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Estudo de genes pode definir padrões de crises epiléticas
Bacharel em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL), Heloisa Matos, é mestre em Ciências da Saúde e finaliza seu doutorado na área pela mesma instituição.
Seus estudos tratam sobre as formas de controlar e tratar as crises causadas pela epilepsia, sobretudo nos casos em que existe um padrão de tempo para que estas ocorram. A pesquisa com genes pode oferecer algumas respostas.
Fale um pouco sobre o seu projeto de pesquisa.
A epilepsia é uma condição que atinge cerca de 1% da população mundial e é caracterizada pela presença de crises espontâneas e recorrentes. Aproximadamente 30% dos pacientes não responde ao tratamento medicamentoso. Apesar de não existir uma forma de detectar quando o paciente vai apresentar uma crise, estudos apontam que há horários do dia preferenciais para ocorrência dessas crises, de acordo com o tipo de epilepsia. Para melhor compreender este padrão temporal, estamos estudando o papel de genes responsáveis pelos ritmos biológicos (genes do relógio) no processo epileptogênico (processo em que um indivíduo normal se torna epiléptico).
Para isto, utilizamos modelos animais de epilepsia, técnicas de biologia molecular e avaliação comportamental. Recentemente, observamos que genes importantes do relógio molecular apresentam um funcionamento alterado no cérebro de ratos epilépticos. Esses achados possibilitaram a formulação de modelos explicativos para a ocorrência temporal das crises epilépticas e de abordagens terapêuticas baseadas na manipulação dos ritmos biológicos cerebrais. Neste contexto, propomos que intervenções controladas com sincronizadores de ritmos, tais como medicamentos, dietas, exercícios físicos, luz ou estímulos cognitivos, que possibilitem o alinhamento dos ritmos em diferentes regiões do cérebro, possam ser testados para o tratamento das crises.
Quais são as perguntas, hipóteses e dificuldades que permearam sua pesquisa?
A principal pergunta da pesquisa é: quais os mecanismos moleculares subjacentes à interação entre ritmos biológicos e epilepsia? Nossa hipótese é de que os genes do relógio e seus alvos apresentem um padrão oscilatório alterado no cérebro epiléptico. Temos investigado esta temática utilizando um modelo experimental de epilepsia e técnicas de ponta em biologia molecular.
A maior dificuldade é a dependência de insumos caros, em sua maioria importados, e que por esta razão demandam financiamento contínuo para que a pesquisa não atrase ou, até mesmo, não seja interrompida.
É importante salientar que, sem o investimento dos órgãos de fomento como a CAPES, não seria possível prosseguir com a pesquisa, tanto pelo investimento com bolsas para os estudantes, quanto aos projetos de pesquisa.
De onde veio o interesse pelo estudo dessa área?
Meu interesse surgiu durante o mestrado, quando começamos a estudar a relação entre ritmos circadianos e câncer. Neste período, analisamos o perfil circadiano da expressão de diferentes genes envolvidos com o câncer em células sanguíneas de indivíduos normais, caracterizando o padrão de oscilação desses genes ao longo do dia. Assim resolvi aplicar a experiência acumulada para investigar vias moleculares associadas ao padrão circadiano de ocorrência das crises epilépticas.
Qual a importância do seu estudo para a realidade brasileira? E no âmbito internacional?
Nós acreditamos que intervenções controladas com o uso de fármacos, dieta, exercícios físicos, luz ou estímulos cognitivos, possam promover o alinhamento dos ritmos em diferentes regiões do cérebro de um paciente e isso ser utilizado para o tratamento das crises epilépticas.
É importante salientar que, como muitos pacientes não respondem ao tratamento medicamentoso e as cirurgias para a diminuição das crises podem causar diversas consequências, além de nem sempre estarem aptos a serem operados, a busca por novos tratamentos é de extrema importância. Nosso estudo, mesmo na área básica, abre um leque de ideias para que novos projetos surjam com o objetivo de melhorar as condições dos pacientes portadores de epilepsia.
Em 2018, os dados obtidos a partir do meu projeto de doutorado foram publicados na revista Frontiers in Neurology. Além disso, em março, a Science Trend divulgou um artigo do professor Daniel Gitaí (coordenador do grupo de pesquisa) publicado na revista Neuroscience & Biobehavioral Reviews. Essas publicações aumentam a visibilidade internacional dos trabalhos realizados na nossa instituição.
Quais são os próximos passos?
Estamos agora investigando o potencial de sincronizadores externos, como a luz, no combate tanto da epileptogênese (terapia preventiva) quanto da epilepsia.
(Brasília–Redação CCS/CAPES
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