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PRÊMIO CAPES DE TESE
Mapa mostra locais sensíveis a deslizamento de terra
As perdas de vidas e moradias causadas por deslizamento de terras afetam diferentes partes do Brasil. As tragédias têm sido recorrentes e, às vezes, acontecem em variados períodos do ano, como ocorreu em fevereiro, em São Paulo, e em outubro, no Amazonas. Em busca de soluções para este grave problema, a engenheira civil Luísa Vieira Lucchese criou, durante o seu doutorado, instrumentos de identificação de locais suscetíveis a esse tipo de desastre. O seu trabalho foi o vencedor do Prêmio CAPES de Tese na área de Engenharia 1.
Luísa desenvolveu métodos de aprendizagem de máquina, principalmente as Redes Neurais Artificiais. Chamadas de RNA, são técnicas computacionais que apresentam um modelo matemático inspirado na estrutura de organismos inteligentes que adquirem conhecimento através da experiência. “São instrumentos que modelam as precipitações antecedentes a esses desastres”, conta ela, que usou como referência a geomorfologia da Serra Geral, localizada no Rio Grande do Sul e Santa Catarina.
Intitulada ‘Modelagem de suscetibilidade e de limiares de precipitação para deslizamentos de terra utilizando métodos de aprendizagem de máquina’, a tese é composta por cinco artigos. A pesquisadora analisou diferentes métodos de amostragem de áreas onde esse problema não ocorre e comparou o uso de distintos RNA com florestas aleatórias, que é um método para realização de mapeamento. Cada parte da pesquisa foi cuidadosamente planejada para apoiar o objetivo principal, “que é desenvolver os mapas de suscetibilidade a deslizamentos e precipitação antecedente”, explica.
Os produtos da pesquisa são mapas on-line, oferecidos gratuitamente, que indicam, na região analisada, os locais mais sensíveis a deslizamentos. Os cálculos, modelados por RNA, baseiam-se em produtos de sensoriamento remoto que podem ser acessados na National Aeronautics and Space Administration (NASA) ou no Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe). “Os dados de precipitação dessas ocorrências foram escolhidos cuidadosamente para permitir a operação direta de um sistema de alerta”.
O resultado, segundo ela, é uma pesquisa com relevante retorno para a sociedade e com um custo mais baixo do que os usualmente praticados na iniciativa privada. “ É um trabalho que pode ajudar a salvar vidas e prevenir perdas de moradias”, argumenta. “Infelizmente, no Brasil, na área de desastres naturais e também na de recursos hídricos, ainda há resistência ao uso de tecnologias de inteligência artificial por desconhecimento ou desconfiança em relação à qualidade dos resultados”, acrescenta. Para Luísa, receber o Prêmio CAPES de Tese é um voto de confiança e aceitação em relação a estes métodos pelo meio científico brasileiro.
Sobre a autora
Apaixonada por Física e Matemática, Luísa ingressou no curso de Engenharia Civil da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em 2011. Na graduação, recebeu o maior prêmio para bolsista de iniciação científica da instituição. “A partir deste ponto, comecei a acreditar mais em mim e a me dedicar à pesquisa, com o intuito de um dia me tornar professora e pesquisadora”, relata. Se formou em 2015, e, no ano seguinte, iniciou o mestrado em Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental no Instituto de Pesquisas Hidráulicas da UFRGS. Sua dissertação ficou entre os 10% melhores trabalhos defendidos no programa de pós-graduação.
Em 2019, publicou o primeiro artigo em revista internacional. Entre 2021 e 2022, fez doutorado-sanduíche na Friedrich-Schiller-Universität Jena, em Jena, na Alemanha, com bolsa da CAPES, onde aprendeu sobre métodos de amostragem espacial e de aprendizagem de máquina. “Uma das vantagens desta bolsa é a possibilidade de o aluno escolher o local e grupo de pesquisa para onde ele vai”, salienta.
Em 2022, Luísa defendeu sua tese e tornou-se doutora em Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental pela UFRGS. Desde fevereiro deste ano, ela pesquisadora pós-doutoral na Universidade de Pittsburgh, nos Estados Unidos, onde trabalha em um projeto da NASA.
Prêmio CAPES de Tese
Considerado o Oscar da ciência brasileira, o Prêmio CAPES de Tese recebeu este ano a inscrição de 1.469 trabalhos, o maior número em 18 edições já realizadas. São reconhecidos os melhores trabalhos de doutorado defendidos em programas de pós-graduação brasileiros. Dentre os 49 premiados, três irão receber o Grande Prêmio CAPES de Tese, um de Humanidades, outro de Ciências da Vida e um de Ciências Exatas, Tecnológicas e Multidisciplinar. A solenidade de entrega ocorre em dezembro.
A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) é um órgão vinculado ao Ministério da Educação (MEC).
(Brasília – Redação CGCOM/CAPES)
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