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Formigas “zumbis” viram livro infantil
Mestrando em biologia de fungos, algas e plantas pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Cauê Oliveira é integrante do grupo de pesquisa Monitoring and Inventorying Neotropical Diversity of Fungi (MIND.Funga) pela mesma instituição. O bolsista é coautor do livro infantil, “A descoberta nas pequenas coisas”, feito pelo grupo para incentivar o estudo científico e a participação da comunidade local na escolha do nome para o fungo, conhecido por tornar as formigas “zumbis”.
Fale um pouco sobre o seu trabalho.
O
meu trabalho é sobre a investigação taxonômica e a história evolutiva de um grupo específico de fungos do gênero
Laetiporus
e espécies próximas. Além disso, tive a oportunidade de escrever um livro infantil com meus colegas do grupo de pesquisa MIND Funga, coordenado pelo Prof. Elisandro Ricardo Drechsler-Santos, que pretende mostrar para o público infantil como é o trabalho de um micólogo taxonomista – biólogo que estuda, descreve, identifica e classifica os fungos – desde a descoberta de uma nova espécie em campo até a finalização do trabalho, com a publicação de um nome científico para a mesma em revistas científicas.
Como surgiu a ideia do livro?
Nosso grupo tem um projeto participante do Programa de Pesquisa em Biodiversidade de Santa Catarina (PPBio-PELD), dentro do Parque Nacional de São Joaquim, na serra catarinense. Ali surgiu a ideia do livro, com o intuito de inserir a comunidade do entorno nas atividades de pesquisa que realizamos e deixar com que eles façam a escolha do nome científico de uma das espécies que descobrimos no local. Escolhemos um fungo muito interessante como tema do livro, os fungos que infectam as formigas e passam a controlá-las. Conhecidos popularmente por fungos que tornam as formigas zumbis, eles são uma espécie ainda não descrita para a ciência.
Como o fungo contamina a formiga?
Os esporos dos fungos, ao serem levados pelo vento, podem se pregar ao corpo das formigas que vivem naquela região. Ao entrar pelo sistema respiratório eles atingem, principalmente, o sistema nervoso, e passam a controlar todas as ações do inseto. Essas formigas vão apresentar comportamentos diferentes, como por exemplo, subir grandes alturas em árvores. Então, o parasita começa a consumir toda a parte interna da formiga e ali vai se propagar novamente. O fungo prefere locais mais altos, porque assim seus esporos poderão alcançar áreas maiores para a contaminação.
O fungo representa algum perigo para os seres humanos?
Não. Até o momento não há registros de um fungo que ataque o sistema nervoso humano.
Como se deu seu interesse em trabalhar com o assunto?
O
projeto do livro surgiu em uma das nossas reuniões do grupo de pesquisa MIND.Funga. Ali, o nosso orientador nos propôs o desafio de produzir um material a ser usado por professores da rede de ensino do município de Urubici (SC). Eles seriam convidados a visitar as áreas onde fazemos a pesquisa de campo e levariam de volta essas informações para serem trabalhadas com seus alunos, em sala de aula. Como também tenho uma formação em jornalismo, sempre tive vontade de poder conciliar a ciência, a educação e a arte para a divulgação da produção acadêmica.
Qual o objetivo da pesquisa?
Podemos dizer que essa pesquisa tem dois objetivos: primeiro, aquele com sentido mais científico que seria descrever a biodiversidade existente da Funga de uma unidade de conservação. Segundo, fornecer aos cidadãos que vivem próximos a essas unidades de conservação a participação no processo, conhecendo a atividade científica, se aproximando do conhecimento que produzimos dentro dos laboratórios e reconhecendo a importância da conservação desses ambientes.
O que significa funga?
Funga é um novo termo que descreve a diversidade de comunidades fúngicas e se equipara aos termos fauna (diversidade de animais) e flora (diversidade de plantas), dando mais atenção à importância desses seres na saúde dos ambientes.
Qual a importância do seu trabalho para a realidade brasileira?
Esse projeto é muito importante por diversos fatores, pois trata-se de levar o conhecimento científico às escolas. Estamos inspirando crianças a seguir o caminho da ciência, para que se tornem cientistas no futuro, dando material para que professores utilizem em sala de aula para falar sobre temas pouco presentes nos currículos, e aproximando a comunidade das áreas de preservação, fazendo com que entenda a importância da pesquisa científica no seu cotidiano.
Qual o impacto disso no âmbito internacional?
A
descrição de novas espécies sempre tem um impacto internacional. Como os fungos são um grupo de organismos cuja defasagem de conhecimento é muito grande, principalmente nos países do hemisfério sul, o nosso trabalho tem uma relevância muito grande.
Qual a importância do apoio da CAPES?
A
CAPES foi essencial para que não apenas eu, mas outros bolsistas financiados por ela, pudessem se dedicar de forma exclusiva para explorar as diferentes áreas do conhecimento.
Quais são os próximos passos?
Dia 8 de julho, às 17h, faremos o lançamento do livro “A descoberta nas pequenas coisas” em um evento
online
no canal do MIND.Funga, no Youtube. O livro está
disponível
em formato digital no repositório da nossa universidade (UFSC) e será impresso para as escolas da rede de ensino de Urubici (SC). A impressão do livro é patrocinada pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), onde nosso projeto foi selecionado no concurso “SBPC vai à Escola”, em 2020.
(Brasília – Redação CCS/CAPES)
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