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Espaço teatral é inspirado em arte de pesca da Amazônia
Walter Chile Rodrigues Lima é educador artístico e possui boa parte da sua trajetória acadêmica ligada à Universidade Federal do Pará (UFPA). Bolsista da CAPES pelo Programa de Pós-Graduação em Estudos Culturais da Universidade de Aveiro, em Portugal, ele projetou um novo espaço dramatúrgico. O projeto do Teatro Cacuri é inspirado na arte de pesca e na cultura amazônica.
Fale sobre a sua pesquisa.
A minha pesquisa articula os saberes tradicionais com os artísticos, tendo como base teórica os estudos culturais e o pensamento decolonial. Ela gerou um produto denominado de Projeto Teatro Cacuri, um modelo nativo de teatro orgânico, performativo, e que deverá ser operado como uma extensão do corpo do cenotécnico, tal qual acontece na arte da pesca. Com este artefato cênico estamos propondo uma tipologia de teatro para a cultura Amazônica. As tipologias são os modelos arquitetônicos de teatro. Propusemos então um modelo nativo pois compreendemos que, se as culturas hegemônicas puderam ter uma tipologia teatral própria, as culturas não hegemônicas, como a amazônica, também têm esse direito.
Quais foram os objetivos da sua pesquisa?
Nos propusemos a criar o projeto de cinco traquitanas cênicas, que são artefatos ou maquinários, para o Projeto Teatro Cacuri, a partir da articulação dos saberes tradicionais da pesca praticada no Norte do Brasil e no Norte e Centro-Sul de Portugal, de modo a contribuir para a decolonização do cenotécnico. O cenotécnico é o profissional braçal da cena.
O que ela traz de benefício para a sociedade?
Procuramos refletir e cuidar do Brasil e do mundo pela Amazônia. Consideramos que o Teatro Cacuri, uma vez materializado, poderá contribuir para o desenvolvimento das artes cênicas não somente da Amazônia, mas do restante do Brasil. Acreditamos que o projeto do espaço é um dispositivo capaz de aproximar o fazer em artes cênicas, ainda mais, das nossas raízes indígenas e africanas. Acredito que com uma tipologia nativa podemos dar um passo significativo no processo de decolonização da cultura amazônica e brasileira.
Quais foram os resultados da sua tese?
Como resultado, a pesquisa traz o projeto de um novo espaço dramatúrgico, no qual traquitanas cênicas da arquitetura teatral são elaboradas para visibilizar múltiplos sujeitos da cena. Usando tecnologia de projeto e vídeo, a pesquisa apresenta ainda a modulação de uma maquete, em 3D, do Teatro Cacuri, inspirado nas artes de pesca típicas da Amazônia. Nela, uma estrutura circular e uma reta são utilizadas de modo estratégico para capturar os peixes pelas forças das correntes de maré. Com o Projeto Teatro Cacuri tivemos a ousadia de propor uma tipologia nativa, mais conectada com o fazer dos nossos ancestrais indígenas e negros.
O que ela traz de diferente do que já foi abordado na literatura?
A articulação de saberes formulados por culturas de base oral com saberes provenientes das culturas letradas. Identificamos, nos estudos teatrais, que diversas culturas criaram tipologias de teatros e desenvolveram modos de fazer cênicos próprios. Além disso, verificamos a ausência de tipologia de teatro nativa na formação da cultura amazônica. Ela propõe também uma metodologia de pesquisa e ensino de arte, denominada Cacuri, que é fruto da articulação de saberes artísticos com saberes tradicionais, tendo como base teórica os estudos culturais e a perspectiva decolonial.
Como a CAPES influenciou a sua pesquisa?
Sem os incentivos da Fundação não teríamos realizado um estudo desta dimensão.
Quais os reconhecimentos que o projeto recebeu?
Intitulada “Traquitanas cênicas – saberes teatrais e artes de pesca: A decolonização do cenotécnico no Teatro Cacuri”, a minha tese foi a vencedora da sétima edição do Prêmio Professor Benedito Nunes, da Universidade Federal do Pará (UFPA), que, a cada dois anos, premia teses nas áreas de Letras e Comunicação (ILC), de Ciências da Arte (ICA) e de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Instituição. Além disso, o estudo recebeu menção honrosa no Prêmio Internacional Virgínia Quaresma, que valoriza os Estudos Culturais, e foi promovida pela Universidade de Aveiro (UA/PT).
*Nota da redação: “A expressão decolonial não pode ser confundida com ‘descolonização’. Em termos históricos e temporais, esta última indica uma superação do colonialismo; por seu turno, a ideia de decolonialidade indica exatamente o contrário e procura transcender a colonialidade, a face obscura da modernidade, que permanece operando ainda nos dias de hoje em um padrão mundial de poder. Trata-se de uma elaboração cunhada pelo grupo Modernidade/Colonialidade que pretende inserir a América Latina (...) no debate pós-colonial, muitas vezes criticado por um excesso de culturalismo e mesmo eurocentrismo devido à influência pós-estrutural e pós-moderna.” – Luciana Ballestrin, professora-
Legenda das imagens:
Imagem 1:
Maquete, em 3D, do Teatro Cacuri, inspirado nas artes de pesca típicas da Amazônia
(Foto: Arquivo pessoal)
Imagem 2:
Walter Chile Rodrigues Lima, Bolsista da CAPES pelo Programa de Pós-Graduação em Estudos Culturais da Universidade de Aveiro, em Portugal - UA/PT
(Foto: Arquivo pessoal)
Imagem 3:
Projeto Teatro Cacuri (Foto: Arquivo pessoal)
A CAPES é um órgão vinculado ao Ministério da Educação (MEC).
(Brasília – Redação CCS/CAPES)
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