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ENTREVISTA
Filha de pioneira da CAPES integra grupo de internacionalização
O Grupo de Trabalho Global, responsável por discutir novas ações de internacionalização da CAPES, conta com a presença de Renée Zicman, diretora-executiva da Associação Brasileira de Educação Internacional (Faubai). A história de sua família remete aos primórdios da Fundação: a mãe, a engenheira Laura Hamilton Barata (1929-1963), integrou o grupo dos primeiros 54 bolsistas enviados ao exterior, em 1953, pela então Comissão de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, presidida por Anísio Teixeira. Em entrevista à CAPES, Renée Zicman fala sobre internacionalização e a missão da Faubai, e aproveita para compartilhar um pouco mais sobre essa história.
Está em curso um importante debate sobre um novo programa de internacionalização da CAPES. Como você vê a internacionalização, de forma geral?
Na internacionalização, há um entendimento geral voltado, e com prioridade, para a mobilidade. Mobilidade de estudante, mobilidade de professor, mobilidade de pesquisador. É importante entender que vai além da mobilidade, é uma dimensão transversal. A mobilidade de estudantes no exterior é uma das possibilidades. É cara, não é para todo mundo, tem limites de financiamento. Fora do Brasil, por exemplo, nos Estados Unidos da América, uma instituição que tem 10% de estudantes fazendo mobilidade no exterior solta rojão.
É importante entender a internacionalização como uma dimensão que abrange toda a instituição de ensino superior. Para ter qualidade, precisa ter uma dimensão internacional. Tem que ter projeto de internacionalização. Não é um quarto pilar, para além do ensino, da pesquisa e da extensão. É uma dimensão transversal: você tem que ter um ensino internacionalizado, uma extensão internacionalizada, uma pesquisa internacionalizada.
Qual é a importância desse Grupo de Trabalho Global, que discute internacionalização aqui na CAPES?
A CAPES abre uma discussão para repensar a sua própria política de internacionalização e, como a professora Denise [Pires de Carvalho, presidente da CAPES] disse ontem, na abertura da reunião, há urgência em construir uma política nacional de internacionalização da educação superior. Vamos repensar os Programas, para incluir mais, trazer internacionalização para dentro de casa. Internacionalização em casa é a universidade, o aluno, o professor. Não precisa ir para fora para viver. É você trazer gente. Ter a presença da internacionalização integrada, como parte da missão da universidade, é ter um campus internacional, alunos internacionais, bibliografia internacional, professor visitante, estudos comparados, programas de extensão abertos para estudante internacional.
Fale um pouco sobre a Faubai, associação que trata de internacionalização e da qual a senhora é diretora-executiva.
Renée Zicman: A Faubai reúne instituições de ensino superior brasileiras, hoje não mais só universidades, qualquer tipo de instituição, que precisa ter uma atividade internacional organizada, com pelo menos uma pessoa, dentro da instituição, responsável pela área internacional.
Hoje a Associação Faubai tem mais de 230 instituições associadas, metade delas, instituições universitárias, com representação em todas as regiões do País. Claro que a concentração no Sul e Sudeste, em alguma medida, também está ali reproduzida na Faubai. Tem todo tipo e natureza de instituição: públicas federais, estaduais, municipais e as privadas comunitárias e com fins lucrativos, de todas as regiões do País. A Associação milita em prol da ampliação, da melhoria e da capacitação para os processos de internacionalização das associadas.
A internacionalização é parte da história de sua família. Seu pai é argentino, descendente de ucranianos. Sua mãe, brasileira, foi uma das primeiras bolsistas da CAPES...
Isso está especialmente na família materna, que é o lado brasileiro da minha família. A minha mãe, Laura Hamilton Barata, nome de solteira, teve irmãos que foram professores universitários reconhecidos nas suas áreas, todos da Universidade do Brasil, depois rebatizada de Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Meu tio Mário Barata (1921-2007), na área de História da Arte, foi criador da Associação Internacional de Críticos de Arte, uma grande referência. Meu tio Fernando Barata (1924-2023), também: professor emérito da UFRJ, uma imensa referência na área de Engenharia - Mecânica de Solos.
Já minha mãe é engenheira, formada na Universidade do Brasil, na turma de 1952. A CAPES havia sido criada em 1951. Ela se candidatou a uma bolsa e, de fato, integrou o grupo dos primeiros bolsistas da CAPES no exterior, que saíram do Rio de Janeiro, da Praça Mauá, a bordo do navio francês Provence. Ela era recém-formada, tinha 23, 24 anos, e já trabalhava no Departamento Nacional de Portos, Rios e Canais (DNPRC). Partiu para a França para uma especialização.
Como foi o tempo dela por lá?
Com uma bolsa de 18 meses de duração e 100 mil francos de mensalidade, ela fez alguns cursos e trabalhou no Laboratoire d’Hydraulique Neyrpic, em Grenoble, na França, reconhecido na área. Atuou no Serviço Marítimo do Laboratório da Neyrpic, como a primeira mulher engenheira a trabalhar em um dos seus modelos reduzidos — no caso, o do Porto de Mucuripe, em Fortaleza (CE). A então recente implantação de uma obra no mar estava assoreando o porto e erodindo rapidamente a tradicional praia de Iracema. No retorno ao Brasil, participou da implementação e da operação do Laboratório de Hidráulica Experimental do DNPRC, no Rio, que já não dependeria mais de instituições estrangeiras.
A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) é um órgão vinculado ao Ministério da Educação (MEC).
(Brasília – Redação CGCOM/CAPES)
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