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Entrevista com Livio Amaral, diretor de Avaliação da Capes
Desde abril de 2009, a Diretoria de Avaliação da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) é dirigida pelo físico Livio Amaral, professor titular da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
A história de Livio Amaral com a Capes começa em 1995, quando o professor passou a integrar a Comissão de Consultores Científicos da Capes na área de Física e Astronomia. Nos últimos anos, Amaral participou como membro do Conselho Técnico Científico do Ensino Superior e do Comitê Assessor Especial da Diretoria de Relações Internacionais, além de Coordenador da Área de Materiais.
A Diretoria de Avaliação (DAV) é responsável pelo Sistema de Avaliação da Pós-Graduação, implantado em 1976 e que cumpre papel fundamental para o desenvolvimento da pós-graduação e da pesquisa científica e tecnológica no Brasil.
Hoje é o último dia da participação dos consultores na avaliação trienal. Qual a análise do senhor a respeito da Avaliação Trienal 2010?
A avaliação incluiu cerca de 900 consultores que trabalharam sobre os 2.900 programas de pós-graduação distribuídos em 46 áreas do conhecimento. Esse processo de quatro semanas, um trabalho de muita dedicação e de muita demanda aos consultores, constitui esse processo que de algum modo é único no mundo. Não existe processo dessa forma e com essa abrangência em nenhum outro país.
A avaliação da pós-graduação é um processo que mobiliza por diversos dias centenas de consultores da área acadêmica. Como são e quando começam os preparativos para a Avaliação?
Na verdade o processo de avaliação é continuado. A cada ano os programas de pós-graduação, por meio do aplicativo Coleta Capes, devem prestar informações à Capes. Essas informações são trabalhadas ao longo do ano. Nesse sentido, não se pode precisar quando começa exatamente o processo de Avaliação. Trata-se de um todo, um contínuo de procedimentos e de momentos de avaliação. Especificamente, o momento da operacionalização da avaliação trienal começou no início deste ano. A avaliação é um processo que envolve não apenas a Diretoria de Avaliação, mas também muito fortemente a Diretoria de Gestão e o Gabinete da Presidência da Capes.
O senhor já participou de outras avaliações como consultor da Capes. O que a avaliação deste ano teve de diferente em relação às avaliações de outros anos?
Eu participei de outras avaliações na condição de membro de comissão, coordenador de área e como membro do Conselho Técnico Científico da Capes. Os cinco grandes eixos de avaliação são: proposta do programa; corpo docente; corpo discente, teses e dissertações; produção intelectual e inserção social. As avaliações destes eixos estão descritos nos respectivos documentos de área. Mas a cada nova avaliação, em função dos aprendizados de cada processo, esses cinco eixos são atualizados, modificados e aprimorados. O que eu destacaria como novidade neste ano é que na produção intelectual, nós estamos fazendo avaliação de livros, o que em muitas áreas é a principal forma de expressar o trabalho intelectual desenvolvido por alunos e professores. Nesta trienal, os livros pela primeira vez estão sendo analisados de um modo mais sistemático e comum em várias áreas do conhecimento.
Também é importante destacar que, dado ao fato que este ano temos a nova sede da Capes, o espaço que se tem aqui trouxe dois importantes pontos: o primeiro, o enorme conforto físico e ambiental, algo que tem sido bastante destacado por diferentes consultores; e o segundo, que a possibilidade de fazer toda a avaliação no mesmo espaço, coisa que nem sempre ocorreu em trienais anteriores, criou uma maior integração e oportunidade de interação entre consultores de diferentes áreas, o que leva a uma maior homogeneidade do processo.
Quais são os maiores desafios ao avaliar os cursos de pós-graduação?
O maior desafio é sempre contemplar dois aspectos. O primeiro, adequar os instrumentos de modo a expressar ao final da avaliação a qualidade e a qualificação dos nossos programas de pós-graduação. O segundo, conseguir avaliar por uma mesma sistemática e mesmos instrumentos todas as áreas de conhecimento em um só momento.
Qual a missão mais importante da Avaliação?
A avaliação cumpre o papel de analisar profundamente o panorama dos programas de pós-graduação no Brasil, e assim atestar a qualidade dos cursos e acompanhar a qualificação dos mesmos. A partir da avaliação obtêm-se elementos e indicadores que permitem induzir e fomentar ações governamentais de apoio à pós-graduação brasileira. Como resultado podemos fazer adequações para avançar científica e tecnologicamente e desenvolver corretamente o país, como por exemplo promover programas específicos para diminuir as assimetrias entre regiões do Brasil ou intra e inter áreas do conhecimento.
Quais as lições que a avaliação deste ano trouxe? O que senhor prevê para o futuro do processo de avaliação da pós-graduação?
Há um entendimento da comunidade científica de que são necessárias algumas mudanças no processo de avaliação. Agora, ao final desta etapa, temos elementos para realizá-las. Pelo próprio crescimento da pós-graduação, em número de cursos, professores, alunos e trabalhos, cada vez mais fica difícil a capacidade de operar todo esse sistema da maneira como fazemos até então. Portanto, com o resultado da avaliação, teremos elementos para debater junto à comunidade acadêmica, mudanças nesse processo. Seja quanto ao período da avaliação, seja quanto à forma de avaliar cursos que já estão consolidados há bastante tempo no sistema. Esse debate já está em parte sendo feita na discussão do novo Plano Nacional de Pós-Graduação (PNPG).