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Laser previne perda de paladar em pacientes de quimioterapia
Cássia Nóbrega é cirurgiã-dentista, com habilitação em laserterapia, e doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Estomatopatologia pela Universidade Federal do Ceará (CAPES/UFC). Em sua pesquisa, desenvolveu um protocolo que usa o laser de baixa potência para prevenir a disgeusia (perda de paladar), nos pacientes em tratamento quimioterápico.
Fale sobre o seu estudo.
Esse estudo veio a partir de uma experiência pessoal durante o meu mestrado em Odontologia (UFC/CAPES), 2019: o relato do meu orientador sobre o tratamento quimioterápico de sua mãe. Um efeito adverso em cavidade oral impedia a sua alimentação e aumentava o risco de desnutrição. A partir daí começamos a investigar a literatura sobre as possibilidades preventivas para a disgeusia, efeito até então pouco falado, e não encontramos nenhuma modalidade preventiva ou terapêutica da disgeusia induzida por quimioterapia.
Começamos, então, a investigar as possibilidades de estudos para a prevenção dessa disfunção no paladar causada pela quimioterapia. Com isso, chegamos à laserterapia de baixa intensidade como uma medida preventiva/terapêutica para diversas alterações na cavidade oral, bem como em pacientes oncológicos, como a regeneração celular e neural. Após estudos de dosimetria, chegamos em um protocolo de laserterapia com o intuito de tentar prevenir a disgeusia induzida por quimioterapia.
Qual o objetivo do seu estudo?
Atualmente, no projeto de doutorado, uma vez que já foi comprovada a eficácia do
laser
na prevenção da disgeusia, estamos estabelecendo diferentes protocolos de laserterapia a fim de diminuir o tempo clínico de aplicação, mantendo a eficácia da prevenção e possivelmente entendendo o mecanismo de ação da quimioterapia nos botões gustativos, mantendo a linha de pesquisa realizada durante o mestrado.
De que forma que a quimioterapia afeta o paladar?
A função do paladar está ligada às papilas gustativas linguais, as quais dependem da manutenção contínua de células recetoras de sabor. A quimioterapia pode provocar dano direto nas células dos botões gustativos ou então alterar, indiretamente, regiões do cérebro responsáveis pela percepção dos sabores, por intermédio da ação de citocinas inflamatórias. Durante o tratamento quimioterápico, há aumento considerável dessas citocinas. O dano celular pode ocorrer de três maneiras: uma diminuição no número de células receptoras normais, alteração na estrutura ou na superfície do receptor das células e interrupção da codificação neural.
De que forma o
laser
pode amenizar a perda do paladar?
A laserterapia de baixa intensidade promove alterações fotoquímicas nos tecidos-alvo sem que ocorra perda estrutural. Tem efeitos básicos anti-inflamatório, analgésico e de biomodulação, e é usada como terapia coadjuvante em quase todos os procedimentos odontológicos. Esses efeitos biológicos básicos, são associados ao crescimento celular estimulado, regeneração celular, aumento na produção de ATP, redução do processo inflamatório, edema e capacidade de estimular a função nervosa.
O que o seu estudo traz de diferente da literatura?
É o primeiro estudo que aborda uma medida preventiva eficaz para a disgeusia induzida por quimioterapia, e com isso previne os níveis de caquexia dos pacientes oncológicos, preservando a função gustatória dos botões gustativos durante os ciclos de quimioterapia. Com isso, melhora-se a qualidade de vida dos pacientes, possibilitando que os mesmos permaneçam se alimentando de forma adequada durante o tratamento. Esta é a única medida preventiva para esse efeito, sem alterações sistêmicas ou efeito colateral ou sistêmico. É uma medida com efeito local e sem contraindicação, de baixo custo e com um tempo de aplicação clínica razoável.
Como a sua pesquisa pode ser aplicada?
Qualquer cirurgião-dentista, habilitado em laserterapia, pode replicar o protocolo em seus pacientes oncológicos para prevenir a disgeusia induzida por quimioterapia. Nosso estudo mostra que o protocolo utilizado com a laserterapia de baixa intensidade é facilmente replicado e pode ser aplicado em âmbito hospitalar ou ambulatorial. Deixamos a especificação do aparelho e a dosimetria bem claros no decorrer do artigo. Ainda não sabemos qual o efeito preventivo em pacientes que fazem radioquimioterapia em cabeça e pescoço. Serão necessários mais estudos para esse perfil.
Como seu trabalho beneficia a sociedade?
Foi e está sendo um estudo revolucionário para pacientes oncológicos, minimizando efeitos adversos, uma vez que a aplicação da laserterapia na língua para a prevenção da disgeusia acaba por prevenir a mucosite oral nessa região também. É uma terapia não invasiva, de efeito local, indolor e com grande eficácia.
O estudo já recebeu alguma premiação?
Já sim. Um braço do ensaio clínico de fase II foi apresentado na ODONTOPET e tivemos premiação de 2° lugar. Também foram publicados dois artigos na
Supportive Care In Cancer
sobre disgeusia: um estudo observacional, retrospectivo, que avalia os fatores de risco à disgeusia relacionada à quimioterapia antineoplásica e o ensaio clínico randomizado, triplo cego, de fase II.
Legenda das imagens:
Imagem 1:
Tratamento com laser previne perda de paladar em pacientes submetidos à quimioterapia
(Foto: Arquivo pessoal)
Imagem 2:
Cássia Nóbrega cirurgiã-dentista, doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Estomatopatologia, pela Universidade Federal do Ceará - CAPES/UFC (Foto: Arquivo pessoal)
A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) é um órgão vinculado ao Ministério da Educação (MEC).
(Brasília – Redação CCS/CAPES)
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