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Expedição marítima encontra indícios de mudanças climáticas ancestrais
No tempo dos dinossauros, o mar não estava para peixe. Uma amostra de solo submarino de 94 milhões de anos, encontrada na costa sudoeste da Austrália, indica que o Oceano Índico passou por momentos de total ausência de oxigênio. Anunciada nesta semana, a descoberta foi feita pela equipe de pesquisadores da Expedição 369 do Programa Internacional de Descoberta do Oceano (IODP, em inglês).
O achado avança o conhecimento sobre as condições climáticas da Terra no período Cretáceo – aquele que foi encerrado com a extinção dos dinossauros.
A equipe internacional de cientistas envolvida na descoberta trabalha a bordo do navio de perfuração JOIDES Resolution, em uma missão de dois meses que termina no fim de novembro. Três brasileiros integram a missão, formada por profissionais de 15 países.
Mar sem oxigênio?
A ausência de oxigênio no oceano, conhecida como evento anóxico, já foi comprovada em outros locais no mundo. Estes “eventos” são inclusive a origem do petróleo, quando a matéria orgânica depositada “encontra” as condições ideais para isso. As razões dessas ocorrências nunca foram totalmente compreendidas. Apenas se sabe que ocorreram muitas vezes durante o período Cretáceo (145 a 60 milhões de anos atrás), a era dos dinossauros, quando a Terra era quente, farta de vida e fértil.
Com a falta de oxigênio no mar, a matéria celular dos seres vivos foi preservada, e se formaram camadas ricas e muito escuras no subsolo marítimo. A presença de uma camada desse tipo em altas latitudes (no período Cretáceo, o local perfurado estava em outro ponto, a 60 graus sul) pode preencher uma lacuna importante na compreensão das causas de uma enorme mudança climática nos oceanos, ocorrida há quase cem milhões de anos.
Mudanças climáticas
O micropaleontólogo Brian Huber, um dos líderes da equipe, está entusiasmado com o achado e afirma que o estudo detalhado deste intervalo anóxico ajudará a resolver a controvérsia de mais de 40 anos sobre a causa dos eventos anóxicos em vários lugares do mundo.
“A teoria prevalecente sobre por que isso aconteceu é de que há 94 milhões de anos deve ter havido uma grande onda de atividades vulcânicas que emitiram na atmosfera vários elementos químicos como dióxido de carbono e outros contendo nutrientes para a produção de plânctons”, explica. “Com o combustível de nutrientes aumentando a produção de plânctons, o excesso de matéria orgânica dos plânctons depositou-se no solo oceânico, e assim o oxigênio próximo ao fundo esgotou-se devido ao processo de decaimento orgânico”.
O gás carbônico emitido pelos vulcões provavelmente causou um rápido aquecimento no planeta, mas isso nunca foi convincentemente comprovado, já que na maioria dos locais os sedimentos para estes estudos não são preservados o suficiente.
Quando em terra, Huber, juntamente com o geofísico Richard Hobbs, testarão essa ideia com as amostras recuperadas nas perfurações. Eles vão analisar os isótopos de oxigênio das foraminíferas, criaturas marinhas unicelulares cobertas por conchas cujas diferentes espécies viveram (e ainda vivem) em diferentes ambientes e períodos do planeta.
“Uma redução de 180/160 dos índices nas conchas indo da mais antiga para a mais jovem indicará o aquecimento crescente do oceano”, esclarece Huber. “Estes dados são importantes porque este aquecimento evidenciado somado a evidências do vulcanismo na mesma época permitirão aos cientistas confirmarem a causa do aquecimento”.
Próximos passos
Huber informa que a missão ainda precisa atingir algumas metas. “Se conseguirmos recuperar uma amostra de uma rocha vulcânica basáltica a 220 metros abaixo de onde estamos perfurando agora, alcançaremos o segundo maior objetivo dessa expedição. Nada mal, considerando que estamos na metade. Ainda temos mais 3 locais para perfurar após este. Tudo o que conseguirmos será só a cobertura do bolo”, completa.
Sobre o IODP
Formado por 23 países, o IODP é um programa internacional de pesquisas marinhas. A bordo do navio JOIDES Resolution, os cientistas do IODP realizam expedições de perfuração do subsolo marítimo para a retirada de amostras de sedimentos profundos. Com os materiais, realizam estudos que permitem a compreensão das principais ocorrências naturais no passado do planeta.
Desde 2013, o Brasil é membro do consórcio JOIDES Resolution e colabora com o IODP. A iniciativa brasileira é financiada pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).
As expedições do IODP seguem um plano científico de 10 anos, chamado “Iluminando o Passado, Presente e Futuro da Terra”.
Acompanhe o Diário de Bordo da Expedição IODP 369.
Leia também:
Diário 5 - Comunicação
Diário 4 - Rotina
Com informações de Cristiane Delfina, do IODP.
(Brasília – CCS/CAPES)
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