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Formatura de alunos da UAB/UnB quebra a lógica de que o conhecimento só está ao alcance dos grandes centros urbanos
O Campus Darcy Ribeiro da Universidade de Brasília fica a exatamente 3.095 km de Brasiléia, cidade do interior do Acre. Na noite desta terça-feira, 7 de fevereiro, dez novos graduados pela UnB venceram essa barreira geográfica ao receber, na própria cidadezinha acreana, o diploma da licenciatura cursada a distância pelo programa federal Universidade Aberta do Brasil (UAB).
Enquanto o Polo de Educação a Distância de Brasiléia festejava a formatura dos cursos de Artes Visuais e Teatro, o Polo de Tarauacá, também no Acre, a 3.354 km do campus do Plano Piloto, formava 15 alunos em artes visuais. As turmas são as primeiras a concluir o ensino superior pela UAB/UnB. Até a semana que vem, 20 outras formaturas serão realizadas em cinco estados do país.
A colação de grau no Polo de Brasiléia foi realizada segundo os moldes tradicionais da UnB. A distância não impediu que os formandos vivessem a mesma emoção de quem recebe o diploma nos quatro campi presenciais do DF. Representantes de Secretaria de Educação do Acre e a prefeita do município fizeram parte da mesa da cerimônia. A professora Thérèse Hofmann, do Departamento de Artes Visuais e ex-coordenadora da licenciatura em Artes Visuais da UAB/UnB, presidiu a outorga de grau. Entre os depoimentos de professores e alunos ficou clara a superação de ambos na construção de uma nova modalidade de ensino a partir da UnB. A distância virou presença e memória afetiva, após quatro anos de convivência, mesmo que virtual.
Superação
A facilidade de fazer uma faculdade sem sair do interior do Acre levou Verônica Rodrigues a se inscrever para o vestibular, no segundo semestre de 2007, para a licenciatura em artes visuais. Na época ela trabalhava em uma rádio local e ganhava menos de um salário mínimo. Além disso, tinha um filho de 7 anos, hoje com 11. "Não queria sair daqui e não tinha condições de ir para Rio Branco", conta. "Estudar na UnB foi um desafio. Não tinha condições de ter um computador em casa, nem internet. Conhecia pouco das novas tecnologias, não tinha curso de informática e tive que aprender tudo".
Verônica mora em Epitaciolândia, município vizinho a Brasiléia, separado apenas pelo Rio Xapuri. Filha de seringueiros, até os 12 anos morou na zona rural. "As pessoas que cresceram comigo entraram para as drogas e para a prostituição. Apesar de meu pai ser seringueiro, ele dizia para a gente estudar, mesmo sem ter tido essa oportunidade", diz. Quando entrou no curso, fez um empréstimo de R$ 1,6 mil para comprar um computador. Assim podia trabalhar o dia todo e se dedicar aos estudos à noite. Ainda faltava a internet para acompanhar as aulas e fazer os trabalhos da faculdade. "A internet era muito difícil porque eu morava distante do centro da cidade. Pedi para o Corpo de Bombeiros do estado para usar a conexão deles via antena".
Tanto esforço valeu a pena. A aluna do curso de Artes Visuais é, a partir de hoje, a professora Verônica. "Muita gente dizia: 'mas por que você escolheu esse curso'? Pra mim é um sonho. Já estava há vários anos na expectativa de fazer um curso superior". O colega Erodilso de Souza resume esse sentimento: "jamais imaginava que ia fazer uma universidade tão gabaritada. Me surpreendeu a qualidade do ensino. Me sinto orgulhoso de hoje ter me formado pela UnB".
O curso de Teatro serviu como uma grande lição de auto-conhecimento para Erodilso. "É uma nova história na minha vida. Gosto de escrever, me meto a ser poeta, cantor. E descobri isso aqui", revela. "Antes isso era ocultado. Tinha medo do preconceito da sociedade e nem falava que pretendia ser artista. Não tinha coragem de assumir. Hoje me sinto privilegiado e honrado em realizar esse sonho".
Qualidade
A professora Thérèse Hofmann, que coordenou o curso de Artes Visuais até dezembro de 2011 e acompanhou a turma nos desafios diários do projeto inovador, considerou a formatura como uma quebra de paradigma. "A UnB entrou nessa missão da UAB com o objetivo de dar a mesma qualidade do ensino presencial em todos os polos. Quebramos a barreira da distância. Estamos tão presentes aqui quanto nos campi. São presenças diferentes, mas mesmo a distância, conseguimos ficar próximos", afirma. "O ensino superior ainda não é a realidade de muitos no país. A gente pode mostrar, com esse resultado de sucesso da UAB, que isso pode ser revertido".
Ela contou que os professores da UnB que se envolveram nos cursos a distância tiveram melhoras significativas nas disciplinas presenciais. "A organização necessária para lidar com a plataforma de ensino a distância foi trazida para o presencial", destaca. "O desafio que os professores tinham era escrever o conteúdo e desenvolver a disciplina para criar um material didático complementar à plataforma". Para garantir que as aulas virtuais não virassem mera repetição de conteúdos, os professores se desdobraram para produzir vídeo aulas, fazer conferências online e, nas disciplinas que necessitavam de práticas mais direcionadas, promoveram encontros no polo.
"O currículo da UAB está mais avançado do que o presencial. Fizemos a revisão do currículo aproveitando coisas que já estavam bem resolvidas na educação a distância. A meta é uniformizar o diurno, o noturno e o ensino a distância na licenciatura em Artes Visuais", revela Thérèse.
Repercussão – A colação de grau contou com a presença da prefeita de Brasiléia, Leila Galvão, que considerou a formatura uma conquista para o estado, "tendo em vista a dimensão que a UnB tem de reconhecimento". "Aproximar isso do Acre é importante porque cria condições de qualificação para pessoas que até então estavam distantes desse sonho", afirma.
A coordenadora de Ensino Superior e Ensino a Distância da Secretaria de Educação do Acre, Cleide Prudêncio, acredita que essa modalidade de ensino democratiza o acesso à universidade, além de garantir a formação de recursos humanos qualificados para os municípios. "As turmas da UnB são de alunos-professores. Isso é importante para a rede estadual de ensino porque as aulas de artes têm demanda por formação específica", declara. "A experiência anterior era de pessoas que saíam para Rio Branco para estudar e não voltavam para aplicar a qualificação nas cidades de origem".
Ela ressalta a importância das novas tecnologias inseridas na formação dos novos professores, que minimiza a necessidade de requalificação. "O professor formado pela educação a distância entra em contato com esse novo momento da educação. Se a gente gradua um professor de forma analógica, ele vai ser cobrado pelos alunos de forma digital".
( Fonte: UnB Agência )