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Geógrafo aborda a relação entre educação e COVID-19
Graduado em Geografia pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), de Marechal Cândido Rondon, Thiago Kich Fogaça é mestre e doutor na mesma área na Universidade Federal do Paraná (UFPR), onde atualmente faz seu pós-doutorado. Nos três momentos da pós-graduação, o pesquisador foi beneficiado pela bolsa da CAPES. Ele estuda a influência das condições geográficas no enfrentamento de doenças como dengue, zika e, agora, COVID-19, e destaca a necessidade de aspectos sociais e ambientais ligados a essas enfermidades serem abordados nas escolas.
Quando os aspectos geográficos na saúde começaram a fazer parte dos seus estudos?
Desde o início da graduação em Geografia tenho interesse na pesquisa científica. Fiz licenciatura, mas atuei em diversos laboratórios da universidade na época. O desejo de continuar na pesquisa se ampliou a partir do ingresso no mestrado. Nesse período, comecei a estudar o contexto da Geografia da saúde. No mestrado, com o tema dengue, no doutorado, sobre a zika e, agora, no pós-doutorado, com a COVID-19.
Como a Geografia pode ajudar no combate a doenças?
É bem importante pontuarmos o que o geógrafo da saúde faz. Então, a partir dos dados sobre a saúde de uma determinada população, começamos a estudar o seu entorno e as condições de vida dela para entender, por exemplo, o motivo de ser mais vulnerável a certas doenças. Isso envolve condições geográficas, trabalho, mobilidade, renda, educação e meio ambiente, por exemplo. Todos esses processos são levados em conta. Então, procuramos entender como esses elementos geográficos estão associados à distribuição de doença. Trabalhei no mestrado e doutorado com a questão socioambiental relacionando as políticas públicas com esses indicadores sociais, e agora, no pós-doutorado, estou mais focado na questão da educação.
Em que consiste a sua pesquisa atual?
Integro uma equipe de pesquisadores que trabalha em projeto selecionado pela CAPES para o Programa de Desenvolvimento da Pós-Gradução (PDPG) – Impactos da Pandemia. Minha pesquisa é pensar de que maneira a educação pode ajudar a população a enfrentar os problemas advindos da COVID-19. Nesse aspecto, a Geografia da saúde, diferente das ciências da saúde, como aquelas que abordam a parte física e a produção de fármacos, por exemplo, mas extremante importantes, vai olhar para o entorno dessa pessoa e população que está doente. Vai observar onde mora, quais as condições de moradia, e consegue elencar uma série de elementos geográficos. Por exemplo, a questão ambiental está muito atrelada com ao clima que interfere na questão de saúde, em diferentes aspectos. Em outra vertente, será que uma determinada política pública vai atingir igualmente toda a população? Então, olhando essa comunidade, esse entorno, esse grupo de população que está sofrendo algum tipo de agravo, conseguimos entender essas relações com diferentes elementos. Estou voltado para a questão da educação, relacionando conceitos tradicionais da Geografia com a doença e analisando os impactos que a COVID-19 tem na vida dos alunos com as mudanças que ocorreram com a pandemia, para, assim, contribuir para que o professor discuta o tema em sala de aula.
E como a educação pode afetar os indicadores de saúde?
Identificamos como a questão cultural interfere diretamente na educação. Pelos dados oficiais, no geral, mais mulheres foram infectadas pela COVID-19 que homens, mas quando olhamos para óbitos foram os homens os mais atingidos, sem levarmos em consideração as subnotificações. Estamos aí tratando de um processo de educação. Porquê? Uma das principais respostas é principalmente essa característica estrutura da família brasileira, onde o homem não tem cuidados com a saúde como a mulher. À mulher foi delegada a função de cuidar da casa, dos filhos, da saúde, da família, faz os preventivos, está sempre nas unidades de saúde, e os homens já não fazem esse acompanhamento. O homem, por exemplo, espera mais tempo para procurar o serviço de saúde. Já chega com o quadro clínico mais avançado e de difícil tratamento. Há vários elementos que conseguimos discutir em termos de educação pensando justamente em novas epidemias que podem surgir devido a fragilidade ambiental no mundo. Então, é preciso que a Geografia da saúde esteja mais presente na educação para o enfrentamento de doenças. Essa é a principal contribuição deste trabalho.
Qual a importância da CAPES para a sua carreira acadêmica?
Saí do interior do Paraná e vim para Curitiba pela possibilidade de ter a bolsa para fazer o mestrado. O benefício foi essencial para essa mudança e o começo do trabalho de pesquisa na UFPR. A bolsa é fundamental para conseguir me manter, ainda mais que no Brasil não existe a profissão de pesquisador, salvo algumas exceções. A bolsa me permitiu continuar a pesquisa de forma voluntária nas Secretarias de Saúde de Curitiba e Pinhais, enriquecendo meus trabalhos e aprendendo, por exemplo, sobre a dinâmica desses serviços.
A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) é um órgão vinculado ao Ministério da Educação (MEC).
(Brasília – Redação CGCOM/CAPES)
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