da Academia Mundial de Ciências (2022-2025) e foi integrante da Academia Mundial de Ciências (2018-2022).
Como é ganhar mais um reconhecimento internacional?
Sinto-me muito honrada de receber mais essa premiação internacional como fruto do meu trabalho. É muito gratificante receber este reconhecimento pela ciência que venho desenvolvendo e, com isso, poder inspirar outras mulheres a também seguirem nesta área. Sinto como se todo o meu trabalho, esforço e dedicação de todos esses anos tivessem realmente valido a pena.
Conte-nos a sua trajetória.
Eu fiz graduação em Licenciatura em Matemática pela UnB, mestrado e doutorado no Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da Universidade de São Paulo (USP), com período sanduíche na Academia de Ciências da República Tcheca. Neste período na República Tcheca, recebi bolsa de estudos da CAPES. Também, após o doutorado, recebi bolsa da CAPES para realizar um pós-doutorado na Universidade de Santiago de Chile, com duração de seis meses. Este período foi muito importante para que eu ganhasse maturidade científica, aprendesse novas ferramentas matemáticas e passasse a integrar o Grupo de
Análisis Funcional y Ecuaciones de Evolución
(Gavefol).
Recentemente, recebi outro financiamento da CAPES, por meio do convênio entre a CAPES e a Fundação alemã Alexander von-Humboldt, para passar um período de 18 meses na Alemanha desenvolvendo estudos na minha atual linha de pesquisa, com os maiores expoentes do mundo na área.
Qual a importância da CAPES para a sua formação?
Eu sou fruto da universidade pública de qualidade e das agências de fomento nacionais. O Brasil investiu muito na minha formação e permitiu que eu pudesse chegar até aqui. Sem os incentivos e auxílios financeiros que eu recebi durante toda a minha trajetória, eu jamais teria conquistado este espaço.
O que motivou sua dedicação a esta área?
Eu sempre gostei muito de matemática, dos desafios que a matemática traz em cada problema. Sempre vi os exercícios de matemática como um quebra-cabeça ou um enigma que você quer resolver, e então você vai juntando as peças por meio de um raciocínio lógico-dedutivo, tentando chegar no resultado final. Isso é algo que sempre me instigou muito. Além disso, a matemática está em tudo, ela está presente no nosso dia a dia, desde a ida ao supermercado até quando acessamos o computador. Sem a matemática, não seria possível fazermos nem as coisas mais simples e básicas do cotidiano.
Pode explicar do que trata sua área de estudo?
As equações diferenciais com retardamento são muito importantes para descreverem fenômenos que não acontecem instantaneamente, mas que decorrem um certo tempo entre a causa e o efeito. Devido a isso, elas são muito importantes do ponto de vista de aplicações. Por exemplo, essas equações podem ser importantes aliadas para descrever a administração de um medicamento, pois sabemos que o efeito de um remédio que ingerimos não acontece instantaneamente, mas decorre um certo tempo entre a pessoa ingerir a substância e esta começar a fazer efeito. Portanto, essas equações podem ajudar a entender melhor esta questão sobre a administração de medicamentos.
Além disso, essas equações podem ser importantes para compreender melhor o processamento de dados e consequentemente, ajudar no desenvolvimento da inteligência artificial. Por exemplo, sabemos que quando enviamos uma certa informação para o computador processar, ele demora um certo tempo para ler essa informação e justamente este tempo de processamento pode ser descrito por esses “retardos” da equação, sendo, portanto, interessante utilizar as equações com retardos para entendermos melhor o funcionamento do processamento de dados, formas de otimizá-lo, entre outros.
Além deste, quais os outros focos da sua pesquisa em matemática?
Eu também trabalho com uma teoria de integração mais geral. O pai desta teoria foi o tcheco Jaroslav Kurzweil, que tive a oportunidade de conhecer pessoalmente durante o meu doutorado-sanduíche na República Tcheca. Esta Integral permitiu que modelos envolvendo funções altamente oscilatórias pudessem ser estudados e investigados de forma mais minuciosa. A grande motivação para Jaroslav Kurzweil foi entender o comportamento do pêndulo de Kapitza, um pêndulo muito famoso, que em sua descrição envolve funções com comportamento bastante oscilatório. Eu trabalho bastante com este tipo de integração nas equações que eu estudo.
Além disso, durante o doutorado, juntamente com meus colaboradores, introduzimos uma classe de equações que não existia na literatura, chamada “Equações Diferenciais Funcionais com medida e com retardos”. Essas equações têm grande potencial para aplicações, dado que elas permitem descrever fenômenos que possuem mudanças abruptas do estado inicial e, também, que envolvem os retardos, ou seja, o tempo entre a causa e o efeito.
Quais os desafios que você ainda busca?
Têm vários problemas instigantes na minha linha de pesquisa que gostaria de investigar, tanto do ponto de vista teórico quanto de aplicações. Além destas contribuições para a ciência, também quero contribuir para o meu País, retornar todo o investimento que foi dado à minha formação por meio de ações para incentivar e inspirar as próximas gerações, quero continuar atuando na orientação de estudantes desde a graduação até o doutorado na área de matemática. Também considero de suma importância contribuir na formação de professores de matemática da educação básica em todo o país, por meio de programas de estímulos e cursos de formação.
Como vice-presidente da Sociedade Brasileira de Matemática, tenho refletido bastante sobre a necessidade de fortalecer a matemática em nível nacional, por meio de um maior diálogo com a nossa comunidade como um todo sobre a matemática, trazendo estímulos às nossas crianças desde cedo e desconstruindo o estereótipo que existe por trás da matemática. Quero mostrar que a matemática pode ser muito interessante e divertida, que ela pode nos ajudar a resolver os desafios globais que enfrentaremos nos próximos anos.
O que você diria aos jovens que pensam abraçar a Matemática?
Eu diria a eles que a matemática é uma linguagem universal, e que ela pode nos ajudar a resolver os desafios globais das próximas gerações. Precisamos de mais pessoas na área de matemática, então se você é jovem e gosta de matemática, você tem muito a contribuir nesta linha. A matemática está em tudo, mesmo que você decida seguir por outra linha ou outra área, é muito importante que você aprenda mais matemática, pois ela vai te ajudar de várias formas diferentes, ela melhorará seu raciocínio lógico-dedutivo, sua forma de argumentação, sua forma de pensar, entre outras contribuições.
Legenda das imagens:
Banner e imagem 1:
Jaqueline Godoy frequentou cursos na República Tcheca, Chile e Alemanha, além do Brasil
(Foto: Arquivo pessoal)
Imagem 2:
Principal foco de estudo são as equações diferenciais com retardamento
(Foto: Arquivo pessoal)
A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) é um órgão vinculado ao Ministério da Educação (MEC).
(Brasília – Redação CGCOM/CAPES)
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