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Estudo analisa impacto das mudanças climáticas em pequenos mamíferos
Bruno Henrique de Castro Evaldt é graduado e mestre em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). Bolsista da CAPES, ele desenvolveu uma pesquisa sobre mudanças climáticas e seu impacto em mamíferos, entre eles, roedores e marsupiais nos biomas Mata Atlântica e Cerrado. O biólogo foi o primeiro da família a ingressar no ensino superior e, com bolsa da CAPES, conseguiu se dedicar à educação de forma integral.
Sobre o que é a sua pesquisa?
Roedores e marsupiais são dois grupos de pequenos mamíferos com muitas espécies e grande importância ecológica em todo o mundo. A Mata Atlântica e o Cerrado são dois biomas ricos em espécies, mas que, ao mesmo tempo, já se encontram bastante degradados e ameaçados pela atividade humana, sendo classificados como hotspots de biodiversidade. Até então, não havia pesquisas que investigaram, especificamente, o impacto das mudanças climáticas sobre os pequenos mamíferos nessas áreas de alta prioridade para a conservação.
Para preencher essa lacuna, utilizamos modelos computacionais conhecidos como ENM (Ecological Niche Modeling) para compreender como as condições climáticas atuais se relacionam com os dados de ocorrência das espécies, criando uma espécie de função matemática individualizada para cada espécie. Estas funções nos permitiram simular a distribuição das espécies sob diferentes cenários.
Como foi desenvolvido o seu estudo?
Aplicamos este modelo para estimar a distribuição atual das espécies, considerando que temos dados de ocorrência, mas não de distribuição total, e para projetar sua ocorrência no futuro, especificamente para o ano de 2070, em quatro cenários distintos de mudanças climáticas, os SSP (Shared Socio-Economic Pathways): SSP1-2.6 (o mais otimista), SSP2-4.5, SSP3-7.0 e SSP5-8.5 (o mais pessimista).
Com essas projeções, calculamos a área ocupada por cada espécie em cada cenário futuro. Utilizando o valor da área de cada espécie e em cada cenário, determinamos a proporção da área dos cenários futuros em relação à área atual. Se a área de uma espécie se mantém estável, a proporção seria 1; se perdesse área, seria menor que 1, podendo chegar a 0, indicando a ausência de áreas adequadas para a espécie; e se ganha área, a proporção seria maior que 1.
Além disso, empregamos essa proporção de área para inferir o potencial grau de ameaça das espécies no futuro, seguindo o critério A3 da Lista Vermelha da IUCN (International Union for Conservation of Nature, em inglês), União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais, em livre tradução, que estabelece que uma redução maior na área de ocorrência está associada a um maior grau de ameaça para a espécie.
O que você destacaria de mais relevante na sua pesquisa?
Os resultados do nosso estudo apontam para um cenário preocupante: a redução de habitats para as espécies de roedores e marsupiais nos biomas da Mata Atlântica e do Cerrado é uma tendência que se acentuará no futuro. Contudo, as consequências serão mais drásticas para as espécies do Cerrado, que enfrentarão uma perda de habitat mais significativa. Em contraste, as espécies da Mata Atlântica sofrerão impactos menos severos. Para as espécies que ocorrem em ambos os biomas, o impacto projetado é intermediário.
Independentemente do bioma, o estudo revela que, mesmo no cenário mais otimista, uma parcela das espécies analisadas estará sob algum grau de ameaça.
De que forma a sua pesquisa pode contribuir para a sociedade?
Este trabalho serve como um alerta para a sociedade sobre a ameaça que nossas ações representam para a biodiversidade. Ele destaca mais uma vez o impacto significativo que nossas atividades têm sobre o meio ambiente. Este estudo não é apenas um lembrete, mas também um apelo à ação, pois mostra que o dano pode ser mitigado dependendo das escolhas que fazemos como sociedade. A redução da emissão de gases de efeito estufa que nós mesmos produzimos é crucial e pode, de fato, atenuar os efeitos das mudanças climáticas na biodiversidade.
Citando meu orientador Yuri Leite: “Esse estudo serve como um chamado urgente para ação na conservação da biodiversidade. Com ecossistemas em risco, é imperativo que abordemos coletivamente as causas subjacentes das mudanças climáticas e trabalhemos em soluções sustentáveis para proteger a preciosa biodiversidade de nosso planeta”.
De que forma a CAPES contribuiu para a sua formação?
A bolsa concedida pela CAPES foi imprescindível para a minha permanência na universidade. A bolsa me acompanhou ao longo de todo o período. Minha origem humilde e o fato de ser o primeiro da minha família a ingressar no ensino superior reforçam a convicção de que, sem esse apoio financeiro, não teria sido possível dedicar-me integralmente à minha formação com a qualidade que almejei. Especialmente durante a pandemia, um período de desafios sem precedentes, a bolsa da CAPES foi mais do que um auxílio financeiro; foi um suporte que me permitiu manter o foco na conclusão do meu mestrado.
Sou profundamente grato à CAPES por ter proporcionado essa oportunidade transformadora, que não apenas enriqueceu meu conhecimento e habilidades, mas também abriu portas para o futuro que almejo construir. A bolsa foi, para mim, um investimento no potencial humano e uma demonstração clara de que, com oportunidades iguais, podemos alcançar nossos sonhos mais ambiciosos.
A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) é um órgão vinculado ao Ministério da Educação (MEC).
(Brasília – Redação CGCOM/CAPES)
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