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Entrevista com Arlindo Philippi Jr., coordenador da área interdisciplinar
O coordenador da área interdisciplinar da Capes, Arlindo Philippi Jr., fala sobre a 4ª edição da Reunião Nacional de Coordenadores de Programas de Pós-Graduação Interdisciplinares (ReCoPI) e dos avanços da área ao longo de uma década de existência.
Arlindo Philippi Jr. é engenheiro civil, sanitarista e de segurança do trabalho. É mestre em Saúde Pública e doutor em Saúde Ambiental pela Universidade de São Paulo (USP), professor titular do Departamento de Saúde Ambiental e pró-reitor adjunto de Pós-Graduação da mesma universidade.
Veja abaixo a íntegra da entrevista:
Qual a importância da ReCoPI, que este ano chega à sua 4ª edição?
No momento em que a área comemora dez anos, a Recopi é um momento importante de análise e de avaliação dos resultados atingidos até aqui. Entendemos que o desenvolvimento dos processos do sistema de avaliação tem permitido avançar na qualidade dos programas. Em cada uma dessas reuniões nós trabalhamos questões e reflexões relacionadas à multidisciplinaridade e interdisciplinaridade enquanto processo, método e concepção do trabalho.
Fale um pouco das outras três edições. Que contribuições elas deixaram para a coordenação da área Interdisciplinar?
Posso falar mais da segunda e da terceira edição. Na segunda ReCoPI realizamos uma pesquisa com os programas de pós-graduação utilizando o método Swot, pelo qual são identificados pontos fracos, fortes, ameaças e oportunidades para definirmos como atuar. Como resultado, fizemos taxonomia, publicamos artigo e utilizamos o levantamento como base para as discussões da 3ª ReCoPI. Todas as contribuições foram encaminhadas como sugestão para a Capes e para todos os programas de pós-graduação, sejam da área ou fora da área.
A área Interdisciplinar completa dez anos. Quais os principais avanços o senhor destacaria na área?
O documento de área mais amplo e aperfeiçoado. Como resultado das duas últimas avaliações trienais, conseguimos criar transparência e reunir um conjunto de informações para nossa área para que a comunidade entenda o que é um curso da área interdisciplinar, quais são os parâmetros de avaliação. Conseguimos ter um Qualis periódico mais aperfeiçoado, criamos e aplicamos o sistema de classificação de livros. O mais importante é que os programas tenham clareza do que é importante para o aplicativo de cursos novos (APCN) e também para a Avaliação Trienal. Neste período, a qualidade dos programas avançou e o número de cursos com notas 5 e 6 vem crescendo sistematicamente.
A área interdisciplinar é a que mais cresce com relação às outras áreas do conhecimento. Que fatores estimulam esse crescimento?
A questão interdisciplinar está em foco no sistema científico internacional para que se avance no conhecimento e na inovação. A nossa comunidade científica tem buscado interagir com outras áreas do conhecimento e, a partir daí, as pró-reitorias têm estimulado que sejam encaminhadas propostas de programas interdisciplinares. Também têm ampliado apoio que não havia há dez anos, por exemplo.
Outro fator é o crescimento do sistema universitário no Brasil, que tem aumentado em razão da política de expansão das universidades federais e estaduais. Este fator leva à contratação de professores doutores que se especializam e formam jovens que passam a entender a necessidade da interlocução com outras áreas e acabam por apresentar propostas de programas para a área interdisciplinar. Ao prepararem uma proposta, eles próprios já possuem capacidade para analisar se são áreas que buscam a multidisciplinaridade.
A expansão do sistema universitário se alinha ao fato de que existem certas áreas estratégicas para o desenvolvimento brasileiro que precisam ser inseridas nas linhas de produção do conhecimento. No Brasil, essas áreas têm recebido financiamento das agências como o CNPq, Capes, FAPs. No caso específico da Capes, podemos citar programas como Ciências do Mar. A demanda das áreas estratégicas faz com que surjam propostas de programas que não existiriam em outras circunstâncias.
Como o senhor vê as críticas ao crescimento da área?
Vejo como não querer que uma criança cresça. É importante entender: se a área está crescendo, qual é a causa? O crescimento deve ser visto pelo lado positivo, pois é fruto da inquietude de mentes que refletem e apresentam propostas que não encontram espaço em outras áreas. É importante ressaltar que o crescimento da área permite que avaliemos e façamos correções de rumo. A avaliação cuidadosa permite que o crescimento seja acompanhado, mas não cerceado. Quando não aprovamos um curso, especificamos onde a proposta é falha para dar um direcionamento do que é preciso ser feito. O aperfeiçoamento das propostas e da área é gradual e contínuo.
Este ano foi realizada a Avaliação Trienal, que ainda está em fase de análise dos recursos. Como coordenador, fale um pouco de como foi avaliação dos programas.
A Avaliação Trienal ocorreu bem. Avaliamos 205 programas em uma semana, com a presença de 60 consultores que trabalharam das 8h às 21h. Avançamos nas notas e, durante o processo, olhou-se com bastante critério os programas que teriam condição de continuar com seus conceitos. Observamos, principalmente, a questão de foco e a falta de apoio institucional. Com relação às outras áreas, a interdisciplinar foi a que teve a maior taxa de notas reduzidas.
Há metas para a área interdisciplinar para os próximos anos? A expansão da Interdisciplinar pode gerar novas áreas do conhecimento?
Poderá sim surgir novas áreas ao longo do tempo, voltadas, por exemplo, a questões da biodiversidade. Foi assim que surgiram as áreas de biotecnologia e de matérias.
Como metas, temos como perspectiva de trabalho o contínuo aperfeiçoamento e qualificação. Pretendemos realizar seminários e workshops na Capes e nas regiões com temáticas que envolvem a multidisciplinaridade e interdisciplinaridade como concepção de método de produção de conhecimento no país. A partir do momento que isso acontece, a interdisciplinaridade será adotada pelas universidades dentro e fora da área.
O próximo período será essencial para que o conjunto de sistemas da avaliação seja aperfeiçoado. Temos, além do Qualis Periódicos, que aperfeiçoar a classificação de livros, o sistema de avaliação de eventos e da produção técnica e tecnológica dos programas de pós-graduação como patentes, processos produtivos etc.
Outra meta importantíssima é ter como produto recursos humanos qualificados e classificados com perfil diferente daqueles tradicionais. Esse novo perfil entende que o trabalho multi e interdisciplinar deve fazer parte da universidade. Esses profissionais devem entender a complexidade do mundo moderno, identificando de forma precisa as áreas certas para atender as questões.