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Leia a íntegra do artigo de Anderson Correia na Folha Online
Desafios da pós-graduação
Assumir a presidência de uma agência do porte e dimensão da CAPES, fundação pública vinculada ao Ministério da Educação, é um enorme desafio.
Sob a nossa responsabilidade está grande parte do financiamento, por meio de fomentos, bolsas e acesso a periódicos mundiais, e o credenciamento e a avaliação do sistema de pós-graduação stricto sensu do país, com quase 300 mil alunos em mais de 6,6 mil cursos de mestrado e doutorado.
Somam-se a isso a coordenação de um sistema de educação a distância e uma série de programas de formação de professores da educação básica. A CAPES mantém atualmente cerca de 200 mil bolsas na pós-graduação e na formação de professores da educação básica.
Atender às expectativas de milhares de bolsistas e, ao mesmo tempo, reorientar metas de modo a melhorar alguns processos e reforçar outros, como a internacionalização das nossas universidades e a formação de professores da educação básica, são apenas alguns exemplos da nossa missão.
Nos primeiros seis meses deste ano, conseguimos definir as principais linhas de atuação, trabalhando a melhoria da avaliação, que era um ponto cobrado há muito tempo; nesta linha trouxemos diversas inovações à atividade.
Nesse tempo, elaboramos um plano, com cronograma bem definido, e revisamos o modelo de fomento. Reforçamos a área internacional, com o objetivo de ampliar a inserção internacional de nossos pesquisadores e viabilizar trabalhos em conjunto com os grupos internacionais mais relevantes.
Paralelamente, estabelecemos que a educação básica também é uma prioridade; lançamos o programa Ciência nas Escolas, em conjunto com o CNPq; apoiamos o MEC no desenvolvimento da Política Nacional de Alfabetização; lançamos novos editais para formação de professores da educação básica nos Estados Unidos, Irlanda e Canadá. Somos o elo central da formação de professores no Ministério da Educação e estamos trabalhando com novos editais para 2020 com foco nas necessidades específicas do Plano Nacional de Educação.
Pela primeira vez, na avaliação quadrienal, pontuaremos melhor as universidades e instituições que fazem a autoavaliação e o planejamento estratégico. Isto é de uma importância enorme, pois as universidades estão imbuídas de, ao trazer seus programas à CAPES, apresentar propostas que inovem na formação de recursos humanos.
Vamos implementar o Qualis Referência com foco em impacto e relevância nessa avaliação de meio-termo, agilizando e flexibilizando os nossos processos, além de permitir e incentivar a multidisciplinaridade.
Até o final do ano, pretendemos propor um novo modelo de avaliação multidimensional para a próxima avaliação quadrienal, o que ajudará a compreender melhor os programas de pós-graduação do Brasil, em função de suas diversas dimensões como internacionalização, transferência de conhecimento ao setor produtivo, formação de recursos humanos e impacto econômico.
Iniciaremos, ainda neste ano, a atividade da comissão que produzirá o novo Plano Nacional de Pós-Graduação, para o período de 2021 a 2030. Com isso, trabalharemos junto com a sociedade, definiremos quais são os temas prioritários e estratégicos para o país e como as instituições de ensino superior podem oferecer propostas alinhadas com o que se espera.
Temos ainda o grande desafio de aproximar as universidades do setor produtivo, trabalhando em sintonia com a indústria. Além do mestrado profissional que já existe de longa data, inauguramos neste ano os primeiros cursos de doutorado profissional. São cerca de 30 e estimamos que, em quatro anos, sejam pelo menos cem. Esse modelo de doutorado forma exatamente quem já está na indústria, com financiamento da própria indústria ou do mercado. É mais uma maneira da CAPES incentivar a aproximação com o setor produtivo.
Com a nova abertura de propostas de cursos novos, a CAPES abre de forma inédita neste ano a possibilidade de apresentação de propostas de mestrados a distância, permitindo a modalidade no país, que já é empregada em vários países, com grande sucesso. Revisamos a portaria de forma a exigir qualificação mínima para as proponentes.
Acredito que para superarmos o desafio da melhoria na educação, precisamos nos atentar a três metas: qualidade, eficiência e produtividade.
A qualidade é importante porque uma ampla formação de recursos de alto nível será essencial para alavancar o Brasil mundialmente como um player de desenvolvimento tecnológico, econômico e social.
A eficiência é o mecanismo para fazermos mais com menos, ou seja, identificando melhorias contínuas e processos inteligentes de alocação de recursos em todo o país, sempre com base na meritocracia.
E a produtividade será o resultado de todas as nossas ações conjuntas com as instituições de ensino superior, com responsabilidade, planejamento estratégico e trabalho consistente voltado para o país.
Anderson Correia
Presidente da CAPES, ex-reitor do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA)